Entediada, Laura folheava uma revista enquanto o tempo passa. O Telefone vocifera, fazendo-a se assustar com o barulho infernal que aquela coisa fazia. Ela se esticava para atendê-lo com uma vontade tão grande quanto sua entediação.
-Alô! -...! -Quem? -...!
Em um segundo, a entediada e falta de vontade altera-se naquela face com os olhinhos brilhando cheio de vitalidade novamente.
-Manda ele me esperar ai no saguão que eu já estou descendo! -...! -É, manda ele me esperar... -Não quero saber das suas regras idiotas. -Quando eu descer eu quero ele me esperando!
Laura bate o telefone no gancho com uma satisfação que para ela beirava o normal, saindo rapidamente pelo corredor e pegando o elevador. A impaciência de Laura fez parecer que o Elevador demorou séculos para chegar ao piso térreo do hotel, ela saia um tanto quanto desesperada em direção ao balcão.
-Cadê ele?
Uma moça muito bem apresentável apontava uma caneta na direção do homem sentado em um dos confortáveis sofás do saguão do hotel. Laura crescia os olhos e se ajeitava indo de maneira mais comportada até o homem.
-Seu Everaldo?!
Everaldo olhava para Laura com certa estranheza.
-Oxe! -I donti tá a dona madame?
-Quem? -...!!! -Ahhh, a Dna.Teresa? -Ela me pediu pra vir falar com o senhor... -Ela esta com uma enxaqueca terrível depois de ontem.
-Inxa o que?
Perguntava Everaldo com a certeza de que Laura estava falando de alguma Enxada ou de que Teresa estava inchada.
-Ela não esta muito bem, é isso.
-Hãaaa! Sei! -I aquela espilicute?
-Quem?
-A minina qui eu arrastei pra cá junto com a dona madame!
Laura dava um sorriso inibido vendo que aquela seria uma conversa muito complicada para os dois.
-Ela esta bem, muito bem. -Seu Everaldo eu queria te perguntar uma coisa... -Onde o senhor encontrou essa menina, essa tal de Mariana?
-Oxe, a dona madame num ti contou?
-Os detalhes não.
-A minina é uma dessas que ficam na rua alisandu gente rica... -Eu sentava a mãozada no peduvido dela mas, a dona madame tava no carro...
-Tá, tá, tá! -Mas o senhor sabe de onde ela é? -Ela disse que não mora na rua! -Que mora com a vó dela!
Everaldo fazia uma cara de assustado, como se percebesse e não fosse o bobo que Laura esperava encontrar. Ele revira os olhos e demonstra um certo nervosismo que Laura obviamente percebe logo de cara.
-Ihhh, to meio ariado! -A senhurita num é nenhuma malamanhada e inté é bunita... -A madame disse pra eu tar aqui quando o sol tivesse no arto... -Donde a dona madame tá, senhurita Laura?
-O senhor tem uma ótima memória não é? -Pra se lembrar do meu nome! -Com certeza o Senhor saberia se já tivesse visto esta menina, a Mariana, em outro lugar, não é mesmo?
O rosto de Everaldo se petrifica diante daquela pergunta de Laura, e os dois se encaram como se fossem velhos inimigos. E assim eles permanecem por alguns bons segundos até que a voz de Teresa os interrompe percebendo um clima pouco amistoso entre os dois.
-Laura? -O que esta fazendo?
Laura vira os olhos na direção de Teresa com uma frieza absurda e volta a encarar Everaldo.
-Eu precisei descer para falar ao Senhor Everaldo que ele esperasse a senhora por mais alguns minutos...
Laura sorri, um dos sorrisos mais perfeitamente falsos que ela já deu.
-Ele quase foi embora, mas consegui convencê-la a ficar. -A senhora vai sair com ele? -Quer que eu vá junto?
Teresa permanecia muda, analisando aquilo com muita estranheza, atrás de Teresa, a pequena Mariana surgia de mãos dados com ela com um sorriso encabulado para Everaldo, a menina o cumprimentava.
-Oi!
Everaldo arregalava os olhos surpreso ao ver Mariana com um vestidinho branco, com um laço na cintura, sapatinhos rosas e uma tiara no cabelo, estava graciosamente linda.
-Eita! Como ce ta bunita minina!!!
Mariana se envergonhava e se escondia rindo atrás do vestido cheio de panos de Teresa, que ainda mantinha um olhar fixo em Laura, mas se encantava com o jeitinho tímido de Mariana acabando que por deixar qualquer assunto desagradável para trás e soltando um sorriso acariciando os cabelos, agora sedosos, de Mariana.
-É, ela esta mesmo muito, muito, mas muito linda! -Vamos subir sua danadinha, olha o tanto de roupas que você comprou!
Olhava Teresa para um dos porteiros do hotel carregado de sacolas infantis... Mariana ria indo até o porteiro e pegava um coelhinho rosa dentro de uma das sacolas, abraçando-o. Teresa olhava aquilo com tanta ternura mas logo se voltava para Laura e Everaldo.
-Desculpa Sr.Everaldo, mas eu precisei sair... -Laura, leve a Mariana para o quarto, por favor, sim! - Obrigada!
A contragosto, Laura cumpria seu dever, pegando Mariana pela mão levando-a para o elevador, o Porteiro carregado de sacolas a seguia, quando a porta do Elevador se fechou Teresa tira um pacote da bolsa e entrega para Everaldo, ela sorri para ele.
-Isto é por estar me ajudando!
Everaldo abre o pacote e abismado vê dois maço bem farto de dinheiro amarrados com um elástico.
-Mas muié...!!!
-O que foi acertado com o Senhor era somente me pegar no aeroporto e me levar até aquela cidadezinha de nome esquisito...
-Taquarana dona madame.
-Taquarana. Exatamente! -Mas o senhor acabou tendo que fazer muitas outras coisas e eu sei como isso toma tempo e dinheiro. -Por isto o senhor esta sendo pago pelo serviço prestado devidamente. -Bem, o senhor terá que me desculpar mas a ida para Taquarana, teremos que adiar novamente...
-I pra quando é?
Teresa fica em silencio, era como se ela não quisesse se aborrecer ou estava evitando qualquer tipo de problema neste momento. Afinal, ela mal se recorda de quando se sentiu tão feliz em sua vida. Mas infelizmente era preciso lidar com determinados assuntos, afinal, foi para isto que ela veio.
-Amanhã... À tarde! -Pode ser às Dezessete horas!
-Amanhã!
Everaldo balança a cabeça confirmando e sai do hotel bem mais feliz do que quando entrou. Teresa respira fundo e segue para dentro do elevador, infelizmente um ar de preocupação toma conta de sua feição, ela se encara na parede de Espelho dentro do elevador e fala para si mesma.