LoveStoned || parte 43

Caroline:

         Chegamos ao escritório e o decorador do dia anterior já nos aguardava.

 

        – Mais calmos? Isso são horas de os donos da empresa chegarem?? Pelo menos me digam que pretendem me convidar para a noitada de hoje.

 

        Os meninos contavam rapidamente onde estavam na noite anterior, como o plano de me afastar de Justin já parecia bastante impossível sem saber o que ele tinha feito ontem, preferi me retirar da sala e ajudar Matthew a chamar os outros funcionários para começar a reunião.

 

          – Carol, o que houve?

 

          – Nada.

 

– Eu tenho três irmãs mulheres, não venha me enganar com esse nada... Você parece angustiada.

 

– Bem, Matthew, a verdade é que eu preciso jogar algumas coisas foras, mas parece tão difícil quanto jogar o suéter preferido, aquele cheio de furinhos que cheira como conforto deveria cheirar se tivesse cheiro. Ou o disco da banda que eu mais gosto no mundo.

 

– Se você precisa deixar ir, você deve deixar ir. Existem mais um milhão de melhores bandas do mundo, de suéteres e cheiros que o conforto deveria ter se tivesse cheiro. Você precisa apenas abrir os ouvidos para as novas músicas, permitir que seu corpo se deixe abraçar por outros suéteres...

 

Por que todo mundo parece ter um conselho na ponta da língua para me dar hoje? Matthew tinha total razão, eu ia ter mais mil músicas pra encontrar por aí, precisava destapar os ouvidos. Tarefa que só de pensar me fazia ter vontade de puxar meu próprio cabelo e correr em um campo vazio. Respirei fundo e sorri.

 

– Você é demais, vou até fazer o café para a reunião e poupar sua tarefa.

 

– Mas claro que não, se eu não fizer café e atender o telefone de Michele o que mais eu faria nessa empresa?

 

– Tudo bem, eu posso ajudar pelo menos?

 

– Venha até meu escritório, a cozinha, no caso.

 

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Justin:

               

                Depois de Trace contar toda a história da noite anterior para Chuck e eu ter relembrado o quão patética tinha sido minha tentativa de fingir que não me importava, todos estavam na sala de reuniões. Todos. Menos Caroline.

 

“A última vez que a vi ela estava na cozinha fazendo café com aquele novo estagiário.”

 

– Chuck sempre muitíssimo bem informado. Justin, você poderia chamar os dois, por favor?

 

MAS É CLARO QUE EU NÃO SÓ POSSO COMO VOU ACABAR COM A FESTINHA. Ao chegar à cozinha, ouvi o riso de Caroline.

 

“Desculpe, eu sou tão desastrada! Isso que vim ajudar...”

 

“Carol, a sua cara quando quebrou a cafeteira vale a bagunça que vou limpar.”

 

“Por que você continua conversando comigo? Desde que você me conheceu eu só atrapalhei e te coloquei em situações de risco.”

 

“E quem disse que eu não gosto de situações de risco?”

 

– Caroline, Trace está chamando para começar a reunião.

 

– Ah, tudo bem, eu acabei fazendo uma bagunça aqui, mas vou limpar, prometo.

 

– Você não precisa se preocupar com isso, Matthew, chame a moça da limpeza e depois vá para a sala de reunião, é bom que você assista ao processo para poder fazer parte dos próximos.

 

Caroline pegou a bandeja e saiu caminhando ao meu lado. O silêncio era pesado e eu só queria que ela quebrasse a barreira que tinha construído ao meu redor como quebrou a cafeteira.

 

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Caroline:

               

       A reunião passou se arrastando. Ficamos divididos nos grupos pós briga/escândalo que tivemos na noite anterior, Justin estava no grupo de Chuck e eu no de Trace. Era tudo muito divertido, os grupos competiam, se provocavam, montavam barreiras para não serem roubadas ideias... Chuck paquerava Justin e Matthew ao mesmo tempo, enquanto a equipe escolhia com quem ele deveria ficar. Não pude deixar de sentir um aperto no coração em pensar que essa era a minha última noite trabalhando na WR, estava amando cada canto daquele lugar.

 

         Depois de acabada a reunião, Trace convidou todos para jantar. Nos dirigimos a um restaurante bem diferente do que eles costumavam frequentar e parecia estar fechado para nós.

 

        – Antes de que todos fiquem bêbados e caguem para o que eu falar, queria dizer que estou muito orgulhoso de nós todos. Nós conseguimos. Em tão pouco tempo, com todos os contratempos, organizar um espetáculo. É claro que não podemos comemorar porque o desfile é só amanhã, mesmo assim, queria agradecer a todos pela equipe incrível. Falando em agradecer, Caroline, você foi muito mais do que uma agregada, eu, honestamente não sei o que vou fazer sem você, seus gritos e suas minissaias.

 

        Meus olhos encheram de água, por baixo da mesa Justin pegou minha mão e a acariciou. Eu sorri para ele e levantei minha taça em direção a de Trace. Todos brindamos.

 

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Justin:

 

                Então era isso, a última noite de Caroline na WR. Acariciei sua mão, não queria que ela fosse. Ela não queria ir. E se tudo que eu planejava desse certo, ela não iria. Mas e quando que meus planos com ela deram certo?

 

                Tirando toda a nostalgia, o jantar estava sendo bem divertido, todos conversavam e brindavam felizes, finalmente as semanas maçantes, de poucas horas de sono estavam quase acabando. Eu não podia deixar de perceber que a quantidade de copos ao redor de mim e Caroline era o dobro dos copos do resto da mesa. Ela me viu contando os copos e gargalhou. Aos poucos todos já estavam bêbados demais para continuarem ali e começaram a se dispersar. Eu não queria me dispersar. Fui até o banheiro e, quando voltei, o restaurante estava vazio. Ótimo! É bom ver que todos lembraram de mim. Sentei em uma poltrona no bar e então vejo que não fui o único esquecido. Caroline encarava o salão vazio.

 

          – Caroline nós vamos morrer de saudade de você, principalmente de te abandonar no dia da sua despedida... Pelo menos o bar não esqueceu de mim.

 

                Ela se dirigiu ao bar, pegou uma garrafa de tequila e sentou no balcão.

 

– Eu também não esqueci.

 

– Cacete, Justin!!!!! Que susto!

 

– Desculpe, não foi minha intenção.

 

– Você também foi abandonado?

 

– Ao que parece, sim.

 

– Você quer um pouco?

 

– Na verdade, estou bebendo uísque.

 

– Como sempre.

 

– Você quer carona pra casa?

 

– Não, estou bem.

 

– Caroline, nós moramos no mesmo prédio, me diga um bom motivo para não voltarmos juntos.

 

– Eu não devo.

 

– Então me diga que não quer.

 

– Justin...

 

                                                  __________

                                                   

                                                     Caroline:

Justin me encarava, seus olhos pareciam mais escuros e depois de beber toda sua dose de uísque, voltou a falar.

– Não me venha com Justin como se você fosse essa garota que só faz as coisas que deve. Você não é. Nunca foi. Nunca será. Você é a garota que queima com os olhos, que levanta os braços no maior foda-se que eu posso imaginar e dança nas censuras dos outros. Eu não consigo ver você de outro jeito. Sinto muito se toda a nossa situação te obrigou a colocar uma barreira imensa pra não me deixar passar, mas você precisa saber que também está se deixando do lado de fora do muro.

 

– É tão fácil para você dizer isso... Você tem a mais remota ideia de quão forte eu estou precisando ser? Eu estou quebrada, Justin. Que. Bra. Da. Eu só quero correr em um campo gigante e gritar e puxar meu próprio cabelo e chutar você. Eu não quebrava, nunca fui essa garota sensível, não tenho relacionamentos longos, adoro todos os cafajestes que já passaram por aqui, me despedi de cada um com um bom beijo e um ‘boa noite’. Nunca foi difícil, nunca fui eu que fiquei para trás. Até agora. É ridículo. É patético. E é por isso que eu não posso ser a garota que é impulsiva e queima com os olhos. Dessa vez, eu me queimei.

 

Ele se aproximou e acariciou meu rosto.

 

– Como você pode ser a coisa mais perfeita que eu já encontrei e estou te perdendo?

 

Eu não tinha o que responder. Nós dois ficamos em silêncio com nossas bebidas procurando a resposta para a última pergunta. A mão dele repousava na minha e só essa proximidade já me fazia querer esquecer tudo que tinha dado errado e puxá-lo para mim.

 

– Darling I'll bathe your skin, I'll even wash your clothes just give me some candy, before I go… Eu amo essa música.

 

– Então dance comigo.

 

– Justin...

 

– Oh, darling I'll kiss your eyes and lay you down on your rug just give me some candy after my hug.

 

Segurei a mão que ele me estendia e em um segundo estávamos envolvidos na dança mais triste que dançaria na vida, nossa última. Nós nos segurávamos forte, com os corpos entrelaçados e os olhos grudados. Sua respiração batia contra mim e a cada nota que passava parecia mais difícil me desfazer de tudo isso. A música acabou. Nós dançamos no silêncio. Então me desvencilhei de seu corpo.

 

– Acho que é melhor eu ir.

 

– Você definitivamente não sabe o que significa a palavra melhor.

 

– Fique.

 

Ele segurava minha mão. Respirei fundo.

 

– Você pode não ser mais minha amanhã, depois do desfile eu prometo sumir e facilitar as coisas para você. Não vou ligar, mandar bilhetes ou te encontrar no elevador. Você pode até sair com Matthew se for o que quiser. Eu vou sofrer feito um merdinha, escrever mil músicas sobre como te perdi, ganhar prêmios, ver como minhas músicas viraram juras de amor para outras pessoas e como fui incapaz de jurá-las para você enquanto pude, mas hoje... Você sabe que nós tivemos algo, ou tudo. Nós dois sabemos. Então, por favor, Caroline, nos dê essa noite. Olhe nos meus olhos, gargalhe das nossas ironias, corra, grite, me bata e puxe o próprio cabelo. Encoste sua cabeça no meu ombro e dance calada, ou se quiser, apenas me deixe te ver dormir no meu colo e me despedir de cada pedaço seu, mas fique.

 

Eu não tinha mais como resistir. Justin tinha quebrado todas as minhas barreiras e argumentos, enquanto seus olhos me consumiam e ele esperava por uma resposta, o beijei. Estava sendo minha pior inimiga e provavelmente contribuindo para me quebrar mais ainda amanhã, mas não iria pensar. Essa noite, pela última vez.

 

Candy – Paolo Nutini