Caroline:
Bem, o que eu poderia pedir para Gabreel que o tirasse dali por alguns minutos? Fiz a cara de mais apavorada do mundo e comecei a mentir.
-Por acaso nenhuma pessoa entregou um iPhone aqui na portaria?
-Não senhorita, desde que cheguei aqui ninguém entregou nada. Faz tempo que foi perdido?
-Não, eu acabei de chegar do trabalho. Meu Deus, minha vida está nesse telefone, todos os compromissos, os endereços... o que eu vou fazer agora? Sou muito descuidada mesmo!!
Gabreel passou a mão pelos cabelos brancos e me olhou com cara de piedade, talvez pela minha encenada falta de jeito, e então, como eu esperava, se ofereceu para ajudar.
-Acalme-se senhorita, vou ajudá-la. Enquanto eu estiver lá fora procurando, ligue do telefone da portaria para o seu celular, pode ser mais fácil de encontrar.
-Muito obrigada, o senhor é um anjo!
Enquanto Gabreel procurava meu “celular perdido”, eu tinha acesso a todas as chaves do prédio. Peguei a 806 (do meu vizinho) e subi rapidamente. Ao me aproximar da porta ouvi, misturado com aquela música irritante, barulho de água. Ele devia estar no banho, era a hora perfeita de atacar. Haha! Vamos ver quem é que vai controlar a música que o outro ouve agora!
_________________________________________________________________________
Vizinho:
Eu trabalho tanto, passo semanas viajando ou ensaiando e quando estou em casa ainda tenho a Jess querendo consumir cada segundo meu, querendo passear, visitar a família e todas essas coisas que casais têm que fazer. Não é um sacrifício, é claro, já que ela é uma das mulheres mais lindas que conheci, mas de vez em quando me sinto sufocado com toda essas pessoas ao redor. É preciso dar um tempo dos amigos, da Jess, do trabalho, dos holofotes... E nesses momentos que venho pra cá, ouvir boa música, tocar meu piano e descansar, sem ninguém para interferir. Até hoje. Uma vizinha, acredito eu, começa a ouvir todas as músicas do Justin Timberlake a todo volume. Por favor, quero descanso dele às vezes. Educadamente lhe mandei um bilhete pedindo para reduzir o volume.
Ela, pela letra tenho certeza que é uma garota, respondeu de forma rude, não iria trocar, muito menos abaixar o volume. Eu nunca tinha tido nenhum problema com os outros vizinhos, mas se ela quer brincar, tenho que dizer que sou bom nisso. Coloquei uma seleção de mantras nas minhas super-potentes caixas de som e abafei o sonzinho dela. Pelo menos até que alguém nos mande parar, já que já passou da meia-noite. Eu só podia ouvi-la chutado e berrando do outro lado da porta. Não iria abrir, garota louca.
O silêncio voltou ao andar e reduzi o volume. Sorrindo, com a batalha vencida, fui pro banho.
_________________________________________________________________________
Caroline:
Se ele pensa que venceu a guerra, que idiota! Foi uma batalha apenas. Ele vai ver o que eu vou fazer com esses mantras. ¬¬’
Assim, me sentindo uma Bond girl, com a chave roubada da portaria entrei na casa do vizinho. Ele nem deixa a chave na porta, que idiota! A decoração e os móveis eram bons demais para serem de alguém que morava naquele prédio (tenho que admitir que meu prédio não é dos mais bonitos e chiques). Nossa, ele tem muitas caixas de som. E um bar repleto de bebidas. E um piano. Se ele não fosse esquisito e estivesse tentando me irritar, além de falar mal do meu baby Timberlake, de repente até poderíamos ser amigos. Não é esse o caso, então sejamos práticas e acabemos com isso.
Continuava surpresa com a sofisticação daquela casa. Era tudo muito impecável, porém parecia uma casa de solteiro, sem nenhum objeto feminino, ou bagunças, apenas uma camisa branca estava jogada perto do sofá. Lembrei que ele estava no banho e que tinha que ser rápida, antes que fosse pega.
Peguei as tais pastas de mantras e... EXCLUÍ. Hahahaha! Vem brincar agora queridinho, vem! Passei todas as músicas do Justin pra ele, aumentei todo o volume que as caixas permitiam e coloquei “SexyBack” pra tocar.
Ele gritou: “merda!”. Comecei a rir e ao invés de sair correndo do apartamento, queria ver quem era o dono daquele lugar tão bonito, que parecia perdido no meio de um prédio semi-decadente.
Quando de repente, ele aparece, com uma toalha branca na cintura, com os cabelos e todo o resto do corpo encharcado. E era uma das coisas mais perfeitas e inesperadas que eu podia ver.
Eu nem sabia se eu estava sonhando ou se havia bebido demais enquanto faxinava. Era ele. O próprio. O cara que eu estava defendendo e o que eu estava brigando eram a mesma pessoa. Era ele.
Senti o rosto pegar fogo e congelar ao mesmo tempo. Provavelmente estava com cara de idiota, ele parecia assustado.
_________________________________________________________________________
Vizinho:
Eu não gostava dessas músicas. Mantras eram chatos pra Caramba, mesmo assim, Jess insistiu que eu as ouvisse, para desacelerar um pouco o ritmo caótico em que vivo. Foram feitos especialmente para ela, por um cara lá da Índia, então que seja. Enquanto tomava banho pensava como a garota do lado deveria ser e qual a cara que deveria estar, já que não pode competir comigo.
De repente a música para. Em seu lugar, começa a tocar “SexyBack” na minha casa, a todo volume. Saí do banho correndo e fui ver o que estava acontecendo. Então encontro com uma garota.
Ela é atraente. Está com um short e uma t-shirt, de pés descalços, cabelos castanhos irregularmente presos em um nó. Me assustei. O que ela fazia aqui? Mas que era gata, ah, isso era!
Seu sorriso se transformou em pânico, acho que não esperava me encontrar aqui.
-Oi. Posso saber quem é você e o que está fazendo na minha casa? Esta porta estava trancada. E não me lembro de tê-la convidado para um drinque, embora nós possamos fazer isso depois...
-Ahm... Ehr...Justin?
