Caroline:
Depois de todos os transtornos, a noite estava sendo perfeita. E-S-T-A-V-A. Justin veio correndo e se enlaçou em minha cintura, falando com a pessoa, antes mesmo de abrirmos a porta. Quando abrimos, a surpresa: Jess, com cara de poucos amigos, nos encara.
Nem precisei convidá-la pra entrar. Ela se enfiou.
– Justin, o que você está fazendo aqui?
– Jess, acalme-se. (ele ainda estava se segurando na minha cintura)
– COMO ASSIM SE ACALME?? Eu te pego todo molhado, sem camisa, na casa de uma garota que eu já vi você quase beijando no elevador, igualmente molhada e com o SEU chapéu. Então a não ser que você seja criativo o suficiente para me explicar essa situação, não peça para eu me acalmar!
Eu não ousava falar. Sabia que aquele momento era do casal. Casal? Só agora que aquelas palavras estavam ecoando na minha cabeça. Eu estive tão preocupada em o que eu sentia por ele e o que ele sentia por mim, que não lembrei em nenhum momento, que a garota da festa era apenas um beijo. A situação era pior. Ele tinha uma namorada, há anos. E eu? Eu era a coisa mais deplorável e que jamais imaginava que seria. Eu era a outra.
Me senti a pior pessoa do mundo e enquanto os dois conversavam, caí em um choro compulsivo, tinha me deixado levar, sem pensar muito e agora estava nessa situação ridícula.
– Por que você está chorando?
– É vadia, nos conte, por que você está chorando? Deve ser muito triste mesmo, ficar se divertindo com o namorado das outras, não ter alguém pra você e ter que se rebaixar a esse papel. Mas tudo bem, desde que você aceite que é apenas mais uma que caiu na lábia dele. Mas quando ele cansar de você e arrumar outra pra jogar, eu ainda serei a namorada que ele levará nos restaurantes, nas festas, apresentará para a família e dividirá a vida.
Eu não conseguia responder. Jess estava sendo muito cruel e, embora de certa forma eu merecesse aquelas palavras, estava quase engasgando de tanto chorar. Justin olhava assustado para mim e me segurava firme pelos ombros.
– Fale comigo. Como você está? Nós vamos dar um jeito nisso, mas respire.
– NÓS VAMOS RESOLVER ISSO? Você devia estar preocupado em ajudar e entender sua namorada, não com essa aí, que nós dois sabemos que não vale nada.
Justin tentar cuidar de mim deixava Jess ainda mais enfurecida. Realmente era estranho que ele ao invés de se preocupar com o namoro, ficasse tentando acalmar meu chororô. Mesmo assim, Jess tinha razão: eu era apenas mais uma que caía na lábia dele. E isso era uma merda, nunca tinha me sentido tão mal na vida. Aquelas palavras pareciam facas e a pior parte era que eu não podia gritar, xingar, ou fazer nada. Tudo que ela dizia era verdade. Eu era a errada da história.
E nem de idiota/enganada podia me fazer, pois a culpa de ter me deixado envolver tão rápido nessa história era minha. E embora detestasse ficar chorando na frente dos outros, não conseguia parar.
– Olhe para mim, por favor, o que está acontecendo?
Ao olhar para ele, entre soluços, desatei a falar.
– O que está acontecendo? Tirando o fato de eu ser uma idiota que se deixa enganar por um cara como você, nada. Não estou chorando por você, mas por mim. Mesmo que você seja um cachorro, não te culpo por isso, a culpada sou eu por pensar que podia você podia ser diferente comigo. Como a sua namorada disse, não é a primeira vez que isso acontece. Só me sinto a mais estúpida de todas por estar nessa situação agora. Mesmo que você não acredite, Jess, eu realmente sinto muito.
– Realmente. Eu não acredito, acho que está na hora de irmos.
– Eu vou ficar.
Eu e Jess falamos ao mesmo tempo:
– Como assim?
– Eu preciso conversar com você, vizinha.
Vizinha. Ele ainda nem sabia meu nome, em pensar que nós podíamos estar bem agora.
– Eu não tenho NADA pra falar com você. Acho que tudo que eu tinha que saber, já sei.
– Bom, eu vou indo.
Levei Jess até a porta e ela esperava que Justin a acompanhasse.
– Justin você não vem?
– Não, Jess. Amanhã conversamos.
Eu não acredito no quão cafajeste ele podia ser.
– Justin, saia da minha casa. Agora!
– Nós precisamos conversar. Você ainda não me disse seu nome.
– E depois de tudo que você me fez, acha que merece qualquer coisa de mim? Realmente merece, que eu te empurre pra fora dessa casa arrastado. Eu estava começando a me envolver no seu joguinho, achar que eu podia acreditar no que você faz/diz, mas percebi que não.
– Mas tudo que eu falei/fiz é verdade. Eu não sei como, mas estou envolvido por você. Desde aquele dia na minha casa a única coisa que venho tentado fazer é ter mais tempo perto de você.
– Eu NÃO quero mais saber de você. Saia daqui agora.
– Por favor... Ah, que inferno, pelo menos me diga seu nome.
– Nunca. Simplesmente esqueça da minha existência. Ou se gabe para seus amigos que pegou mais uma.
– Eu... não...
O empurrei até o corredor e fechei a porta. Olhei para o tapete manchado de vinho. Como tudo tinha mudado tão rápido, de felicidade para ‘sou idiota, socorro!’
Definitivamente as coisas não são como a gente quer.
______________________________________________________________________
Justin:
Uma noite que tinha tudo para dar certo e ser ótima acaba assim. Qual é o meu problema? Enquanto estava com a garota do apartamento ao lado tudo estava tão ótimo, então Jess chega, briga, xinga. E a única coisa que quero fazer é secar as lágrimas da garota e saber o porquê de estar chorando tanto. Quero confortá-la sem sequer me importar com meu namoro e como Jess está se sentindo.
Mesmo agora, em meu apartamento vazio, não consigo parar de pensar em como ela se chama, como deve estar se sentindo, se pretende falar comigo novamente algum dia. As coisas se complicaram, mas no meio de tudo isso, a única coisa que quero fazer é mostrar para ela que sim, é diferente de todas as outras. De um jeito tão intenso que chega a ser estranho para alguém que conheço tão pouco.
Preciso de um terapeuta.
