Enquanto Teresa colocava aquela pobrezinha menina suja dentro da Brasilia, Everaldo observava aquela situação com um desgosto aparente.
-To meio abestado! -Essa espilicute de minina toda malamanhada, a senhora vai mermo dar cabimento pra ela? -Num queru da pitacu dona madame, mas a sinhorita tomo umas...!
Teresa se ajeita no banco da frente e bate a porta com certa violência.
-Senhor Everaldo, o senhor pode me levar até o meu hotel?
-Cum ela?
-Sim, com ela. -Mariana vai comigo...
Everaldo dá a volta no carro resmungando enquanto Teresa torce o pescoço para olhar e sorrir para a menina assustada no banco de trás.
-To mermo abestado com isso!
O dono da Brasília entrava e ligava o carro aumentando o volume da musica no toca fitas, um forro das antigas era tocado. Teresa tentava puxar algum assunto com Mariana mas tudo o que a menina respondia era alguns “Não! Sim”! e“Rum!Rum!” Everaldo dirigiu por alguns minutos até parar o carro na frente do elegante hotel em que Teresa estava hospedada. Ela descia e empurrava o banco tirando Mariana de dentro do carro... Teresa levava a menina pela escadaria enquanto o manobrista estranhava a chegada daquela pequena maltrapilha junto com uma elegante mulher como Teresa. Teresa logo voltava sua atenção para Everaldo.
-Seu Everaldo? -O senhor poderia estar aqui amanhã? -Por volta de meio dia está bom.
Meio a contragosto Everaldo balançava a cabeça positivamente se ressentindo do péssimo cheiro deixado pela menina dentro de seu carro, dando partida e saindo cantando pneu. Teresa entrava no saguão do hotel e rapidamente um dos concierge vinha na sua direção.
-Dna.Teresa, está menina...!
Teresa de imediato interrompia o funcionário do hotel.
-Sim, ela está comigo e vai subir comigo. -Algum problema?
Inibido e de mãos atadas, o rapaz sorria de maneira forçada sem poder negar aquele pedido.
-De modo algum!
Teresa pegava o elevador, e finalmente quando as portas se fecharam, ela conseguia sentir o odor que exalava daquele pobre menina... Teresa olhava para o ascensorista do elevador, que tapava o nariz por causa do forte odor de urina, mesmo tentando disfarçar Teresa não se apartou de Mariana. Quando a porta se abriu Teresa saiu rapidamente segurando Mariana pelas mãos. A porta do quarto de Teresa estava aberto e Laura, que estava assistindo TV, desliga o aparelho e olha para a porta como se estivesse cometendo um crime...
-Dna.Teresa?!
-Oi Laura!
Teresa não estava com tempo de ficar especulando os “crimes” de Laura, mas esta por sua vez encarava Mariana com um nojo expressivo no rosto.
-Que menina é essa? -Ela está fedendo!
Mariana se escondia atrás de Teresa, não com vergonha mas com medo... Ela ainda mantinha um olhar assustado diante de toda aquela exuberância apresentada para ela tão repentinamente.
-Por isto pensei que você poderia preparar um banho Laura! -Poderia fazer isto pra mim?
Laura tentava compreender o que estava acontecendo, olhando para aquela criança maltrapilha, mas ao mesmo tempo sabia que estava a serviço naquele quarto, não estava de férias.
-Claro Dna.Teresa! -Vou preparar a banheira.
-Obrigada Laura! -E depois você pede para o serviço de quarto trazer dois sanduíches enormes,dois Milk shakes e sorvete...
Teresa olhava para Mariana sorrindo, erguendo as sobrancelhas, finalmente Mariana retribuía com um sorriso tímido.
-E pede alguma coisa pra você também... -Você esta sem comer que eu sei!
-Eu peço.
Falava Laura com uma voz de pouca importância desaparecendo para dentro do quarto de Teresa. Mariana parecia um pouco mais a vontade sem a presença de Laura naquele ambiente, arriscando dar alguns passos tocando em alguns objetos enquanto vasculhava com um olhar perdido cada cantinho daquele lugar. Teresa cruzava os braços e sorrindo se perdia observando-a.
-Você está com fome?
Mariana voltava a olhar para Teresa e balançava a cabeça insistentemente dizendo que sim em seguida voltava a explorar os pequenos detalhes de luxo...
-Você mora na rua? Novamente Mariana olhava para Teresa com aqueles grandes olhos assustados balançando a cabeça de maneira negativa.
-E onde está sua mãe Mariana?
Mariana, descalça, ficava parada sobre aquele tapete da sala que mais parecia uma montanha de pelos debaixo de seus pés, ela abaixava a cabeça juntando as mãos tristemente e num som quase inaudível falava.
-Morreu!
A mente de Teresa parecia abarrotada de perguntas mas Laura a interrompe.
-Pronto Dna. Teresa! -A banheira está pronta... Coloquei alguns sais e aquele sabonete importado, que a senhora tanto gosta.
Teresa sorri para a competência de Laura, trazê-la nesta viagem foi a melhor ideia que Cezar poderia ter dado a ela.
-Obrigada Laura!
Então Teresa volta toda sua atenção para Mariana, se agachando ficando na altura da menina.
-E então mocinha, pronta pra tomar o melhor banho da sua vida?
Laura ouve aquela pergunta de maneira escandalizada, atônita ela fica sem palavras. Mariana continuava assustada olhando para Teresa que estendia uma mão na direção da menina...
-Vamos? -Porque depois teremos um sanduíche gigante, um Milk shake enorme e muito sorvete para tomar... O que acha?
Mariana concordava muito timidamente com aquele trato, um banho em troca de comida... Não tinha como ela sair perdendo. Laura, muito a contragosto percebia o olhar de Teresa... Ela sabia do que se tratava e então ela se aproximava daquela pequena poça de mijo onde o cheiro era tão forte que lhe dava náuseas...
-Vamos menina, a água vai acabar esfriando se a gente demorar muito!
Teresa acompanhava as duas até o banheiro de sua suíte... Havia muita espuma na banheira e Laura rapidamente despia Mariana mergulhando-a dentro da água... A menina se encolhia toda ao sentir todo aquele perfume e ao ver toda aquela sujeira sair de seu corpo... Laura obviamente não perdia o momento para fazer uma piada sem nenhuma graça em particular.
-Como uma menina tão pequena pode carregar tanta imundice?
Teresa mal dava ouvidos ao que Laura falava, apenas encostava na porta e olhava algumas pequenas reações de Mariana dentro da banheira... Primeiro batendo as pernas na agua, depois dando uma fina gargalhada tão gostosa de se ouvir... Novamente Teresa sentia uma alegria inundar seu coração... Muitas lembranças vinham em sua mente... Lembranças que nunca aconteceram. Lembranças de todas as vezes de quando ela estava grávida. Lembrando-se de como sonhava em dar o primeiro banho em seu filho... Um filho ou uma filha que ela nunca teve. Nunca foi competente o suficiente de tê-los. Era uma mistura confusa de alegria, rancor e tristeza lhe tomando naquele momento ao ver Mariana se divertindo tanto em sua banheira. Então antes que começasse a chorar Teresa saia do quarto... Na Sala, Teresa ouvia os gritinhos de alegria de Mariana, enquanto Laura tentava inutilmente impedia-la de jogar água pra fora da banheira... Teresa então parou de se culpar... Ela deixava o rancor se esvair e a tristeza se evaporar mantendo apenas um largo sorriso que retratava a alegria plena em seu coração há muito tempo amargurado. Pegando o telefone, Teresa fazia o pedido mais exagerado de sua vida para o serviço de quarto...
-Sim, podem trazer tudo! Sanduíche, Batata frita, Milk shake, sorvete, pipoca, refrigerante... -Sim, eu quero uma festa infantil no meu apartamento.
