Ao abrir os olhos, o primeiro pensamento que vem na mente de Teresa Chivera é de que no mínimo tudo o que aconteceu nos últimos Três dias, foi meramente um grande pesadelo. Ao passar uma das mãos ao lado da cama, ela percebe como a cama está vazia e de que não somente tudo foi um Grande Pesadelo como ele se tornou realidade. Ela respira fundo para lidar novamente com uma realidade sem Ricardo. Se esforçando um pouco mais, ela se ajeita na cama e percebe que aquele nem de longe é seu quarto, mas somente um quarto montado as pressas no andar inferior da mansão, no lugar que antes era o escritório do marido. Deitada numa grande poltrona está Laura, a pobrezinha deve ter adormecido sem se dar conta do horário... O relógio sobre o Criado Mudo marca 9:36am, ao lado dele a quantidade de remédios que Laura precisou administrar para que Teresa pudesse enfim dormir um pouco. A enfermeira tão logo desperta, sua capacidade de perceber as coisas a sua volta são gritantes.
-Bom dia Laura!
-Ai céus, acho que dormi demais. -Me desculpa Dna.Teresa, eu deveria ter...
-Pare de se preocupar menina, afinal você deveria agradecer, é a primeira noite que consegue me fazer dormir um pouco e você também. -Nós duas estávamos cansadas. -Afinal, você foi contratada por causa da sua eficácia e discrição mas não por causa desta sua devoção ao paciente, isto é novidade!
-A senhora está bem? -Eu...
-Vou ficar melhor se você conseguir me arranjar uma grandiosa e milagrosa xícara de café. -Você não faz ideia de como isto melhora meu humor.
-Eu não sei... A empregada...?
-Não se preocupe, a Ana tem mania de madrugar nesta casa. -Com certeza e não se surpreenda, ela já deve estar adiantando o almoço a uma hora desta.
Laura, vestida com seu uniforme se levanta deixando cair um Livro de capa rosa, talvez um romance ou algo parecido, com o uniforme completamente amarrotado ela sai as pressas pela grande porta de madeira trabalhada... Seguindo a procura de alguma porta que lhe de acesso à cozinha. Laura para, respira e raciocina, o cheiro de café a levará ao lugar certo. Ao abrir a porta, toda aquela claridade atinge a enfermeira como uma explosão pouco arrebatadora, ela tenta se proteger com as mãos, mas uma quantidade de cheiros maravilhosos inundam sua mente.
-Bom dia Laura! -Deseja alguma...?
A cozinha tinha grandes janelas que davam vista para um belíssimo jardim, uma porta de vidro dava acesso a toda a área externa... Era uma vista muito privilegiada para uma cozinha extremamente bem equipada, geladeiras, fogões, armários, dispensas, tudo muito clean e de muito bom gosto. De fato havia panelas sobre o fogão a todo vapor, sobre uma mesa de mármore havia varias frutas, tudo cortadinhas separadas em bandejas, pães doces e salgados e um tipo de torta, uma quiche talvez, muito apetitosa por sinal, sucos em jarras de vidro e um rapaz sentado, comendo pão com mortadela, rindo de alguma piada que infelizmente Laura não teve o prazer de escutar. A enfermeira volta a olhar para a mulher, muito provavelmente se tratava de Ana, a cozinheira da mansão, uma mulher de aparentemente uns Quarenta ou Cinquenta anos no mínimo, Laura a olha dos pés a cabeça ali parada diante da pia com um avental respingado por algum molho vermelho.
-É Dna.Laura pra vocês! -E a Dna.Teresa quer o café dela servido agora no quarto e o meu também... Completo e quente! -E vista alguma coisa mais adequada para uma empregada.
Laura se vira nos calcanhares com um ar de completa superioridade e de imediato sai da cozinha. Ana olha para o rapaz sentado numa banqueta, com os olhos estatelados, o homem olha de volta, ambos ficam se olhando e logo ele cai na risada.
-Eeee Dna.Ana, esta casa tava com falta de uma cobra bem criada!
-Meu Deus do Céu! Vou ter que rezar pra todos os santos pra Dna.Teresa melhorar logo e não precisar mais desta mulher. Que Deus me perdoe!
-Oxi Dna.Ana, a senhora não é evangélica?!
-E sou, mas vou ter que apelar né?!
Ambos caem na risada, mediante à aquela situação pouco comum naquela casa onde todos se respeitavam. A preocupação de Ana, mesmo rindo, é o que se sucederá após a tragédia que se abateu sobre aquela casa!
...
As 9:50am, Ana entra com um carrinho de servir, com duas bandejas muito bem caprichadas, sucos, pães, frios, café, biscoitos, frutas, flores.
-Bom dia Dna.Teresa! -Trouxe o café da manhã da senhora.
Teresa olha para Laura com estranheza...
-Ana, eu só queria minha casual xícara de café...!
Laura de imediato se adianta pegando uma das bandejas e levando até Teresa, dispondo-a sobre a cama.
-Acho que fui eu que exagerei no pedido, desculpa Ana, mas é que eu estava com um pouco de fome.
Teresa olha para a bandeja lhe servida por Laura e percebe algumas coisas que não lhe agrada, como o pão de trigo branco, o comum pão Francês e suco batido com leite.
-Laura, eu...
Rapidamente Ana retira a bandeja das mãos de Laura e a substitui pela outra que estava no carrinho, uma bandeja com um pouco mais de frutas e somente uma farta xícara de café e uma fatia de pãozinho integral com queijo cottage. Teresa abre um sorriso para Ana enquanto Laura se petrifica ao lado da cama.
-Obrigada Ana, como sempre minha salvadora.
Inocentemente Ana conversa com Teresa como igual, uma rotina casual na mansão dos Chiveras.
-A Senhora e esta mania exagerada de regime. -Devia tentar comer algumas coisas mais apetitosas.
-Você quer dizer, engordativas não é sua danadinha?
Laura se sente como se tivesse cometido o maior crime de sua vida e pior, acreditando ter sido nitidamente humilhada pela empregada diante de Teresa.
-Me desculpa Teresa, é que eu não sabia que... A Ana está certa, você precisa comer de tudo um pouco.
-Está tudo bem Laura. Mas a Ana sabe que não é tão fácil me convencer, talvez o Ricardo...
A conversa para por ali... Ana abaixa a cabeça se retraindo um pouco, enquanto Laura olha para as duas tentando expressar alguma emoção apática. Teresa larga a xícara de café no pires e se concentra para não começar mais um dia chorando. Ana por sua vez tenta alterar o destino trágico que com certeza aquela conversa resultaria.
-Posso abrir as cortinas? -Este quarto precisa de um pouco de claridade e ar fresco.
Laura rapidamente se dirige para as janelas na vã tentativa de abrir as cortinas. Porém Ana com seu jeitinho simples se adianta um pouco mais, afinal, esta é uma tarefa rotineira para ela.
-Pode deixar Dna.Laura, eu faço isso. -É melhor tomar o café da senhora, ou vai acabar esfriando.
A Enfermeira se sente meio inútil novamente dando espaço para a serviçal fazer seu trabalho. Porém Laura demonstra um nível de falsidade que não consta em seu currículo.
-Ah Ana, não precisa me chamar de “Dna”, só Laura basta. -Obrigada pelo café, mas olha só pra esta bandeja, eu nem vou conseguir comer tudo isto! -Onde vou parar deste jeito, nós mulheres temos que nos cuidar não é mesmo?!
Teresa permanece com um olhar distante observando as pequenas ondulações que se formam na sua xícara de café... Ana termina de abrir as cortinas olhando de canto para a tristeza assumindo o controle de sua patroa. Ela então tenta distraí-la com mais um assunto sem tanta relevância no momento.
-Dna.Teresa, o Dr.Cézar passou hoje cedo e deixou uma pasta pra senhora. -Ele não quis incomoda-la dizendo que precisava estar cedo numa reunião hoje cedo com alguns investidores.
Teresa parece despertar ou ao menos tenta se recobrar e voltar para a dura realidade que tem sido sua vida.
-Cadê?
Ana pega uma pasta preta no carrinho de servir e entrega para Teresa juntamente com o óculos de leitura da patroa, Teresa pega ambos, a pasta e os óculos e sorri balançando a cabeça como sinal de que Ana pensa em tudo para ela.
-Meu Deus Ana! -O que seria desta casa sem você?
Ana fica meio que constrangida e tão logo se retira do quarto dizendo para chama-la caso precisassem de mais alguma coisa sob a desculpa de que tinha algo no fogo prestes a queimar. Teresa desliza as alças da pasta e tão logo pega um bilhete escrito por Cesar.
“Bom Dia Teresa! Alguns investidores decidiram rever alguns conceitos da Kagi de ultima hora. Parece que estão um pouco insatisfeito com a paleta de cores usadas pela equipe de produção. Vou acalmar os ânimos e rever os contratos, as cores da Kagi sempre predominaram nas propagandas. Não se preocupe, tudo sobre controle. Na pasta tem alguns documentos que você infelizmente precisa lidar e autorizar para o que deve ser feito.
Ass:.Cézar!”
Típico do Cesar, um bilhete costumeiramente formal onde nas entrelinhas se descobre a informalidade de suas atitudes. Teresa larga o bilhete sobre o criado mudo ao lado das medicações, Laura estica um olhar que não passa despercebido por Teresa.
-Sim Laura, era do Cesar, mas no bilhete ele não está mandando beijos para ninguém, nem mesmo pra mim. Um verdadeiro gentleman, você não acha?
Laura disfarça sua tentativa de bisbilhotar o bilhete alheio e desconversa ou tenta...
-Ah! -É. -Eu não sei... -Acho que vou me lavar, com licença... -A senhora precisa de alguma coisa?
Teresa ergue a xícara de café sorrindo discretamente.
-Estou muito bem servida, fique a vontade Laura.
Assim que Laura se retira, Teresa joga sobre o edredom tudo o que tem dentro da pasta, revelando um nervosismo para saber o que tem ali dentro... Alguns documentos sem assinatura. Teresa não dá muita importância para aquilo e nem chega a ler. Algumas Xérox dos Documentos pessoais de Ricardo, RG, CIC, Carteira de Motorista, caem de dentro da pasta. Por fim, uma Passagem de Avião. Teresa pega a passagem e a folheia. Passagem no nome de Ricardo Andreotti Chivera, de ida para Maceió. Para daqui a dois dias. Seu coração se alegra, Ricardo realmente precisava de um pouco de sossego, de férias... Ele andava trabalhando muito para que a Kagi tivesse um nome tão forte como a da Couvenant no mercado. Porém Teresa fuça um pouco mais na pasta, cadê a outra passagem, a dela? Incrédula ela olha dentro da pasta vazia e conclui algo que não gostaria de concluir. Ela se encosta na cabeceira da cama e ali fica pensativa. Laura entra e estranha o comportamento inerte de Teresa, observa os documentos jogados sobre a cama.
-A Senhora está bem Dna.Teresa?
-Não sei. -Me faz um favor Laura? -Telefone para o Dr.Cézar e peça para ele vir aqui o mais rápido que puder!
-Claro!Claro que sim! -Eu só preciso do numero dele e...
Momentaneamente Teresa não esta apta a fingir que é tonta e nem mesmo ser educada ou discreta com Laura, a reciprocidade não poderá ser mutua desta vez.
-Laura por favor, você tem o numero do Cesar desde que se conheceram. -Liga pra ele imediatamente e peça pra ele vir assim que possível.
Laura fica meio que perplexa, mas a voz de Teresa ressoava tudo, menos repressão ao possível envolvimento de Cesar com Laura. Tudo o que Teresa queria era a presença imediata de seu advogado naquele momento.
É Teresa, vamos seguir a vida e tentar paliar a dor da perda. Porque será que o Ricardo só tinha uma passagem ein? E pelo visto essa Laura não é flor que se cheire não...
Aandel Prata
Idade : 41 Cidade : Barueri
Assunto: Re: Espelhos || Capítulo 5 23.08.14 1:02
É Wagner, Teresa terá que superar muita coisa além da dor da perda...
E Laura é muito dissimulada, isso sim, mas também tem seu lado "bom"!
Ricardo tinha apenas uma passagem, isso com certeza abalou Tereza Chivera, mais do que ela já estava, pelo visto ele escondia muitos segredos. Como disse o Wagner, essa enfermeira não é flor que se cheire, parece falsa, cuidado Tereza!