O médico entra no quarto da paciente com um costumeiro sorriso estranho para o ambiente, pegando logo o prontuário.
-Como está nossa paciente?
Uma enfermeira administra todos os procedimentos do quarto, verificando cada detalhe, soro, pulsação, medicação e o bem estar da paciente.
-Ela não comeu nada desde que acordou Doutor Eduardo!
-Deveria ter insistido um pouco mais Laura, assim não tem soro que de conta dela se recuperar.
Teresa se acomoda na cama com alguns resmungos, sinalizando que sente dores ao se mexer. A Enfermeira Laura logo se apressa em usar alguns travesseiros para acomoda-los nas costas da paciente.
-Não precisam dialogar como se eu não estivesse presente...
O Médico sorri falsamente para Teresa.
-É, Dna.Teresa, a senhora precisa se alimentar para se recuperar...
Com um olhar meio cético, Teresa tenta se controlar.
-Me fale o que eu ainda não ouvi Doutor. -Como por exemplo, porque meu marido ainda não veio me visitar? -Esta mocinha... Hnf! Ela parece muito faladeira pra certos assuntos, mas para outros... Sinceramente! -Me diga Doutor, qual a situação do meu marido? -O nome dele é...
O médico analisa alguns números dos monitores, transcreve alguns para uma prancheta, dá uma rápida olhada nas folhas restantes do prontuário e o encaixa novamente no local onde estava.
-A senhora precisa descansar e se alimentar...
-Eu não serei medicada, não comerei coisa alguma deste hospital, enquanto eu não tiver noticias do meu marido. Estou sendo clara?
Laura olha para o médico mas logo disfarça, dando continuidade a seus afazeres.
-...!!! Bem! -Aconteceu um grave acidente, Dna.Teresa. -A senhora sofreu um ferimento muito grave no abdômen... -O útero da senhora foi esmagado com a batida...
Uma faca em brasa parece atravessar o coração de Teresa naquele momento. Seu estômago revira e enjoa, uma ânsia toma conta de seu corpo fragilizado, mas o médico não perdoa e continua disparando toda sorte de má noticia.
-O Dr. Ricardo...
-Sim, o que tem o meu marido? -Onde ele está? -Ele está bem, não está? -Pelo amor de Deus, diga que ele está bem!
Os olhos de Teresa se envolvem em lágrimas num misto de apreensão otimista e uma tentativa de anular o pessimismo... Entre uma tentativa de sorriso e outra, ela não consegue segurar as lágrimas que rapidamente rolam e que rapidamente ela as enxuga com os dedos.
-O Sr.Ricardo não sobreviveu ao acidente Dna.Teresa. -Eu sinto muito, mas o dr.Ricardo está morto.
Teresa sente como se estivessem anestesiando-a... A aguda dor de uma agulha parece penetrar seu coração e sua alma, lembranças, centenas delas se misturam em sua mente, promessas que antes eram fortes como rochas são imediatamente pulverizadas... Logo ela é tomada por uma incredulidade risível que toma conta de seu rosto.
-Impossível!!! -Ele me ama! -Ricardo me ama! -Ele nunca me abandonaria assim!
A enfermeira Laura parece uma estátua, não se move, nem respira. O Dr.Eduardo abaixa a cabeça esfregando as mãos uma na outra com uma leveza diante dos fatos. Teresa busca seus olhos, procurando uma mentira, mas os olhares de todos estão petrificados.
-Ele não pode fazer isto comigo! -Tem algum engano! Ricardo me ama! -Santo deus, ele me ama!
Com as duas mãos tampando o rosto as lágrimas vertem vertiginosamente... Diante do silencio, Teresa se entrega a verdade: Ricardo está morto. ________________________________________