Sozinha na sala com a menina Teresa encontrava forças para fazer uma nova pergunta a Mariana.
-Mari, vem cá meu amor! Mariana pegava seu coelhinho rosa e ia até Teresa como se estivesse preparada para tomar uma bronca. Mas Teresa a acariciava no rosto e passava a mão em seus cabelos sorrindo para a menina.
-Meu bem, preciso que você me diga uma coisa está bem? Mariana acenava sim com a cabeça meio timidamente.
-Você se lembra onde você mora? Mariana respondia que sim com a cabeça.
-Você se lembra do nome do lugar? Mariana novamente respondia em silencio que sim.
-Você pode falar pra mim meu amor? Mariana abaixava a cabeça e com certa tristeza, como se soubesse seu destino, falava para Teresa que recebia a resposta como um soco no estomago.
-Taquarana. Teresa ouvia o nome daquela cidade meio como se desacreditasse no que Mariana lhe falava.
-Tem certeza meu amor? -Você não ouviu o nome deste lugar com alguém? -Tem certeza que sua avó mora lá? Mariana acenava com cabeça dizendo que sim. Teresa se encostava no sofá e um turbilhão de coisas passava pela sua cabeça mas nenhuma delas fazia sentido. Por que tudo apontava para este lugar? Ricardo e Mariana! O que era esta cidade afinal? Teresa então percebe que já passou da hora de ir até lá e enfrentar seus medos.
...
Receosa com o que ia encontrar, Teresa não se fez de rogada ao pedir para Laura lhe acompanhar, a enfermeira aceitou no ato. Teresa, Laura, Mariana e Everaldo partiam na Brasília Vermelha indo de Maceió até Taquarana, no Leste do estado... Foram mais de uma hora de viagem... Nem Laura e nem Teresa conseguiam decifrar o que Everaldo falava e ria dentro daquele carro. Obviamente ele estava muito feliz, talvez por causa da quantia exorbitante de dinheiro que Teresa deu a ele... Ao sair da rodovia, Teresa avistava a entrada da cidade chamada Taquarana... Era um bairro pobre, havia poucas casas e muitos bares na beira da rodovia. Ela se assustava, o que Ricardo achou naquele lugar? Teresa olhava para Laura que parecia indiferente, Mariana assustada como sempre e Everaldo rindo das próprias piadas indecifráveis. Teresa tocava em Mariana...
-Meu bem, você sabe o caminho da sua casa? Mariana acenava sim com a cabeça e apontava para uma velha casa feita de tijolo baiano com uma cerca de pau e arame farpado quase caindo ao pedaços, na rua de terra batida havia muitos cachorros latindo sem parar enquanto o carro passava erguendo uma quantidade assombrosa de poeira. Teresa pedia para Everaldo parar o carro e ela e Mariana desciam.
-Vocês dois, me esperem no carro.
-Mas Dna.Teresa...!
-Por favor Laura, me espere no carro. Visivelmente nervosa Teresa tirava a mala de Mariana do carro e de mãos dadas elas se dirigiam até a porta da casa... Teresa batia três vezes na porta e uma voz irritada explodia, vindo de dentro da casa.
-Já vai! Já vai! Ao abrir a porta o coração de Teresa batia mais do que de costume. Uma senhora a atendia, com um estranho lenço de seda no pescoço, uma maquiagem exagerada, vestida com uma imensa saia rodada muito colorida mas com os seios quase a mostra, um enorme colar de perolas, naturalmente falsos, dava umas três voltas e ainda assim ficava grande se perdendo entre os seios... Era uma senhora de quase 40 Anos de Idade, mas que aparentava ser bem mais velha, uma aparência visivelmente cansada e abatida mas ainda demonstrava certo vigor interior. Ela olhava Teresa de cima abaixo com certo desdém enquanto fumava com uma cigarrilha com um pouco de classe até. Com a mão na cintura ela encarava Mariana visivelmente irritada, Mariana tentava se esconder, em vão, atrás de Teresa.
-Danou-se a pegar agoragente veia é? -Já pra dentro sua...
Mariana entrava rapidamente e se perdia da vista de Teresa. A senhora coçava o rosto fazendo uma careta de nojo.
-E quem é você heim? Ela estendia o pescoço para ver o carro que trouxe a visitante até sua porta, arqueando as sobrancelhas desdenhando da Brasília vermelha.
-Eu me chamo Teresa... Eu encontrei a sua neta, a Mariana na rua pedindo esmola...
-É, e daí? Falava a senhora de maneira completamente indiferente para a situação como se soubesse do ocorrido há mais tempo do que Teresa.
-A senhora não estava preocupada com ela?
-Estas crianças de hoje são iguar cachorro, por vezes fogi mas acabam vortando.
Teresa fica paralisada diante de tamanha indignação, olhando aquela mulher falando de uma criança de maneira tão desumana e sendo complacente com o que Mariana precisa suportar nas ruas...
-A senhora é mesmo a avó dela? A velha dá umas três tragadas em seu cigarro e joga a fumaça na cara de Teresa.
-Olha aqui, você ta querenu dinheiro por ter me trazido essa merdinha pra mim? -Num se preocupa não, amanha mermo ela vai ta de vorta em Maceio pra traze dinheiro pra dentru de casa! -Aqui se num paga, num come!
Teresa entra em estado de choque ao ouvir aquelas calamidade referente a uma criança. Desacreditando no que ouve, Teresa empurra a mala para a velha.
-Isto é dela!
-De quem?
-Da Mariana, eu comprei pra ela! A velha abre a mala ali na porta mesmo e abismada vê a quantidade de roupas de qualidade que Teresa comprou para Mariana. Ela encara Teresa e arrasta a mala para dentro.
-Quer entrar? Teresa olha para trás na direção de Laura e Everaldo, mesmo receosa ela respira fundo e entra naquela casa escura. A Velha fecha a porta logo em seguida. Teresa observa cada detalhe da casa... Tudo era iluminado com Lâmpadas Vermelhas, mesmo assim era possível ver como a casa estava muito empoeirada... Moveis muito antigos e cheios de renda... Tudo muito desgastado, mas o pior de tudo era o cheiro... Tinha um cheiro muito forte de sexo no ar misturado com outros cheiros como cigarro, sujeira , urina... Teresa começava a respirar pela boca não escondendo a ânsia de vomito.
-Amélia! Falava a velha enquanto acendia outro cigarro.
-O que?
-So Amélia! Ressaltava ela irritada por ter que ficar repetindo o próprio nome.
-Não não! Obrigada, estou bem! De repente um homem descia pelas escadas sem camisa visivelmente drogado com uma mulher muito descuidada com os seios de fora, ambos riam sem parar enquanto ela tomava vinho no gargalo de uma garrafa. Amélia mostrava os dentes podres para a garota acenando com as mãos para eles subirem de volta.
-Vem, vamu ali no escritório meu, a genti conversa mio! Teresa se perguntava que lugar era aquele e enquanto passava por um estreito corredor, ela via uma porta semiaberta, um banheiro, um homem estava nu sentado no sanitário e com ele, havia uma criança, Teresa notava algo familiar, o cabelo encaracolado igual ao de Mariana... Amélia ria e rapidamente fechava a porta sem fazer qualquer comentário. Teresa leva à mão a boca visivelmente tensa e incrédula sentia tudo, nojo, repulsa, asco e uma tristeza lhe tomava por inteiro misturado a uma necessidade! Finalmente Teresa conseguia ter uma resposta, aquilo era um Bordel de beira de estrada e por pior que parecia, Mariana, a doce Mariana fazia parte daquele lugar!
Última edição por Aandel em 17.09.14 8:22, editado 1 vez(es)