Caroline:
Bom, agora somos eu e a minha casa. E ainda preciso fazer a tal matéria sobre a festa. Sentei com meu vinho na sacada, peguei meu notebook e abri o editor. Minutos depois ele continuava em branco. Não conseguia parar de pensar em tudo que aconteceu essa noite. E as palavras, que antes estavam trancadas começaram a despejar, de forma pouco conexa.
Fool like me... Or you.
Sempre tão cheia de certezas, de saber o caminho que escolheu, de não se importar em trocar toda a vida sozinha. Tão cheia de certezas... da vida dos sonhos que queria ter... E aí chegam esses dias, onde os sonhos são oferecidos de bandeja e percebemos que nem sempre são tão bonitos e perfeitos. Nossas certezas? Ah, essas são jogadas no chapo e enfiadas no fundo da gaveta.
Hoje, eu participei de uma festa daquelas que a gente só imagina existir nos clipes, fiquei com o cara que eu mais queria em todo o mundo, meu ídolo. Devia estar feliz, dançando na cozinha vazia desse apartamento, mas não, porque por mais que parecesse antes, estar com ele não pode ser tudo que eu queria, principalmente porque sou uma idiota. Ou ele que é. Ou nós dois que somos. E as minhas certezas? Sumiram, nem no fundo da gaveta estão.
Até onde fui essa noite, provavelmente, no que esperava de mim, não iria. Mas e se não fosse, estaria melhor agora? A mancha de vinho tinto que ele deixou no meu tapete está ali, como se fosse a única prova de que tudo isso realmente aconteceu. De que realmente foram momentos ótimos, mas que minhas certezas e projeções sobre como tudo devia ser são uma merda. E sim, sei que projetar expectativas nas pessoas são sempre o caminho mais fácil para se decepcionar, não existe uma pessoa no mundo que não saiba disso, só que era ele, não tinha como errar. É, acho que tinha.
O problema é que certezas dão segurança, estabilidade. Amanhã eu acordaria de ressaca, mas tranquila, porque mesmo com tudo foi uma noite pra se lembrar. Agora? Não sei muito bem. A preocupação de ter me envolvido tão profundamente em uma coisa tão fugaz não me deixa. Logo eu. Eu não me envolvo, sua estúpida sentimentalista escritora bêbada. Nunca me envolvo. ‘Bem, isso era antes, agora? Quem sabe. Quem sabe já vamos abrindo as gavetas e começando a procurar? As coisas podem ser bem complicadas por aqui’.
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Justin:
Já estava tentando dormir há algum tempo, mas minha cabeça não estava aqui. Estava ali, na porta ao lado, com uma garota que eu tinha acabado de conhecer. E, pensando com lógica, isso não era bom, mas, me sentia vivo, como há muito tempo não conseguia. Tinha que tentar, só mais uma vez. Quando cheguei a porta do apartamento 805 havia uma folha debaixo da porta, etiquetada para uma revista. Era dela. E mesmo que parecesse errado, não faria mal ler um pouquinho...
Fool like me... Or you. Nossa, como ela escreve bem. Então quer dizer que talvez eu n seja o único envolvido nessa história? Com ela não se sabe muito o que pensar, mas mesmo assim, quem sabe? Um pontinho minúsculo de esperança me parece bem mais atrativo do que nada. Eu li o que ela escreveu, nada mais justo do que deixá-la ler alguma coisa minha também.
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Caroline:
Ah inferno! Esse telefone não para de despertar!!!! Só mais um pouquinho.
Não tomei café. Corri para o banho e depois coloquei um vestido com renda preta em cima, com a parte de baixo bordô plissada. Um sapato alto e óculos gigantes. Não queria ver sol, não queria o sol me visse. E, principalmente, não queria que ninguém visse a minha cara de dormi pouco e sou uma imbecil. Passando pela mesa da sala, vi minha matéria que tinha colocado embaixo da porta para ser mandada para a revista. O que eu mandei para eles então? Oh Deus, que não seja o texto sobre Justin, por favor, não.
Ao abrir a porta encontrei um chapéu. Minha respiração falhou, sabia que era dele. Embaixo tinha uma agenda, aquela que eu tinha pedido pra ver, quando estávamos no carro, e um bilhete.
“Desculpe. Eu sinto muito por tudo isso. Mesmo. Na verdade eu não sei o que sinto por você, estou um merda de um confuso que não estava preparado para te ver chegar. A única coisa que tenho certeza é que a noite de ontem significou muito para mim, o problema é que te magoei e me sinto o maior idiota do mundo por isso. Mesmo que você não acredite, eu não queria que tivesse acabado assim e sinceramente me preocupo com você. Sendo assim, lembrei que você queria ler o meu ‘querido diário’, está aí, a sua disposição, assim como eu. O chapéu é um bônus, já que, como vimos ontem, eles ficam bem melhores em você. Tirando o final trágico, me diverti muito.
Justin”Era incrível, com meia dúzia de palavrinhas lá estava eu me comovendo! Não mesmo Caroline! Chamei o elevador e sentei na escada para esperar. Ainda estava com o chapéu e a agenda em minhas mãos, relendo pela milésima vez o tal bilhete. Queria tanto ler a tal agenda, já que ele tinha deixado comigo não custava abrir e ver um pouquinho antes de devolver...
A porta do 806 se abre e de lá sai Justin, com uma calça jeans escura, uma camiseta branca listrada e um óculos escuro.
– Bom dia!
Eu fiquei em silêncio. O elevador chegou e, em silêncio, entramos. Ainda não estava preparada para bom dias e amiguinhos de prédio.
De repente, quando estamos no 6º andar o elevador tranca. As luzes se apagam.
– Merda!
– O que será que aconteceu?
– Olha, acho que o elevador trancou.
Claro. Era só o que faltava na minha vida, ficar trancada com ele em um elevador... se não estivesse acontecendo nesse momento, nem eu acreditava. Sentei no chão e suspirei.
– Claro. Só espero que isso se resolva rápido.
– Sinceramente, eu não.
Justin sorriu e se sentou ao meu lado. Bom começo de dia, Caroline.
