Caroline:
Estávamos nos beijando, até que alguém começou a bater compulsivamente na porta.
– Cacete! Será que nos viram?
– Por que você está sussurrando, Little L.?
– Porque se não nos viram, ainda temos uma chance.
– Qual é o seu problema em ser vista comigo?
– Quem sabe nós falamos disso depois que a pessoa, que ainda não parou de bater na porta, entrar?
Justin me fuzilou com os olhos. Sentei em um dos sofás e ele abriu a porta. Era Michael.
– Ah, vocês estão aí! Vocês por acaso sabem onde Trace se me meteu? Eu realmente preciso falar com ele sobre um probleminha.
– Não pode ser conosco?
– Na verdade, lembra do local onde Trace queria lançar o desfile? Está ocupado.
– Michele por acaso falou para eles quem somos?
– Sim. E mesmo assim, não há nada que possamos fazer, precisamos de um novo local. Ou novo conceito.
– Merda. Vamos falar com Michele.
– Fui te buscar hoje de manhã, mas seu Gabreel disse que você já tinha saído.
– Nós não combinamos nada e, como era meu primeiro dia, não podia chegar atrasada, saí cedo.
Justin me encarou e depois saiu caminhando, Michael e eu caminhávamos apressados para segui-lo. Realmente estávamos com problemas na WR e eu sentia que minha postura de ‘ninguém pode nos ver’ contribuía para a ruguinha que ele carregava na testa. Só que se a revista soubesse que eu estava de casinho com Justin, mesmo que antes da matéria começar, nossos privilégios de estarmos cobrindo esse evento e todos os próximos seriam creditados a eu ser uma vadia que está ficando com ele. Céus!
Chegamos até onde Michele estava.
– Justin, que surpresa te ter aqui! Eu estive morrendo de saudades suas.
Ela era ruiva, com cabelos cacheados e olhos castanhos. Usava uma saia preta, muito curta para o trabalho e uma camisa, que por ‘descuido’ estava com os botões de cima abertos. Encarava-o com cara de predadora e eu não estava gostando nada nada disso.
– Qual a situação com o local do desfile?
– Caótica. Eu fiz tudo que podia, até mencionei esses seus olhos lindos e tudo que Timberlake, Ayala, WR representam, mas nem assim.
– Ok.
– Você já almoçou?
Ela falava com ele como se tanto eu quanto Michael não existíssemos. Pare de ser implicante, Caroline!
– Na verdade já, obrigado.
Saímos da sala e Michael sorriu para mim, como um acalme-se.
– Seus funcionários são muito amorosos. Será que ela viu que eu e Michael estávamos na sala também?
Justin, que até então estava com a cara fechada, sorriu.
– Ah Caroline...
_______________________________________________________________ Justin:
Caroline foi para longe de mim para que eu abrisse a porta e qualquer possibilidade de sermos vistos juntos fosse jogada fora. Qual o problema de sermos vistos juntos, quem provavelmente mais sofreria com a mídia e teria que explicar 12 mil vezes por qual razão o namoro acabou seria eu. Era Michael. Que, além de atrapalhar, trazia O problema.
Como assim perdemos a locação?! Nós tínhamos um conceito pronto para o lançamento, agora era apenas executar. Conheço Trace o suficiente para saber que teremos que reinventar tudo. “Se alguma coisa dá errado assim, é sinal de que não devia ser, peguemos esse obstáculo e transformemos em motivação para nos superarmos”. Já consigo imaginá-lo falando.
Fomos até a sala de Michele, para saber exatamente o que tinha acontecido e se REALMENTE não tinha mais nada que pudéssemos fazer. Ela era uma garota muito expansiva e até já tivemos alguns ‘probleminhas’ no passado, mas cada vez que nos encontramos fica essa situação estranha em que ela acha que estamos nos paquerando quando na verdade não é nada disso. Ao sairmos da sala, Caroline lança:
“Seus funcionários são muito amorosos. Será que ela viu que eu e Michael estávamos na sala também?”
Mesmo com todos os problemas, tive que rir.
– Não seja possessiva, Little L.
– Realista?
A encarei e ela sorriu. Era bom aproveitar os últimos momentos de paz, antes que Trace soubesse da notícia. Chamei a equipe criativa, alguns assistentes e contei a notícia. Todos se encaravam com expressão de ‘Caramba!’, enquanto Caroline anotava algumas coisas compulsivamente. Chamamos Trace.
– Eu deveria ficar preocupado, já que falta apenas uma semana para o lançamento da coleção, eu sei, mas, ao invés disso, vamos encarar como um desafio, de fazer o melhor show possível.
Todos riram, já era esperado que Trace e seu misticismo fossem dizer isso.
– Eu não entendi do que vocês estão rindo.
– Todos, sem exceções esperávamos que você fosse dizer isso. É uma chance de fazer melhor.
– E eu estou errado, Justin?
– Claro que não, estou fazendo apenas uma constatação, calma moça.
Trace me atirou um beijo.
– É que você me tira do sério, Mr. Timberlake. (todos riram mais uma vez) Agora vamos falar sério, se vamos realmente encarar esse desafio, preciso do máximo empenho de todos, tanto criativo quanto se mexer para fazer as coisas. Vai ser complicado, temos apenas 7 dias para recriar tudo, mas tenho certeza que somos capazes. Sendo assim, trinta minutos para pesquisarem ideias para o novo conceito.
Todos dispersaram, até ficarmos Trace, Caroline, Michael e eu.
– Uau, vocês realmente sabem como dar uma matéria interessante! Recriar tudo em uma semana? Trace, eu te amo.
– É bom você estar aqui, porque ou relatará um sucesso, ou um fracasso, sem meio termo.
– Ninguém gosta de meio termo.
Caroline me encarou e sorri.
– Então, vamos almoçar?
– Eu não vou comer mais!
– Como assim, Caroline?
– Depois do que eu vi aqui hoje, não quero comer nunca mais! Essas meninas são tão magras e perfeitas. E com ossinhos lindos. Estou em greve de fome.
Nós três a encaramos, ela não podia estar falando sério.
– É sério, gente.
Continuamos encarando-a.
– Vocês não têm trabalho pra fazer não?
Ela tinha tocado no ponto fraco, Michael e Trace dispersaram e continuei encarando-a. Caroline revirou os olhos e me mandou um beijo. Todos sentamos novamente e começamos a falar da tal ‘ideia’.
– Nós precisamos de algo inovador...
– No pouco tempo em que estive aqui, vocês me mostraram um jeito nada comum de organizar e pensar na WR, o desfile precisa mostrar isso para o mundo e para
ter algo diferente de todos os outros desfiles e isso não é apenas em termos de peças e modelos, de estrutura, de ideia.
Quando percebeu que tinha dito em voz alta, Caroline corou.
– Desculpa, gente. Ainda sou iniciante nessa coisa de cobrir eventos e esqueço que não posso me meter.
A encaramos. Como podia estar pedindo desculpas por ajudar? Ela tinha razão e eu já sabia até mesmo com o que poderíamos complementar...
– Essa mania de ficarem me encarando está se tornando um pouco, digamos, insuportável.
– Você é demais, Caroline!
Caroline olhou para Trace e sorriu.
– Exatamente. Seguindo a ideia de minha Little L., vocês estão cansados de saber que eu pertenço ao mundo da música. E, que cada vez mais, música e moda andam juntas. Já que vamos mudar tudo, por que não colocar algum elemento musical, como um show, rolando durante o desfile? O próprio cantor, vestido de WR, no meio das modelos, curtindo, vendendo a ideia da coleção.
– Olha só, Justin sabe pensar!
– Obrigado, Trace. Isso seria ótimo, faria com que o pessoal que está assistindo tivesse um ótimo momento,
– Ter um ótimo momento! É isso que eu vejo transbordar nesse prédio, desde que cheguei. Vocês se divertem tanto aqui, cada tarefa parece mais uma reunião de amigos. É esse espírito que vocês precisam levar para fora dessas paredes, para os consumidores da marca.
– Nós podíamos fazer uma festa! A coleção possui um ar sofisticado ao mesmo tempo em que é descolada, festeira! Vamos levar nossos convidados até esse ambiente.
– Vocês achariam muita loucura se eu sugerisse um tema, para todos os convidados já começassem o desfile, sabendo que não será um simples desfile e sim O evento?
– Eu sinceramente AMEI essa ideia, Little L.
– Branco e preto!
– Seja mais específico, Trace.
– Eu me inspirei muito nesse tema enquanto estava criando, não em termos de cores, mas de conceito. Essa coisa meio certinha e cheia de glamour, contrastando com segredos, sensualidade e a vontade de aproveitar a vida. Nós devíamos dar um baile branco e preto, após o desfile.
– É isso, encontramos nossa ideia! Caroline? Michael?
– Legal, embora eu não consiga entender como vocês chegaram aí.
– Eu simplesmente amei! Sempre quis ir a um baile desses!
Você vai. Comigo! Michael sorriu na direção dela e disse:
– Você só precisa escolher o cavalheiro que a levará, bela dama.
Engraçadinho! Ela não vai escolher nada! Ela riu, sem graça e Trace começou a falar sem parar sobre ideias, cores, efeitos. Michael tinha ido resolver outros problemas e ficamos nós três. Algum tempo depois, Caroline me mandou uma mensagem.
“Estou com fome! Vocês não fazem pausa para o lanche nessa empresa?”
“Você não tinha entrado em greve de fome?”
“Entrei. Por duas horas, mas pensar cansa. Vamos?”
“Você está me convidando para um almoço?”
“Estou dizendo que estou com fome. Se te convidar me fará sair daqui, ok, que seja.”
“Você vai precisar ser mais gentil...”
“Então nós vamos morrer de fome.”
“Tente, Little L.”
“PARA DE SER MULHERZINHA E VAMOS DE UMA VEZ!”
“E Michael achando que você é uma bela dama! Como se ilude!”
Caroline me jogou uma bolinha de papel, joguei outra em sua direção. Trace, que até então estava de costas, se virou.
– O que vocês estão fazendo? Vamos parar com a brincadeira, Justin.
Ela sorriu e disse:
– É JUSTIN!
–Por que você não briga com Caroline?
– Porque ela não está fazendo nada além de nos ajudar!
Ela sorriu sarcasticamente para mim.
– Cara, você tem noção de que horas são? Nós já temos a ideia, vamos almoçar!
– Você está com fome, Caroline?
– Muita, Trace.
– Agora que as duas BFFs pararam, nós podemos ir?
Entramos no elevador. No andar de baixo, entra Michele.
– Mas olha só que surpresa! Duas vezes em um só dia? É muita sorte a minha!
Michele encostou em meu ombro e, forçadamente, se enfiou entre Caroline e eu.
– Onde vocês estão indo?
– Almoçar.
–Você me disse que já tinha almoçado, seu safadinho.
– Estava ocupado, Michele.
– Sem problemas, nós marcamos um jantar outro dia. É mais propício.
Espiei Caroline pelo espelho do elevador e podia vê-la revirando os olhos, isso era engraçado.
_______________________________________________________________ Caroline:
. Eu não estava sendo psicopata, essa garota realmente estava extrapolando todos os limites! Ela praticamente me jogou para fora do elevador para ficar ao lado dele, socorro!
–Você me disse que já tinha almoçado, seu safadinho.
– Estava ocupado, Michele.
Justin estava sendo frio e isso provavelmente estava acontecendo porque eu estava ali, mas que era divertido, ah, isso era.
– Sem problemas, nós marcamos um jantar outro dia. É mais propício.
M-A-I-S-P-R-O-P-Í-C-I-O-! Em que mundo as pessoas conseguem ser assim tão fáceis? Já me sinto completamente ridícula pelo fato de sentir ciúmes, imagina falando uma coisa assim. Na verdade não é ciúmes! Sei lá.
O elevador abriu. Ele pegou minha mão e me puxou.
– Finalmente! Vamos comer?
– Vá com Michele.
Não. Não. Não. Eu não disse isso. Acabei de fazer uma ceninha.
NÃÃÃÃÃO! Justin chegou perto do meu ouvido e sussurrou: “Está com ciúmes Little L.?”.
