Marcos estacionava o carro na frente do Hospital das Clinicas, que por sinal estava lotado. Ana saia rapidamente do carro apressando Vinicius a fazer o mesmo e ao mesmo tempo ela se despedia de Marcos.
-Pode ir meu filho! -Desculpa qualquer coisa! -Deus que te abençoe e...
Marcos encostava a cabeça no encosto do banco segurando o riso fácil encarando Vinicius.
-Leva sua mãe logo pra dentro garoto. -Ou ela vai ficar o dia inteiro aqui me agradecendo. -Quando ela começa ela não para mais. Marcos cai na gargalhada, já Vinicius ri meio tímido e desconfiado olhando para sua mãe como se pedisse aprovação para rir daquela situação, mas na verdade tratava-se de respeito para com ela. Ana e Vinicius se dirigem para dentro do hospital é quando quase que por instinto, Vinicius olha para trás somente para ver Marcos fazendo a balize enquanto acena com a mão dando tchau, Vinicius envergonhado disfarça se agarrando ao braço de sua mãe atravessando a multidão desesperada.
...
Após uma espera agonizante, finalmente Ana consegue chegar ao primeiro balcão de atendimento, uma mocinha sardenta tenta organizar uma infinidade de guias e fichas médicas em um ficheiro gigante, Ana dá três tapinhas no balcão.
-Moça! -Por favor...! -Bom dia! A jovem encara seriamente Ana por cima de seus grande óculos redondos falando secamente.
-Boa tarde! Sim, já era mais de meio dia, como Ana mesmo podia constatar olhando para um relógio de parede, ela certamente já havia perdido a noção das horas em meio a toda aquela confusão. A atendente fecha a pasta levando-a para uma gaveta de registros.
-Clarice dos Reis... Clarice Donatto dos Reis! -Ela foi transferida pra cá lá do Hospital do Campo Limpo.
-Sei! Falava a mocinha com pouco entusiasmo enquanto procurava nos registros o nome de Clarice Donatto dos Reis, ela retira uma ficha da gaveta e lê os dados da paciente ajustando os óculos com a ponta dos dedos encarando Ana.
-A senhora é o que da paciente?
-Mãe! -Eu sou a mãe dela. A atendente desliza os olhos para cima de Vinicius que tenta ler o nome dela em um crachá desbotado... Era Flávia alguma coisa, mas antes de se esforçar um pouco mais, Vinicius percebe que está sendo duramente encarado por ela.
-Sou o irmão!
-Sei. -Sigam por este corredor até o final, lá tem uma escada, o elevador está quebrado, sigam até o 3º Andar, Ala Sul. Vocês vão precisar de uma identificação para permanecerem lá, falem com atendente Deborah.
Ana segura Vinicius pelo braço e novamente sai arrastando o garoto.
-Deus que te abençoe moça! Deus que te abençoe! Flavia olha para o desespero corriqueiro daquela mãe com uma certa estranheza e logo um pequeno sorriso brota em sua face, iluminando-a.
-Amém, irmã! -Amém!
...
3º Andar, Ala Sul, Atendente Deborah. Era uma senhora já um pouco mais humorada que a anterior, também pudera, a ala sul do hospital era um pouco mais calmo do que a Emergência. Deborah dá alguns papeis para Ana assinar dizendo ser protocolo do hospital, autorizações e etc, enquanto verifica os documentos pessoais de Ana... Ela pede licença enquanto vai chamar o médico responsável. Quinze minutos depois, Deborah reaparece conversando com um Médico. Ambos repassam o conteúdo de uma ficha medica enquanto o Doutor olha para o balcão onde algumas pessoas junto com Ana começam a se amontoar em busca de informações.
-Clarice dos Reis? Falava o Doutor enquanto buscava entre as pessoas uma resposta. Ana com a mão no coração ergue o braço.
-É minha filha, Clarice Donatto dos Reis! Ana e Vinicius seguem para perto do doutor enquanto Deborah segue para continuar seu trabalho com os demais parentes ali presentes. Vinicius observa na lapela do jaleco branco o crachá do Dr.Silvio Soares enquanto sua mãe se preocupa com os demais detalhes.
-Doutor, minha filha...?
-Calma mãe. -Sua filha foi trazida até nós com inúmeros hematomas pelo corpo, um profundo corte na testa, outro nos lábios e tivemos que conter uma hemorragia interna... O hospital do CL não nos informou nada que a paciente... Clarice dos Reis... Estava grávida, tivemos que fazer uma cesariana de emergência para estancar a hemorragia... O bebê nasceu prematuro. Ana tampava a boca com a mão enquanto arregalava os olhos assustada com toda aquela situação que se encontrava sua filha já tremendo e chorando, o mesmo não podia dizer de Vinicius que mesmo abalado por dentro se mantinha como uma rocha apoiando sua mãe.
-Sua filha está estabilizada e não corre risco de vida. -Mas vamos ter que mantê-la sob observação por alguns dias e o bebe também, por ter nascido prematuro, terá que ficar na incubadora até completar os nove meses. Vinicius abraçava sua mãe de lado enquanto dirigia a palavra ao Doutor Silvio.
-Minha mãe pode ver a minha irmã Doutor?
-Claro! Claro! -Vai ser bom pra ela. -Deborah, a paciente do quarto 33, Clarice dos Reis, está liberada para receber visitas. Deborah acena com a cabeça enquanto o Dr.Silvio se despede de Ana seguindo corredor adentro. Deborah leva até Ana uma etiqueta e o cola sobre a roupa dela com a descrição “Visitante”.
-Pronto senhora, sua filha está no quarto 33, leito dois. Quinze minutos de visita está bem? Ana segura a mão de Vinicius mas Deborah os barra.
-Desculpa, mas o menino não pode entrar... São normas do hospital. Falava Deborah com um olhar tristemente acuado enquanto Ana olhava para o filho de mãos atadas. Vinicius largava a mão de sua mãe e cruzava os braços acanhado.
-Vai mãe, eu espero aqui! Ana acena para o filho e sai apressada, Vinicius se senta em uma das cadeiras pouco confortáveis raramente espalhadas pelo hospital abaixando a cabeça e juntando as mãos orando a Deus em pensamento para que ele cuide de sua irmã e de sua sobrinha recém-nascida.
...
Ana abre a porta do quarto 33 devagar, logo ela vê uma mulher amamentando o filho a olhando com um pouco de esperança que logo some de seu olhar, Ana varre o quarto em busca de um rosto familiar, haviam várias camas separadas por uma cortina apenas, todos estavam ocupados. Ana então busca pelo Leito Dois, estava fechado com a cortina, Ana abre somente um pouco para ter certeza de que não haviam se enganado a respeito do leito de sua filha, mas quando vê a pessoa ali deitada, ela não sabe se erraram ou não... Mais uma vez Ana chora ao ver sua filha ali deitada com um curativo banhado em sangue preso na testa, os lábios suturados, um olho inchado e roxo... Clarice abre um dos olhos lentamente.
-Mãe?! -É a senhora? Ana se senta ao lado da filha e se põe a chorar... Clarice segura à mão de sua mãe acariciando-a, Ana tenta permanecer sentada na mesma posição, mas não suporta sabendo que é capaz de mais do que aquilo e abraça sua filha. Elas permanecem abraçadas por um tempo, Ana não se controla, chorando feito uma criança, Clarice a aparta um pouco e Ana então vê face a face o estado real de sua filha. Clarice acaricia o rosto de Ana enxugando as lágrimas de sua mãe falando com um pouco de dificuldades.
-A senhora ainda me condenaria se eu me separasse do Gustavo? Ana tapa a boca com uma mão e balança a cabeça negativamente, ela aperta a mão de sua filha.
-Não filha! -Claro que Não.
Ana abaixa a cabeça, chorando feito criança, envergonhada por tanto tempo ter de algum modo impedido a própria filha de ser feliz.
É Victor e Wagner, muitos conflitos vão surgir na vida de todos... Espere e verás! Afinal, Teresa ainda precisa tirar a historia de Taquarana a limpo! Que odio é esse de Gustavo por Ricardo? Seria somente ciumes? Clarice teve um filho, mas em nenhum momento foi dito que este filho é do Gustavo! Afinal, Teresa pagou pra elas fazerem um tratamento! O que distanciou a amizade de Teresa com Clarice?
E voltando ao filho que Clarice teve, um filho é sempre um filho, independente de com quem ela teve... Clarice vai amar essa criança de todo seu coração!
Hoje em Espelhos, conheçam tia Stella, Stella com "S"!
