Caroline:
Enquanto eu dormia entre as caixas e móveis desmontados...
-Alô? Pronta para a entrevista? Claro! Tchau.
Mentira. Eu não estava nenhum pouquinho pronta, ainda vestia meu pijama e minha casa recém alugada era um antro. Havia malas, caixas, roupas e móveis por todos os lugares. E ainda tinha minha primeira entrevista de emprego.
Digamos que a minha mudança para New York não tinha sido da forma mais organizada e pacífica que se pode fazer. Depois de ter completado 18 anos e ter guardado o dinheiro dos presentes, saí de casa batendo a porta e deixando pra trás um pai. “Caroline Percless, pense bem, porque se você bater essa porta, pode esquecer que teve um pai um dia!!”. Bati. Com força.
Não era fácil deixar o conforto de casa para trás, mas eu sentia que precisava fazer isso. Era minha libertação, a chance de ser quem sempre quis ser e de fazer o que quisesse fazer. E para isso, sair da minha cidadezinha de interior era mais do que necessário.
Corri para o chuveiro, coloquei um vestido de tecido fininho floral, com uma flor perto do peito, sequei meus cabelos, calcei meus sapatos rosa e saí correndo.
Peguei um táxi e paguei o dobro para chegar o mais rápido possível.
Enquanto me maquiava no banco de trás, vi o reflexo de uma garota com grandes olhos verdes e cabelos bem compridos castanho, notava as sobrancelhas arqueadas, sinal de preocupação, mas era quase imperceptível, terminei de passar batom e respirei fundo. Sempre tive a tendência a ser impulsiva demais, mas hoje não. Hoje podia ser o começo de tudo que eu tinha vindo buscar em NY. E tinha que ser perfeito.
Meu incentivo financeiro para atravessar a cidade tinha dado certo, em quinze minutos estava na frente do prédio. Entrei correndo. Todas as outras candidatas já estavam sentadas. O diretor da revista então me olhou e perguntou:
-Caroline?
-Sim, muito prazer senhor, me perdoe pelo atraso.
-Ok, sente-se por favor.
Ouvi atentamente cada instrução. Eles procuravam uma candidata perspicaz, que fosse boa observadora e que não se sentisse intimidada e teria a chance de entrar em uma daquela das festas dos rappers, (aquelas típicas festas de clipe, onde vários rappers estão com mulheres babando atrás deles e muitas coisas rolando). Seria dada por Timbaland.
Vocês imaginam quanta coisa iria acontecer lá.
Depois de uma série de entrevistas e pequenas crônicas, eu fui escolhida. Vocês tem noção? EU, na festa do Timbaland. Morri.
A festa seria no outro dia. Cheguei em casa e decidi que ia começar a arrumar a bagunça. Coloquei minha trilha sonora inteira do Justin Timberlake (desde as primeiras músicas da carreira até as parcerias) troquei meu vestido por um short e uma batinha vermelha e comecei a limpar. Quando olhei para a porta de repente havia um bilhete colocado por baixo da porta.
“Me perdoe a intromissão, mas acho que esse é um prédio onde vivem outras pessoas e eu, particularmente, venho pra cá descansar. Então que não gostaria de ouvir Justin Timberlake. Ass.: vizinho do lado”
Como assim? Quem esse vizinho pensa que é? Aqui não é SPA pra ele querer ficar meditando oras. Que saco!
“Sinto muito, mas não vou tirar a música. Eu não estou incomodada. Ass.: a vizinha que você está enchendo.”
Então, o vizinho colocou uns mantras de meditação a todo o volume. Me irritei.
“Está bem agora? Estamos quites”Ah! Quem ele pensava que era? Tentei ser superior, mas isso durou cinco minutos. Decidi que iria bater na porta dele. Ele fingiu que não estava ouvindo. Chutei repetidas vezes e as músicas irritantes aumentaram ainda mais, gritei, mas nada adiantou. Tive que partir para as medidas drásticas.
-Boa noite senhor Gabreel (Gabreel é o meu porteiro).
-Boa noite senhorita Caroline. Em que posso ajudá-la?
(ri maliciosamente, aquele vizinho não sabia com quem estava mexendo)
-Que bom que o senhor perguntou.