Era uma manhã fria de outono, um sábado onde o Sol era entusiasta masnão o suficiente para elevar a temperatura. A mansão dos Chiveras estava preparando um almoço para a família, uma tradicionalíssima Feijoada Carioca. Ana já estava com tudo muito bem adiantado, as laranjas estavam impecavelmente descascadas, cortadas e sem caroços, uma porção grandiosa de couve-manteiga cortada lindamente, uma generosa quantidade de arroz branco ainda borbulhava na panela, uma deliciosa farofa de ovos e claro, a anfitriã da festa, a Feijoada propriamente dita com todas as suas Carnes exuberantes divididas em Caldeirões feita de véspera para acentuar todos os sabores das carnes. Naturalmente quando uma reunião familiar desta acontece, Ana sempre conta com o apoio de Soraya e de uma amiga ajudante, alem é claro de garçons e de um barman que prepara todas as caipirinhas e caipiroskas e uma variedade de drinks, cervejas e refrigerantes que serão servidos para os convidados... Toda o alvoroço é comedido quando o telefone toca...
-Soraya! -Pelo amor de Deus, atende este telefone, deve ser da portaria, avisando que a Floricultura... -Santo Deus, já deveriam estar aqui com os arranjos montados faz horas!
Soraya não tarda e corre para atender o telefone, fazendo uma voz muito sensual para atender o segurança da portaria do condomínio enquanto enrola o fio do telefone por entre os dedos, tão logo ela desiste da pose e aponta o telefone para Ana.
-Ana, é pra você!
Ana limpa as mãos em um pano úmido e corre para atender.
-Ilda, fica de olho no Molho de Pimenta para mim, por favor? -Ai Jesus Cristo, quem é uma hora dessa? -Coloca só mais uma colher de vinagre no molho...
Soraya passa o telefone para Ana revelando de quem se trata, falando com desgosto.
-É seu filho. Ana pega o telefone enquanto Soraya a observa com os olhos arregalados de curiosidade, fazendo gestos de “beijinho”, como se insinuasse para o rapaz do outro lado da linha. Ana tenta afastar Soraya com o pano umedecido, mas ela insiste em permanecer ali parada.
-Alô?! -Oi filho, fala meu amor. -...! -A paz de Deus! -É, a mamãe tá um pouco atarefada meu anjo, mas pode falar... -...! -...! -Ai meu Deus! -Quando?! -Santo Deus! -Onde?! -Tá! Tá! -Sei, sei... Eu sei onde fica. -Tá!
Ana desliga o telefone colocando a mão na boca enquanto os olhos se afogam em lágrimas, Soraya fica aflita com aquela cena.
-O que foi Ana?! -Fala mulher!
...
Mostrando um esforço continuo, Teresa se mantém de pé sem se apoiar em ninguém, ela se concentra enquanto Laura se mantém próxima o suficiente para socorre-la, em caso de uma queda. Teresa então passa a caminhar pela Academia sem a necessidade de usar uma cadeira de rodas.
-Está indo muito bem Teresa... Mais um passo, calma! -Devagar! -Isso! -Muito bom! -Agora vamos fazer o caminho inverso, está bem?
Neste instante, Ana entra na Academia um pouco assustada e receosa, Laura a encara, deixando transparecer claramente sua frustração com aquela interrupção desnecessária.
-Pedi pra ninguém interromper as sessões, elas são muito importantes pra autoestima do paciente, Ana!
Porem Teresa olha para os próprios pés com um largo sorriso e esfuziante de felicidade, parece não se importar com as prescrições previas de Laura.
-Olha Ana! -A partir de hoje eu definitivamente vou abandonar aquela coisa medonha!
Apontando com os olhos para a Cadeira de Rodas encostada em um canto. Ana tenta se alegrar mas não consegue disfarçar completamente sua preocupação.
-Que maravilha Dna.Teresa, que bom! -Orei muito pra Deus dar forças e tirar a senhora daquela cadeira de rodas.
Laura, desgostosa com o rumo daquela conversa, tenta interrompe-la o quanto antes.
-Na verdade foi um esforço conjunto da Dna.Teresa e da fisioterapia, sem isso ela não ia nunca conseguir se levantar sozinha.
Ana fica desapontada com a falta de fé de Laura e antes que possa falar algo Teresa tenta amenizar aquela conversa, dando um pouco de credito a sua empregada.
-O que seria de nós sem fé Laura? -Alias, o que seria de nós sem Deus no coração?
Ana dá um sorriso sem graça com uma nítida expressão de apreensão. Teresa percebe no ato o nervosismo de Ana.
-Algum problema Ana? -Está faltando alguma coisa na cozinha?
-Não! Não! -Está tudo certo Dna.Teresa. -É que eu...
-Fala Ana, está me deixando nervosa também!
Ana junta às mãos e as beija como se orasse por algo.
-O meu neto...!
Teresa ao ouvir aquela palavra, subitamente sua expressão se altera. Ela sabia que aquele dia chegaria, cedo ou tarde, chegaria... Uma enxurrada de amargas e profundas cicatrizes se abrem em seu coração. Teresa não consegue se decidir se expressa um sorriso, que nada demonstra a dor em seu coração ou se deixa levar pela triste emoção que toma conta de sí. Ela opta pela primeira opção, mas infelizmente só é capaz de demonstrar uma felicidade completamente falsa, em um canto dos lábios, um amargo sorriso tentando sinalizar para Ana ao menos um pouco de alegria.
-A minha filha está no hospital Dna.Teresa, e...!
-Pode ir Ana.
Falava secamente Teresa tentando ser um monólito vivo para sair ilesa daquela situação. Por outro lado, Laura olhava espantada com a reação fria de Teresa sem conseguir entender muito bem o que estava acontecendo naquele momento.
-Mas Ana, o almoço, os convidados...?!
Ana olhava para Laura e voltava a atenção para Teresa como se falasse que devia explicações a sua patroa apenas.
-Está tudo sobre controle Dna.Teresa. -Tudo está muito bem adiantado. -As poucas coisas que faltam serem preparadas, deixei tudo anotado e explicado pra Soraya e pra Ilda, os garçons também estão bem instruídos e eu já liguei pra floricultura e eles estão...
-Pode ir Ana. -Eu sei que você me deixou muito bem assistida. -Vai, afinal é seu neto. -Peça pro Marcos que é pra ele te levar.
Ainda atônita com aquela libertinagem da empregada, Laura não consegue mais esconder sua indignação.
-O motorista!!! -Levar ela?!
Teresa olha com um olhar de total reprovação para Laura que no mesmo instante se cala.
-Ai, que Deus lhe abençoe Dna.Teresa. -Prometo que eu reponho as horas durante a semana.
-Pare com essa besteira Ana, você sabe que nesta casa não temos disso.
Ana sai apressada agradecendo um pouco mais a compreensão de sua patroa. Ela sabe que não esta sendo nada fácil para Teresa, onde todos fingem estar. Laura fica de braços cruzados e só volta a abrir a boca quando Ana já está bem longe.
-Podemos continuar?
Teresa com um olhar perdido fala quase que mecanicamente.
-Não. -Será que poderia pegar minha cadeira de rodas e traze-la até aqui pra mim, Laura?
-Mas Teresa...!!!
-Por favor Laura, eu prometo que o seu tempo gasto comigo não foi em vão. -Mas me leve ao meu quarto, agora, por favor! Laura mesmo que a contragosto, pega a cadeira e ajuda Teresa a se sentar, ambas saem para o Jardim e numa trilha de pedra, Laura empurra a cadeira com Teresa cabisbaixa e pensativa. Quando elas entram no quarto, Teresa pede que Laura pegue um Livro de capa grossa em uma estante de carvalho, Laura percebe ser um Álbum de Retrato, ela entrega para Teresa e as duas folheiam juntas as fotos cheias de recordações para Teresa, que para em uma das páginas, onde há uma foto de recém formados. Laura tenta anima-la.
-A senhora parece que tinha muitos amigos não é?
Teresa se mantém no mais absoluto silencio e Laura tenta outra vez.
-E no colégio, aposto que todos queria ser amigo da senhora. -Olha só pra esses!
Teresa passa os dedos sobre a foto com muito carinho.
-Não, todos não. -Só uma. -Clarice, minha companheira de todas as horas, minha confidente, minha melhor amiga.
Laura se afasta um pouco tentando relembrar aquele nome que lhe soa tão familiar e num estalo de pensamentos ela chega a uma conclusão.
-Aquela do funeral?
Teresa então fecha o álbum e Laura percebe que no meio desta historia mal contada existem segredos e desafetos enterrados como uma Caixa de Pandora, onde todos os envolvidos parecem com o emocional abalado demais para querer abri-la novamente.
-É incrível como o tempo passa rápido demais não é Laura? -E quando menos percebemos o que tínhamos de bom na vida, simplesmente vai embora.
Subitamente duas batidas na porta... “Toc! Toc!” interrompe aquela sessão de martírio, Teresa parece despertar enquanto Laura se apressa em organizar as medicações para as próximas horas.
-Pode entrar!
Tratava-se de Soraya que abre a porta bem de mansinho.
-Dna.Teresa, é o Dr. Cézar na sala...
Laura se atrapalha com os comprimidos deixando muitos se espalharem pelo chão, um susto que não passa despercebido por Soraya ao ouvir o nome de Cézar. De imediato Laura olha para Soraya com um olhar nitidamente enfurecidos. Teresa mau percebe a tensão entre as duas, se focando em pegar uma pasta na primeira gaveta do criado mudo.
-Peça pra ele vir até aqui Soraya, por favor. Obrigada!
-Pode deixar Dna.Teresa.
Soraya encara Laura, rindo debochadamente, dando um aceninho com a mão de modo sarcástico. Laura coloca os comprimidos sobre a mesa se apoiando com as duas mãos nela respirando fundo pra não avançar no pescoço de Soraya, que se retira deixando a porta entreaberta. Poucos minutos depois Cézar bate na porta e entra com a autorização de Teresa.
-Bom dia Teresa! -Bom dia Laura, como está nossa paciente?
Última edição por Aandel em 28.08.14 20:14, editado 1 vez(es)
Kkkkkkk... Pois é Victor, o Zé Mayer não perde seu posto de pegador... Já virou até figurinha carimbada! Mas na terceira fase da novela veremos que aqui se faz aqui se paga!