Aproximadamente 30 convidados se acomodavam nas três salas de estar e nos jardins externos da mansão Chivera. Sofás confortáveis estavam espalhados pelos vários ambientes da casa, mesas lindamente decoradas com arranjos de flores foram montadas ao lado da área de lazer, um fogão industrial era aceso por um garçom enquanto outros três desfilavam da cozinha até a área da churrasqueira com três caldeirões de feijoada. Havia uma grande mesa de mármore, que estava muito bem ornamentada, flores no centro, frutas espalhadas, pratos empilhados e talheres charmosamente enfileirados. Outros garçons desfilavam com suas bandejas servindo chops, drinks, coquetéis, refrigerantes e aperitivos. Teresa apenas constatava o obvio, Ana de fato deixou tudo muito bem organizado, não teria como nada dar errado, exceto pelas próprias pessoas.
-Oi. Era um “oi” seco, meio sarcástico e até mesmo indefinido, Teresa fechava os olhos respirando profundamente, a voz ela conhecia muito bem e por um tempo acreditou que não a ouviria tão cedo, muito menos hoje, mas os protocolos da boa educação exige que todos os convidados sejam tratados da melhor maneira possível pelo anfitrião. Teresa se vira e descobre que nem por um segundo havia errado, as duas se entreolham, era uma mulher baixa, com os cabelos grisalhos desgrenhados, opacos e estranhamente presos por um pedaço de pano, ela também trajava um horroroso vestido floral até os calcanhares que chegava a doer os olhos de Teresa, a mulher tinha um rosto desprovido de maquiagem mergulhado numa tristeza que tentava enganar a todos com um falso sorriso.
-Estela?! Estela segura as duas mãos de Teresa encarando-a, arregalando os olhos e falando baixinho enquanto continuava com aquele sorriso irritantemente falso.
-É Estela Maria, eu gosto de ser chamada pelo meu nome inteiro. Visivelmente desconfortável e desconfiada, Teresa sorri envergonhada e rodeada de duvidas.
-É claro Estela Maria, é claro. Teresa tentava soltar suas mãos mas Estela Maria insistia em prende-las com força continuando a encara-la.
-Eu me converti, eu aceitei Jesus, ele me curou sabia?! Teresa ouvia aquilo com estranheza, pois Estela Maria parecia ter sido tudo, menos curada. Estela olha sobre os ombros de Teresa ficando nas pontas dos pés, sua expressão muda para uma expressão rígida e furiosa serrando as sobrancelhas. Teresa olha para a mesma direção virando o pescoço curiosa com aquela situação, tratava-se de duas crianças brincando de correr dentro de uma das salas. Estela esbraveja:
-Crianças, parem de correr! -Se vocês quebrarem uma destas coisas caras da sua tia, ela vai fazer a gente pagar. Metade dos convidados olham, para aquela situação, enquanto Teresa se mostra visivelmente envergonhada, um homem atrelado a uma outra mulher a larga e corre para socorrer Teresa que tenta amenizar a situação.
-Estela, não se preocupe com nada disso... -É Estela Maria, eu gosto de ser chamada pelo meu nome inteiro sua vaca. Estela aperta um pouco mais as mãos de Teresa olhando como se tivesse vontade de mata-la.
-Estela?!
-É Estela Maria! -É claro que você nunca vai lembrar... NUNCA! Nunca! -O que nós somos pra você? -Você nunca fez o Ricardo feliz... Nunca! Nunca! -Meu irmão era um infeliz na suas mãos! Teresa pisca os olhos muitas vezes, não conseguindo acreditar nas palavras loucas de Estela. -É claro que fomos Estela, eu e o Ricardo fomos muito felizes sim... Nós nos amávamos! Estela cerra os dentes enquanto Teresa nem percebe seus olhos marejados.
-É nisso que você acredita? -Que fez meu irmão feliz? O homem que as observava de longe, se aproxima e tenta separar as duas, Teresa o olha assustada, tratava-se de Mauricio, o irmão mais velho de Ricardo e de Estela Maria.
-Ei Estela Maria, solta a Teresa! -Esta tudo bem! Tudo bem! -Pode soltar a Teresa! Solta ela! Estela Maria sorri para Mauricio balançando a cabeça insistentemente enquanto abre devagar suas mãos libertando Teresa.
-Vai ver como estão os meninos, ta bom? Estela se vira de costas e entra na casa, com um certo olhar perdido, enquanto Mauricio leva uma das mãos a boca.
-Eu sinto muito Teresa! -Sinto muito... Teresa espera Estela sumir de seu campo de visão antes de questionar Mauricio sobre qualquer coisa.
-Ela não estava internada?
-Estava sim, mas os médicos e psiquiatras foram obrigados e decidiram dar alta para ela se a família se comprometesse a ajuda-la. Teresa encara Mauricio seriamente sobre aquela questão.
-Ninguém me informou sobre nada disso! Visivelmente nervoso, Mauricio começa a gaguejar tentando explicar melhor a situação para Teresa.
-Desculpa Teresa, eu não queria te preocupar... -Você pagou todo o tratamento dela mas... -Você já estava lidando com todas estas coisas e... A Kagi não está muito bem, você sabe... -E ainda tem os remédios que a Estela toma, demoram um tempo pra fazer efeito e são tão caros... Teresa se silencia tentando recuperar a postura mantendo-se pensativa enquanto Mauricio tenta disfarçar o que acabou de dizer.
-Que bom que você esta finalmente andando! Teresa logo olha Estela novamente interagindo com seus dois filhos de modo ríspido.
-É, minha paralisia foi mais emocional do que física. Um certo silencio absoluto reina entre eles, Mauricio tem o péssimo habito de querer tentar imitar Ricardo em tudo, mas para Teresa, é uma tentativa falha.
-Bonita festa...! Teresa volta toda sua atenção para Mauricio visivelmente irritada.
-Pelo amor de Deus, Mauricio! -Isso não é uma festa, é um almoço de família. -Apesar dele não estar mais entre nós... Uma pausa e Teresa tenta controlar a emoção que flui... A dor da ausência, a falta e o apoio nunca negado de Ricardo para com ela parece mais presente do que nunca hoje.
-Só porque o Ricardo não está mais conosco... Isso não significa que vocês deixaram de ser a minha família! -Eu não vou abandonar vocês se é o que pensaram. Mauricio ouve aquilo com um pouco de surpresa no olhar e agradece:
-Obrigado Teresa! -Muito obrigado! Desconfortável Teresa passa a mão no ombro de Mauricio esforçando um sorriso constrangido.
-Com licença Mauricio! Marcela, esposa de Mauricio, bebendo um refrigerante num copo long drink, arrasta sua saia no chão se esforçando para se aproximar dos dois sorrindo e acenando para Teresa que se afasta com um aceno para Marcela. Marcela agarra o marido pelo braço...
-Devia ter deixado a louca da sua irmã, agarrar os calcanhares da Teresa com os dentes. -Seria muito é justo! Mauricio pouco se importando com aquela questão revela uma frieza escondida.
-E armar um escândalo aqui?
-Mais um ou dois escândalos na mansão dos afortunados Chiveras, não faria nenhuma diferença. Preocupado com outras questões além das mesquinharias das mulheres e de suas briguinhas particulares, Mauricio se foca em um assunto mais rentável.
-Você acha que ela me daria a cadeira da presidência? Marcela toma um pouco de seu refrigerante arrastando o marido para outra direção dos jardins.
-Nem da Kagi quanto menos da Couvenant.
-Mas eu era o braço direito do Ricardo!
Esbraveja Mauricio tentando se conter para não chamar muita atenção. Já Marcela, parece se divertir com a exaltação do marido enquanto agarra o braço de um dos garçons pegando um petit four e o devorando como se fosse a ultima coisa que ela fosse comer, mastigando com um certo nojo.
-Eca! -Mesmo se você fosse literalmente o braço direito e o esquerdo do Ricardo, ela sequer cogitaria de livre e espontânea vontade na hipótesede você sentar na cadeira do seu irmão, Mauricio. -Além do mais, o que eu sei é que o puxa saco do Cézar já sentou a bunda dele na cadeira da presidência faz muito tempo. -Ele armou a cama pra deitar bem debaixo do seu nariz, meu bem! -Ai! Ai! -Que horas é que vão servir está comilança toda heim? -To azul de fome! -Estas bolachinhas sem gosto feita pra anão nem tapam o buraco do meu dente!
-São aperitivos Marcela! -Petit Four. -Dá pra você fingir por algumas horas que pode ser chique?
-Só pela misericórdia de Deus viu! -Vou ver na cozinha se tem alguma coisa pra mim comer de verdade, pelo visto está feijoada vai talhar e não vão servir ela pra gente comer.
...
Marcela abre a porta da cozinha como se fosse uma criminosa procurada, ao ver a intensa movimentação dos serviçais ela os atrapalha...
-Olá meninas... meninos! Todos perdem a concentração e olham para Marcela, garçons, Soraya, Ilda e outros ajudantes... Marcela não se faz de rogada e vai entrando na cozinha sem ser convidada.
-Eu sou a cunhada da dona da casa. Todos continuam olhando Marcela com uma questão muito obvia em suas mentes: “Quem perguntou?” Porém Soraya tenta ser amigável ao seu modo.
-E a senhora tá procurando alguém Dna.Marcela?
-Ah não meu anjo, eu só vim... Marcela olha esfuziante para uma fruteira, recheada de frutas apetitosas, apontando com o dedo para elas.
-Roubar uma banana!
Já pegando a fruta, descascando e colocando metade na boca. Marcela observa os aperitivos diminutos a qual ela torce o nariz.
-Santo Deus, vocês querem matar os convidados de fome servindo estas coisas né? -O que vocês estão servindo, alpiste?
Soraya pega uma bandeja e a leva até Marcela com a nítida intenção de expulsar logo aquela mulher da cozinha .
-A senhora tá servida? Marcela agarra outra banana da fruteira e desdenha dos aperitivos.
-Misericórdia, afaste isso de mim. -Prefiro banana. -Quem nesse mundo não prefere banana? Todos riem daquela total e completa falta de classe de Marcela Andreotti.
É Wagner, como vimos alguns capitulos atras, Teresa só contava com a amizade de Clarice! Hoje, ela esta mais sozinha do que nunca! Alem dela ser uma mulher rica, onde a maioria tentam explora-la de alguma forma, vamos descobrir porque ela alimenta tantas inimizades e que muitas das vezes ela até é inocente.
Quanto a Marcela, eu rio muito imaginando as caras e bocas que Zezé Polessa faria se realmente interpretasse a Marcela... Ela é mesmo uma deslocada sem noção que ainda vai dar um pouquinho de trabalho para os Chiveras!
É Victor, ainda estou em duvida de quem é mais louca, a Estela Maria ou a Marcela! De qualquer forma quem ganhar este embate de loucura, pode ficar sossegado, pois o troféu vai ficar em família mesmo kkkkkkk..