Com uma taça de vinho nas mãos e de braços cruzados Teresa,encostada em umaporta, observava todos os seus convidados sendo servidos cuidadosamente pelos garçons... Praticamente todos não compreendiam o motivo daquele almoço, não se lembravam de quem estava faltando entre eles... Ela olhava para todos eles com uma profunda tristeza no olhar, com certa indignação enquanto devoravam a feijoada. Por de trás dela um homem se aproxima.
-Decepcionada?!
Teresa abaixava a cabeça sorrindo tristemente enquanto balançava a taça de vinho. Cézar se alinha ao lado dela, bebendo um uísque com duas pedras de gelo.
-É a família dele, como eu não posso me decepcionar? -O que o Ricardo representava afinal para eles?
Cézar torce a boca dando um belo gole em seu uísque maltês, enquanto crava uma das mãos no bolso.
-Ele era a fonte de renda para todos. -Mas com este almoço, você deu esperança a todos eles.
Teresa olha duvidosa para Cézar, que já se distancia um pouco dela.
-Esperança, Cézar?
Erguendo o copo de uísque, Cézar completa sua definição de esperança.
-De que você não vai abandona-los aos cães. -Não se ouve sussurrar nada além disto entre eles. -Mas ainda assim entre eles, há esperança.
Teresa fecha os olhos mordendo os lábios com uma dor parecendo uma estaca sendo cravada em seu coração... Dinheiro! Sempre o doce dinheiro entre ela e a felicidade. Ao abrir os olhos ela esperava que Ricardo viesse ao encontro dela, sanando suas duvidas cruéis... Mas é a tristeza, misturada a decepção de ser a única que sente algo como saudades entre todos, que a faz sangrar por dentro... Ela chora... Mais uma vez... Tentando disfarçar ela apaga a lágrima com a ponta de um dos dedos e respira fundo engolindo o choro, que desce amargo pela sua garganta. Teresa gostaria de ter dado a seu marido morto, mais do que simples esperanças! Quando seus olhos deixam de ficar embaçados, por conta do choro dolorido, ela vê aqueles cabelos alvos, lindíssimos e lisos, penteado numa bela trança presa no alto da cabeça por uma graciosa presilha dourada, certamente de puro ouro, Teresa não tem duvidas de quem seja e começa a se aproximar, de todas as mulheres daquele almoço não poderia haver um vestido azul tão charmoso quanto aquele, de um requinte pouco explorado pelas outras mulheres.
-Tia Stella?!
A senhora de quase 60 anos de idade se equilibra saudavelmente sobre um sapato de salto se virando elegantemente com um ar de nobreza apurado.
-Minha sobrinha encantada!
Teresa a abraça e a beija de modo esfuziante, a tristeza parece dar lugar a uma alegria contida... Um abraço onde ninguém ali parecia ser capaz de dar a Teresa naquele momento.
-Céus! -Quando foi que a senhora chegou? -Alias, a senhora não tinha a menor necessidade de se deslocar de Nova York até aqui só por causa deste almoço!!!
Enquanto falava, as duas se abraçavam e se beijavam novamente, demonstrando um total afeto uma pela outra.
-É óbvio que eu precisava minha filha. -Sua mãe me arrastaria para o túmulo dela se sonhasse que eu não estou cuidando direito da minha única sobrinha! -Alias, o Cézar não teria me enviado aquele convite tão formal, era gritante o que estava escrito nas entrelinhas. -Você se surpreenderia com o grau de ligação que nós Chiveras temos uma com as outras. -Estava claro como cristal que você esta desesperada para conversar com alguém que realmente te entenda. -Eu só espero, sinceramente, que você já tenha percebido que viver sem um marido é o grito de liberdade que toda Chivera deseja.
-Tia...?!
Logo atrás de Stella, um homem idoso muito refinado traz duas belas taças com vinho branco, ele era caucasiano, nitidamente um estrangeiro em terras tupiniquins.
-Darling, you chardonnay. (Querida, seu chardonnay.) -Teresa, como vai?
Ele falava com um austero sotaque americano, se esforçando para falar a língua portuguesa da melhor maneira possível. Teresa conseguia finalmente rir da situação, ele entregava uma das taças para Stella e logo em seguida Teresa o abraçava.
-Hello uncle! (Olá, tio!)
-Thank you, Alberth! -Já tentei por incontáveis vezes fazer ele desistir de tentar aprender esta língua démodé!
Falava Stella em tom baixo para Teresa, acreditando piamente que Alberth não compreendia nada do que elas estavam falando. Porém Alberth insistia em demonstrar sua evolução no aprendizado da língua portuguesa.
-Receber votos de pêsames?
Stella revirava os olhos quase que indignada com aquela pergunta indigesta.
-Mas é claro que ela recebeu Alberth. -Eu ficaria horrorizada se soubesse que o Sistema Postal no Brasil regredisse a tal ponto de nós chegarmos antes de um simples telegrama! -Imagina!
Teresa olha para sua tia Stella com certa duvida quanto a aquela certeza enfática de sua tia, que devolve o olhar, um tanto quanto assustada.
-Santo Deus, que país atrasado! -Por isso que digo, Deus é brasileiro, mas ainda prefiro ser americana!
Teresa sorria, mas Alberth sorria encabulando sem saber do que se tratava a conversa. Stella o encarava e ele automaticamente se recolhia a uma postura mais seria.
-Now go my dear, Teresa and I have inaudible affairs for a man of his age. (Agora vá meu querido, Teresa e eutemos assuntos inaudíveis para um homem de sua idade.)
Alberth se retira educadamente, beijando a mão de Teresa e dando um beijo na face de Stella, que encara Teresa dando um belo gole em sua taça de vinho branco.
-Homens, sempre querendo ouvir mais do que necessitam.
Teresa abre um largo sorriso e percebe o quanto sentia falta do humor ácido de sua tia Stella.
-Parece que nós duas ainda somos tradicionais demais tia, para abrirmos mãos de nossos maridos.
Stella delicadamente bebe um pouco mais do vinho, balançando suavemente a taça, aspirando o conteúdo e deixando um gole apenas escorregar em sua língua sentindo todas os aromas e nuances do sabor decantado daquela safra.
-Maldita tradição dos Chiveras! -Bem, se não podemos abrir mão de nossos homens, nos cabe nos afogarmos em mais uma bela taça destefabuloso Raveneau Frances.
Por um segundo Teresa parece se esquecer de qualquer problema que a rodeia, enquanto o pianista toca uma linda sinfonia, as duas de braços atrelados caminham por uma das salas em direção a grandiosa porta que dá acesso a um dos jardins da casa. Tia Stella acaricia delicadamente o braço de Teresa finalizando com tapinhas suaves.
-Agora meu amor, você só precisa sorrir mais um pouco e fingir pra toda esta gente que está feliz por maisalgumas horas. -Afinal, este é o maior dom dos Chiveras.
Teresa encara sua tia com um olhar meio cético e perdido em duvidas.
-Fingir?!
Tia Stella aconchega sua cabeça no ombro da sobrinha com um meio sorriso.
-Não, meu amor. -O maior dom dos Chiveras é se reerguer das próprias cinzas quando todos pensam que estamos derrotados. -Os Chiveras são uma Phoenix por natureza.
É Wagner, a Stella é uma das poucas pessoas da qual tem afinidade pela Teresa, já que ambas são Chiveras. Mais pra frente, veremos o quanto Stella se preocupa realmente com sua sobrinha.
Que bom que voce curtiu a tia Stella Victor, e uau, estou surpreso contigo, se vc estiver falando da novela Agua Viva exibida pela Rede Globo em 1980, to vendo o quanto o pessoal daqui AMAAAA Novelas kkkkkkk! Infelizmente eu não tenho essa vocação toda de assistir novelas antigas, tenho tentando rever "A Viagem", reprisada no canal VIVA, mas são poucas cenas que acaba vendo. Parabéns pela dedicação as novelas!