Justin:
Quando levantei minha cabeça do travesseiro parecia que ela ia explodir. Fui até o espelho e meu rosto estava inchado, com alguns cortes. Aos poucos fui me lembrando do que havia acontecido na noite anterior. Como será que está Caroline? Em cima de meu piano estava uma caixa de remédios etiquetados e um bilhete. E, ao lado deles, minha mãe, com cara de pânico.
– Filho, o que aconteceu com você?
– Poxa mãe, de onde você surgiu?
– Eu perguntei primeiro. E olhe essa boca para falar comigo!
– Desculpe. Bem mãe, bebi demais, me meti em uma briga por causa de uma garota... Ah, também acabei com Jess, ela e George estavam juntos esse tempo todo.
– Meu Deus filho, não era disso que eu estava falando, mas por que você não me ligou?
– Foi tudo muito recente, mas se não era disso, do que você estava falando?
– O que aconteceu com você pra ser um cafajeste com aquela garota? Você a magoou, Justin.
– Que garota, mãe?
– A do bilhete, Caroline.
Caroline tinha me deixado um bilhete e minha mãe tinha lido antes de mim, ótimo!
– Que mania insuportável de ler as coisas.
– Eu cheguei, encontrei uma cesta de medicamentos no seu piano. Qual mãe não leria? Mas agora leia você.
“Justin, sinto muito por ontem e por tudo que nos trouxe nessa situação. Só queria deixar claro que você não tinha que me levar a nenhum lugar porque achava que era sua obrigação, eu não esperava nada de você, muito menos de nós. Provavelmente você não vá lembrar, mas fui eu que te trouxe pra casa e que cuidei dessa sua cara ordinária (não podia deixar sem um insulto, desculpe, você sabe que merece), seus remédios estão do lado da cama com as etiquetas, você também tomou banho. E não se sinta responsável por tudo, ter ido te salvar mais uma vez é um mérito só meu, eu deveria ter me escutado ao invés de escutar você... Na verdade, toda essa baboseira é pra te dizer que, a partir desse momento, nós não nos conhecemos, sou apenas sua vizinha e você nem sabe o meu nome. Eu também estarei fingindo e você acaba de voltar para o lugar do qual nunca deveria ter saído, minha estante, na capa dos meus discos preferidos. Fique tranquilo, essa história está enterrada. Só, por favor, não faça mais coisas estúpidas, como não te conheço mais, não posso te resgatar.
Não vou agradecer pela dose de adrenalina desnecessária que foram os últimos dias, muito menos me despedir, uma história que não começou não precisa de fim.
Qualquer dúvida em relação aos remédios, e só quanto a isso, me ligue.
Pela última vez, Caroline” – O que você fez para essa garota? Encontrei com Michael e ele me disse que ultimamente você tem saído e bebido demais e que essa pobre garota está sempre te resgatando, você virou alcoólatra agora?
– Mãe?
– É sério, Justin, não foi assim que eu te criei! E por que você fica recorrendo à Caroline se não quer nada sério com ela? Ser sua fã não significa que ela é obrigada a cuidar de você, estou envergonhada, você não é assim.
– Calma mãe, não é nada do que parece. Vamos tomar um café e eu te explico.
– Tudo bem, mas se eu fosse você pegava seus óculos escuros, porque a situação do seu roso está horrível!
Minha mãe estava furiosa e defendendo Caroline sem nem conhecê-la. Eu estava inquieto com aquele bilhete, mesmo que sem querer, tinha sido o maior idiota do mundo com Caroline enquanto, mesmo ao se despedir, ela ainda se preocupava comigo, pedindo para que eu me cuide. Só, por mais que eu queira respeitar sua vontade, será que conseguiria fingir que ela não existe? É praticamente impossível deixar ir a melhor coisa que, no meio de tanta bagunça, te acontece. Será que ela vai fingir mesmo que não me conhece quando me ver?
Ao sair de meu apartamento percebo que a resposta é sim. Ela e Michael estão saindo do 805. Passaram a noite juntos?! Eu vou matar esse imbecil! Queria tirar o braço dela do dele e colocá-los, no mínimo, a uns quatro andares de distância. Tentei não reparar, mas ela estava linda, nada parecida com alguém que tivesse passado por tudo que passamos ontem, com uma camiseta clara cheia de brilhos, um short de cintura mais alta bege, um blazer e saltos da mesma cor do short, além de um cinto dourado.
– Michael? Que coincidência!
– Pois é, Lynn, tudo bem com você desde que nos encontramos hoje cedo?
– Estou ótima, tirando algumas coisas que Justin precisa me contar.
– Que namorada bonita você tem. Não vai me apresentar?
– Ela não é minha namorada, essa é...
– Caroline. Muito prazer.
– Caroline? A do bilhete?
Caroline corou rapidamente.
– A senhora leu? Pois então, a própria.
______________________________________________________________________
Caroline:
– Bom dia, linda.
Acordei morrendo de dor de cabeça e ao olhar para o lado dei de cara com Michael e uma bandeja de café daquelas que a gente só acha que existe em filmes.
– Eu já cheguei a comentar que você é um anjo?
– Já, mas eu adoro ouvir.
Joguei uma almofada nele e abri espaço em minhas cobertas.
– Senta aqui comigo, Michael, vamos tomar café juntos.
– Ok. Posso usar seu banheiro depois?
– Depois desse café? Você pode ME usar, se quiser.
– Ótimo! As pessoas começariam a te tratar melhor se soubessem do que você é disposta a oferecer...
– Engraçadinho.
Tomamos nosso café juntos e cada vez mais eu me divertia com ele. Depois do café, tomei um bom banho e me arrumei de forma impecável, completamente diferente do caos em que estava por dentro.
– ANDA MICHAEL!!!
– Ai, já estou pronto!
– Nunca vi demorar tanto, parece uma noivinha...
– Enquanto a senhorita estava se maquiando eu estava lavando a sua louça.
– OMG, você quer casar comigo?
Michael riu e me deu o braço. Quando saímos, com quem dou de cara? Exatamente. Acho que preciso começar a cogitar a hipótese de me mudar. Ele ainda estava com sua mãe.
Lynn foi muito simpática comigo, então perguntou se eu era a namorada de Michael. Eu ri, Justin, quase que imperceptivelmente, bufou e Michael me apresentou. Quando ela descobriu quem eu era, corou levemente e perguntou se era A Caroline do bilhete. O silêncio se estabeleceu entre nós e, entre sorrisos amarelos, admiti que sim, era eu mesma.
O elevador parecia que nunca iria chegar no térreo. Michael e Lynn conversavam tranquilamente, enquanto eu e Justin permanecíamos em silêncio. Queria sair logo dali, mas ao mesmo tempo estava morrendo de vontade de perguntar como ele estava, pelo que eu espiava no espelho do elevador ele estava bastante machucado. Quando o elevador abre a porta, ele me puxou pelo braço.
–Caroline, me dê só cinco minutos...
– OMG, Justin Timberlake, o que você está fazendo aqui nesse prédio? Eu sou uma grande fã do seu trabalho!
Segui com cara de paisagem, brevemente orgulhosa por conseguir tratá-lo como disse que iria tratar em meu bilhete, sendo que na verdade queria pular em seu pescoço, sem saber se de amor ou de raiva.
– Você realmente quer que as coisas sejam assim?
Hesitei por um segundo, eu queria? Michael já cansou de me dizer que eu escolho essas situações, mas não dessa vez.
– Eu não estou entendendo, Mr. Timberlake, quando vamos ter o prazer de ver um novo trabalho seu?
– Entendi, Little L., eu sinto muito.
Eu também, Justin, mas é o melhor. Peguei Michael e fomos para a revista.
“Você foi demais, Caroline.”
– Não elogia muito não, que por dentro eu estou um caco. Se eu tirar esse sorrisinho do rosto, não coloco mais.
Durante o dia segui com meu sorrisinho falso e trabalhei muito para esquecer os problemas, escrevi duas crônicas, mandei por e-mail para meu editor, criei vários quadros de inspiração para matérias com uma das minhas colegas, Alison, e acabamos descobrindo muitas coisas em comum.
– Meu Deus, Caroline, por que você não chegou aqui antes?
– Estou me perguntando a mesma coisa!
– Sabe o que você precisa pra esquecer esse misterioso cachorro? Conhecer vários outros, aliás, eu tenho até o lugar certo para irmos!”
Estávamos no maior assunto quando o editor me chama na sua sala.
“Carol, Andrew quer falar com você...”
Caramba, só o que falta é ser demitida! Peguei um copo de café e fui para a sala dele. Andrew parecia sério, mas, ao me ver entrar, sorriu.
– Recebi seus dois últimos e-mails e, ao ler suas crônicas de cotidiano, tive certeza da decisão que já tinha tomado. PARABÉNS! Há uma semana recebemos o convite para cobrir todo o processo de lançamento da nova coleção da marca William Rast. Você conhece?
A marca de Justin com o melhor amigo? Claro que conheço! E eu achando que demissão ia ser a pior coisa que ia me acontecer hoje...
– Claro, a marca de Trace e Justin...
– Exato! Então, desde que você escreveu sua matéria sobre aquela festa de Timbaland, mostrando os fatos, com sentimentos e suas opiniões, não tive dúvidas de que você era o nome mais cotado para cobrir esse evento. A partir de amanhã, você não precisa nem mais vir para cá, já vá direto para o escritório de Trace.
– Bem, eu acho incrível, mas será que não existe ninguém que seja mais adequado para o trabalho do que eu?
– Caroline, nem sempre ser humilde é qualidade! Esse é um presente, que pode definir o seu cargo aqui na revista, então não recuse. É sim uma grande oportunidade, mas eu confio em seu potencial...
Ensaiei meu melhor sorriso.
– Tudo bem, o que eu posso dizer?
– Obrigada?
– Desculpe, Andrew, é que estou um pouquinho nervosa, mas muito obrigada.
– É disso que eu falo! Empolgação!
Na verdade, o que eu queria dizer era bem diferente de ‘obrigada, que oportunidade maravilhosa, amo meu trabalho’. Algo como ‘Merda! Eu vou passar todos os dias acompanhando a linha de roupas dele e do amigo?? Destino, qual é a dificuldade de entender que eu NÃO QUERO CRUZAR COM JUSTIN? Parece que quanto mais eu evito, mais a vida me leva para perto dele.’
Alison me esperava em minha mesa.
– E então, o que o poderoso chefão queria?
– Me dar a última prova de que eu PRECISO conhecer esses tais cachorrões novos. Essa noite!
