O Sol ainda disparava os seus primeiro raios sob uma fina chuva de outono... O Caixão de madeira escura é carregado por seis homens trajando ternos pretos. Todos caminham lentamente passando entre as belíssimas e fúnebres lapides e túmulos do Cemitério da Consolação... Teresa, sentada em uma cadeira de rodas guiada pela Enfermeira Laura, é a primeira de uma grande procissão que se segue... Mesmo com o braço engessado e uma dor de cabeça insuportável, ela garante que isto é pequeno diante do estrago em seu coração. Mesmo assim ela é uma completa dama... Nada de escândalos, como sua mãe sempre lhe ensinou a se portar em sociedade. As pessoas seguem o cortejo ao som de um coral de crianças, uma musica triste embala todos num só pensamento... Laura segura um Guarda Chuva e de todas as pessoas ali presentes, ela é a menos incomodada com a situação, talvez seu único pensamento é que aquilo deveria acabar logo. Afinal ela trabalha em um hospital e está mais do que acostumada com a Morte. Ela presta atenção em cada detalhe a sua volta, inclusive de uma pessoa observando tudo a distancia... Mas ela perde o interesse, quando percebe que o padre reza, pessoas choram enquanto outras lançam rosas e flores sobre o caixão que lentamente é disposto debaixo da terra. Entre túmulos e lápides, Clarice apressa Gustavo, mas que repentinamente ele a larga.
-Santo Deus, Gustavo! -O que aconteceu homem?
-Pode ir! -Vai! -Eu não tenho importância, eu era só funcionário do morto, diferente de você que é a amiga da viúva.
-Pelo amor, Gustavo. -Eu nem vou discutir isto aqui com você.
Clarice da às costas ao marido e continua andando apressada, atrasada. Ela chega ao local do enterro apenas para ouvir as ultimas solenidades para Ricardo, permanecendo um pouco distante observando a tristeza de Teresa sentada naquela cadeira de rodas. Quando o padre fecha a bíblia, todos se despedem da viúva e iniciam o regresso para fora do cemitério enquanto Clarice segue o fluxo contrario até finalmente tocar o ombro da amiga.
-Teresa!
Laura olha para a desconhecida com desdém enquanto Teresa, secando suas ultimas lágrimas com um lenço branco, encara Clarice.
-Eu sinto muito, Teresa! -Meu Deus, como eu sinto muito!
Teresa esboça um semblante sereno não desviando o olhar.
-É claro que sente! -Afinal, o Ricardo foi o grande amor da sua vida Clarice.
Não era uma questão, era um afirmação, Teresa sabe do que está falando. Clarice demonstra uma falta de reação desconcertada.
-Por favor Teresa, isso foi a muito tempo atrás!
-Eu sei. -E eu sei também, que um grande amor, a gente nunca esquece.
Clarice desvia o olhar, diferente de Teresa que insiste em encarar Clarice.
-Teresa, eu sou casada...!
-Eu sei... -E bem casada?
Teresa ergue uma mão em direção ao rosto de Clarice, na tentativa de tocar uma ferida no lado esquerdo da boca de Clarice, que vira o rosto tapando a ferida com uma das mãos. Teresa sabe a resposta.
-Creio que não.
Teresa abaixa a mão passando-a sobre a barriga de Clarice. Clarice chora e se abaixa, abraçando Teresa, as duas choram em silencio, Teresa é a primeira a se apartar, Laura claramente percebe que existe algo que interfere grandiosamente nesta “amizade”.
-Deus sabe o que faz, não é Clarice?
Teresa passa a mão novamente na barriga da amiga e com uma expressão mista de alegria e tristeza pergunta sobre algo que ela não deseja uma resposta.
-E como está nossa menina?
Clarice não contem as lágrimas, tapando a boca com uma das mãos.
-Ah, Teresa... -... -Falta tão pouco! -Logo logo minha menina vai estar aqui com a gente!
Teresa dá um sorriso pouco espontâneo, colocando uma mão sobre as rodas de sua cadeira, Laura segura à cadeira de Rodas tirando Teresa da presença de Clarice.
-Teresa?!
Laura para a cadeira mas Teresa não olha para trás. Clarice apenas abaixa a cabeça sentindo uma culpa gigante por um “crime” que não cometeu.
-Me perdoa! -Por favor Teresa, me perdoa!
Perdão, as ultima palavras de Teresa para Ricardo ressoam em sua mente. Com muito esforço Teresa vira a cadeira de rodas sendo auxiliada por Laura.
-Meu marido está morto e o meu filho também... -Em menos de um ano eu enterrei três pessoas que eu amo. -Deus sabe o que faz Clarice e você também deveria... -Dê graças a Deus por você ter condições de gerar uma vida, mas... -Mas deveria ter considerado bastante, quem deveria ser o pai dessa criança inocente que está no seu ventre.
Teresa gira a roda algumas vezes se reaproximando da amiga e pegando suas mãos.
-Eu não te culpo por ter me dado tantas esperanças Clarice... Não! Claro que não. -Seria até injusto da minha parte. -Eu só não estou pronta pra compartilhar da sua felicidade nesse momento. -E se alguém deve pedir perdão aqui Clarice... -Sou eu!
Clarice se abaixa novamente, abraçando Teresa. Tereza acaricia as costas da amiga e logo a aparta de si, encarando Clarice nos olhos.
-Não tenho certeza sobre o pai, mas você será uma mãe maravilhosa Clarice. -Disto eu tenho certeza.
Laura segura à cadeira fortemente e leva Teresa em direção à saída, ambas passam por Gustavo, Teresa não faz a menor questão de cumprimenta-lo, nem mesmo de olhar para a cara daquele homem, demonstrando uma total indiferença.
Próximo ao carro preto, parado com as portas abertas, esperando por Teresa, está um homem muito bem afeiçoado, cabelos grisalhos, olhos cor de mel, barba feita. Ele coloca suas mãos sobre as de Laura amavelmente, fazendo uma leve caricia.
-Pode deixar Laura, eu assumo daqui! -Eu levo a Dna.Teresa para casa.
Laura olha com um sorriso estampado no rosto e deixa o homem dominar a situação.
-Claro Dr.Cézar! -Dna. Teresa?!
-Está tudo bem minha querida. Nós nos vemos em casa. -Estou em ótimas mãos, como deve saber.
Laura se afasta meio que acanhada com a afirmação de Teresa, deixando ambos as sós e seguindo para outro carro preto, onde um motorista a aguarda. Cézar sorri e se mantém em silencio. Teresa é pega no colo por Cezar, enquanto ele a coloca sentada no banco traseiro passando o cinto de segurança, Teresa não perde a piada.
-Por quanto tempo pretende enganar a pobrezinha com seu doce charme?
Cézar por outro lado mantém a feição sorridente, olhando para Teresa com uma tentativa de se manter sério.
-Hum! Na verdade eu queria me desculpar por...
-Meu Deus! -Parece que tiraram o dia pra me pedir perdão.
-Desculpa Teresa, eu sinto muito mas, nós temos que falar sobre os empreendimentos da Kagi.
Teresa faz uma volta nos olhos, soltando uma respiração forte, enquanto Cézar se posiciona no volante do carro.
-Eu sei, eu sei... -Não é o que você queria, mas...
-Cézar! Eu não estou nada interessada em falar de negócios. -Não hoje. -Além do mais é um grande favor que você me faz em manter a administração da Kagi por enquanto. -Eu só quero um tempo... Sem preocupações, por favor!
Teresa encosta a cabeça no encosto fechando os olhos tentando vislumbrar algum momento feliz de sua vida.
-Ótimo! Eu não vou te importunar mais com isto, por enquanto. -Então, pra onde você pretende viajar?
Ele ajeita o retrovisor, encarando Teresa no banco de trás, ela pouco percebe ele a olhando.
-Ah, o bom Cézar, perspicaz como sempre. -Ainda não sei, só sei que quero um pouco de paz. -Muita paz!
Enquanto os últimos carros partem do cemitério, Clarice permanece diante da cova de Ricardo enquanto alguns coveiros completam o serviço de sepultamento, ela mal percebe a aproximação de Gustavo.
-Adiantou alguma coisa?
Ao ouvir aquela voz, Clarice sente um estalo no coração, susto e uma vontade de que ele não estivesse presente naquele momento.
-Pensei que você tinha ido embora!
Ele segura a mão dela com força, apertando como se falasse que não iria abandona-la tão facilmente.
-E perder o showzinho das duas? -Qualé, só porque você convenceu sua amiguinha a fazer o tal do tratamento pra engravidar, achou que ela ia te convidar pra tomar o chá das cinco com ela depois de tudo? -Se liga Clarice, a perua tá ligada na sua. -Ela sabe que tu já foi toda apaixonadinha pelo Ricardão dela. -Sabe o que é mais engraçado, além de você saber que a muié não podia engravidar, tu acabou ficando prenha só pra fazer inveja pra ela! -Que grande amiga você é heim Clarice! -Com amigas assim, quem precisa de inimigas? -E veio aqui pra esfregar esse barrigão na cara da ricaça!
-Nojento! -Você é nojento Gustavo! Seu porco!
Ela avança contra Gustavo mais uma vez, e como sempre ele revida estapeando Clarice. Gustavo olha inocentemente para os lados para prestar atenção de que ninguém viu o que ele acabou de fazer. Em seguida ele abraça Clarice como se a estivesse consolando-a, ela treme enquanto se esforça pra se soltar de seus braços, quando consegue, Clarice o encara com um desgosto que é sentindo na alma e segue para fora do cemitério, às lágrimas finalmente vertem num rosto petrificado de fúria... Gustavo por outro lado permanece ali parado diante do túmulo de Ricardo com poucas expressões que denotem algum sentimento.
-Seu desgraçado! -Filho da puta! -Por que eu confiei em você seu merdinha?!
Teresa e Clarice. pelo visto tem muita história entre essas duas mulheres. E o Gustavo cmo sempre sendo um covarde...
Aandel Prata
Idade : 41 Cidade : Barueri
Assunto: Re: Espelhos || Capítulo 4 22.08.14 0:17
Pois é Wagner, mas não é só entre Teresa e Clarice, Ricardo e Gustavo também entram nesta Historia antiga que tem muito pano pra manga!!! Aguarde e verás!!!
Prox Capitulo de Espelhos: O passado começa assombrar Teresa!
Luiz Carlos Bascos Platinum
Idade : 28 Cidade : Brasilia
Assunto: Re: Espelhos || Capítulo 4 22.08.14 9:21
Teresa e Clarice, São amigas mas uma era apaixonada pelo marido da outra... iii tem muita coisa aí nesse meio...
É verdade Vivi, o embate entre estas duas amigas será de proporções drasticas... Apesar de Clarice parecer disposta a esquecer o passado e viver o presente, esta amizade sera definitivamente enterrada!
Espero que estejam gostanto galera, opiniões e criticas são muito bem vindas para que Espelhos possa melhorar a cada capitulo feito com carinho pra vcs!
Essa amizade de Tereza e Clarice é bem peculiar, as duas eram apaixonadas pelo mesmo homem. E esse Gustavo é um poço de covardia, como pode? E pensar que te gente pior ainda, que até mata a mulher!