Justin:
Caroline ainda dormia, com os lábios colados em mim, respirando profundamente em meu peito. Parecia tão frágil e vulnerável que me fazia envolvê-la mais apertado, protegê-la e defendê-la de qualquer coisa, mesmo que soubesse que ela estava longe de ser a pessoa que precisava ou gostava de ser defendida. Seguia desenhando com meus dedos em suas costas nuas e era inacreditável que finalmente estávamos tendo um momento como esse, não pude evitar de sorrir, devia ser a primeira vez em que dormíamos e acordávamos juntos sem brigar, ou desabar o prédio em nossas cabeças. Era o primeiro dia do resto dos nossos dias e sim, sei quanto isso soa clichê.
Ela começou a se mexer, devagar, acariciou meu peito, esfregou os olhos e então me encarou.
– Bom dia.
– Olá.
Ela seguiu me encarando, sorrindo.
– O que houve? Surpresa sobre como chegou aqui?
– Quem é você? Onde estou?
– Eu? Eu sou simplesmente o cara que você ama.
Ela me analisou, simulando incredulidade, levantou o corpo até ficar com o rosto a centímetros do meu.
– Tem certeza?
– Absoluta. E olha que não sou uma pessoa de acreditar em muitas coisas...
Mordi seu lábio e a beijei. O telefone começou a tocar. Caroline me empurrou, a puxei de volta.
– Você não vai a lugar algum.
– Justin, pode ser importante!
Um segundo depois ela rolava para o lado da cama.
– Alô? Oi, Trace! Um momento que vou te colocar no viva voz.
“Caroline! Bom dia/tarde! No viva voz? Então você está com Justin!!!!! HMMMMM... Estive ligando para os apartamentos de vocês dois a manhã inteira... Perdoem-me pela indelicadeza, mas em que buraco vocês se meteram?”
– Você quer mesmo saber onde eu me met...
Caroline corou e tampou meus lábios..
– JUSTIN! Não foi por isso que eu te coloquei na conversa. Nós estamos na casa de Justin, Trace.
“Então, como foi a noite de núpcias?”
– Trace!!
Eu caí na gargalhada, Caroline corou mais um pouco, apertando meus lábios.
“Eu sou o melhor amigo, ajudei e torci por vocês o caminho inteiro, mereço saber. Pelo menos uma nota, de 1 a 10, sobre o desempenho. Caroline, nós dois sabemos que se você não contar, ele vai, como contou nas outras vezes de vocês.”
– Existe mais algum motivo para essa ligação além de especulações sobre nossa vida sexual?
“Você é uma garota difícil... Na verdade, eu liguei para convidar os dois para almoçar, preciso conversar algo sério. Daqui a uma hora, no meu restaurante preferido?”
Como ainda estava ‘amordaçado’, assenti.
– Tudo bem, estaremos lá. Agora Trace Ayala, eu juro que se o assunto sério for a nossa vida pessoal...
“Serei profissional, prometo. Agora pode passar para Justin?”
– Não. Eu sou possessiva. E tentar retirar informações sobre a nossa noite, mesmo que por códigos, é muito, muito feio. Passar bem.
___________________________________
Caroline:
Desliguei o telefone e Justin sorria, com os enormes olhos azuis entreabertos. Voltei para os seus braços.
– Quer dizer que você conta tudo para Trace?
– Ele mentiu, só pra tentar te convencer...
– Porque será que eu não acredito?
– Não faço ideia. (segui encarando-o) Ok, garotos conversam um pouquinho, mas não teve nenhum detalhe.
– Garotos conversam... (beijei seu pescoço, subindo até seu ouvido) Então vamos dar alguns novos assuntos para vocês atualizarem.
Justin me segurou forte e enquanto me beijava, me virou, deixando-me imobilizida com seu corpo. “Seu pedido é uma ordem.” Trace, o assunto sério, tudo podia esperar.
Depois de um banho eu estava parada no closet de Justin, procurando qualquer roupa que pudesse usar para ir até meu apartamento. Acabei com um de seus blazers. Ele usava jeans preto, uma camisa xadrez branca e azul marinha, um cardigã azul marinho e óculos escuros. Estava lindo, como sempre.
– E você pensa que vai sair vestindo apenas um blazer?
– Não. Também vou pegar esse chapéu e esse óculos escuro.
– Ah sim, agora está tudo certo.
– Você sabe onde está o meu vestido?
Nós dois paramos por um momento, então lembrei que na noite anterior nós dois apostamos corrida para dentro de casa, mas já não usávamos mais roupas. Fomos até o pátio e lá estava tudo, inclusive minha bolsa e telefone, uma garota muitíssimo responsável, senhoras e senhores.
Chegamos ao meu apartamento e, enquanto ele vasculhava a geladeira atrás de algum ‘aperitivo’, fui procurar o que vestir. Escolhi um short curto com a cintura super alta, um top preto com a barra rendada e um casaco com franjas, meias e botas pretas, um colar e estava pronta.
– Isso tudo em quinze minutos? Uau.
Trace nos esperava em uma parte externa e privada do restaurante, que nos permitia almoçar no meio de um jardim, com os raios de sol como companhia. Conversamos sobre o desfile bebendo um bom vinho, Trace contou sobre toda sua noite sem nós, incluindo a hilária briga de três garotas por quem seria a primeira a tomar banho com que tinha sido acordado. Então lembrei que ainda não tinha falado com meu chefe da revista e fui ao banheiro.
_____________________________
Justin:
Caroline foi ao banheiro, Trace só esperou que ela saísse do jardim para começar o interrogatório.
– E então? Como estão as coisas? Vocês demoraram demais para chegar... Eu quero saber de tudo.
– Bem, Gossip Girl, sinto muito em decepcioná-lo, mas não vou contar nada.
– Você? Sem detalhes? Realmente quer que seja duradouro.
– Você ainda tinha alguma dúvida? Eu iria fazer aquele show inteiro se não fosse duradouro??
– Nós dois sabemos que quando se trata de garotas você não tem limites.
Revirei os olhos, essa coisa de Trace me conhecer desde criança nem sempre era boa.
– Quem sabe nós falamos sobre a real causa desse almoço? Antes que Caroline volte...
– Bem, eu tenho 1000% de certeza que estamos fazendo a escolha certa. Só preciso saber se é isso que você quer também, proximidade demais pode atrapalhar, sem contar que seus casos e flertes com modelos estarão com os dias contados.
– Como se você precisasse me dizer isso! Quanto a escolha, é o melhor não só para a WR, como para mim, nenhum de nós pode viver sem ela, negócio fechado.
Caroline se aproximou novamente, silenciamos.
– O que houve?
– Justin estava me enrolando sobre essa marca no pescoço dele.
Marca? Caroline me analisou e então corou. Tinha mesmo uma marca?
– Realmente nenhum de vocês dois sabia... Bem, depois de te deixar mais uma vez constrangida e corada, não vejo melhor momento para oferecer o que tenho para oferecer. Justin?
– Bem, espero que você ouça nossa proposta com carinho, pode esquecer por dois minutos que nós somos quem somos, que estamos envolvidos, inclusive, que um de nós deixou marca no pescoço do outro e nos veja como dois profissionais... E você sabe como eu sou detalhista em qualquer projeto que envolva meu nome.
– Não é novidade nenhuma para você que durante essas semanas em que trabalhamos juntos você se tornou parte da equipe e da família WR. Nós adoramos seu envolvimento até no que não era sua obrigação, sua paixão, sua disponibilidade para atravessar a cidade a qualquer hora do dia e da noite... Isso sem falar nos seus textos, nós lemos todos os esboços e anotações que você deixou no escritório, além de sua primeira matéria na revista, sobre a festa de Timbaland. Nós sabemos que você já tem um emprego, mas não podemos perder um talento como o seu sem ao menos tentar te convencer a entrar para o nosso time.
– O quê?
Caroline estava aflita, nos olhando com os grandes olhos verdes sem saber o que responder, eu podia sentir a empolgação emanando dela. O silêncio permanecia. Ela esvaziou sua taça de vinho e sorriu.
– Bem, eu tomei a liberdade de ligar para o seu atual chefe. Discutimos muito, ele não quer te deixar ir, mas consegui chegar a um acordo, caso você queira. Você tinha mandado uma série de crônicas para ele, sendo assim, ele abre mão dos horários convencionais de uma empresa, caso você entregue uma crônica por edição mais as ocasionais entrevistas e coberturas de eventos. Na WR você seria a responsável pelo setor de imprensa, trabalharia conosco em cada campanha, sem mencionar o salário, à altura de uma executiva.
– Por que eu tenho a impressão de que tudo já foi milimetricamente planejado para não deixar espaço para ‘talvez’?
– Porque esses somos nós, quando queremos alguma coisa, não aceitamos ‘talvez’.
– A aposta é muito alta, vocês têm certeza?
_______________________________
Caroline:
MEU DEUSSSSSSSSSSS!! Trace e Justin acabaram de fazer a proposta da minha vida!! Além de me quererem na WR, ainda queriam que eu fosse responsável por todo setor de imprensa? Já tinham falado com meu chefe, que ainda me entregaria o setor de crônicas (que eu sempre quis) na revista. Eu queria correr e me beliscar, era inacreditável!!! Será que eu estava preparada para isso?
“A aposta é muito alta, vocês têm certeza?”
Antes que eles pudessem responder eu já sabia a resposta. É claro que eles tinham certeza. Por mais que tudo fosse feito do jeito menos convencional possível, quando se tratava da empresa, os dois eram milimetricamente perfeccionistas. A verdade é que eu não cabia em mim de tanta alegria por eles pensarem em mim para a tarefa. Tinha amado cada dia que passei na WR, cada um dos funcionários, tanto que meu coração ficou apertadinho após a foto com a equipe, na festa de ontem.
– Caroline, nós não poderíamos ter mais certeza...
– Sendo assim, dêem oi para a mais nova contratada da WR.
Eles sorriram e brindaram. Enquanto eles planejavam um recesso de uma semana para depois recomeçarem com tudo, fechei meus olhos, me concentrando apenas em suas vozes e no fato de que nunca, em minha vida toda, as coisas tinham estado tão certas quanto agora. Depois do almoço, nos dirigimos a WR, Trace iria anunciar minha contratação e eu precisava assinar alguns documentos.
Quando chegamos, passamos por George, o amigo dos dois que parecia ter dado em cima de mim na festa de Timbaland. Ele estava com algumas caixas, Justin e Trace passaram reto e entraram na sala de Trace, que estranho, será que George estava indo para outra empresa? O que será que ele tinha aprontado. Sorri sem dentes em sua direção e ele me chamou.
– George, certo?
– Caroline. Sem dúvidas, porque eu não esqueceria uma garota tão bonita como você.
– Você está trocando de sala?
– Quem me dera. Seu namoradinho não te contou, não é?
– Eu não entendi...
– Bem Caroline, eu fui demitido, há algumas semanas, coincidentemente quando você chegou aqui. Você deve imaginar o motivo...
– Honestamente, não.
– Bem, digamos que Justin não era o único apaixonado por você na festa de Timbaland...
OI? MAS GEORGE SÓ PODIA ESTAR BÊBADO! DO QUE ELE ESTAVA FALANDO?
– Digamos que eu me envolvi com a garota misteriosa daquela festa e agi de má fé, entregando Justin para Jess. Quem pode me culpar? Eu era o cara certo para você! Ao sair daqui, Justin me fez prometer que não iria atrás de você, ou eu estaria arruinado. Eu prometi, mas estive pensando em você esse tempo inteiro...
– Você só pode estar brincando?
– Carol, é sério.
– Admita, você está bêbado?
– Não Little L., ele não está bêbado. Só simplesmente não sabe a hora de parar. Coisas que às vezes nós precisamos ensinar à força.
Os olhos de Justin queimavam, ignorando completamente minha existência, parou na frente de George.
– QUAL É O SEU PROBLEMA, SEU FILHO DA P U T A? EU SEMPRE TENTEI SER O MELHOR AMIGO QUE PUDE, TE DEI OPORTUNIDADES, PROJETOS, ABRI MINHA CASA E MINHA EMPRESA PARA VOCÊ!1
– NÓS DOIS SABEMOS O MOTIVO PELO QUAL VOCÊ FAZ ISSO, VOCÊ QUER SER O GAROTO DE OURO, QUE AJUDA OS AMIGOS PERDIDOS DO COLEGIAL, QUE SALVA CRIANCINHAS NA ÁFRICA, COM HOLOFOTES CONSTANTES E AS MELHORES GAROTAS, OS MELHORES CARROS, ENQUANTO NÓS SOMOS AS MARIONETES AGRADECIDAS QUE ENGRANDECEM ESSE ‘CARA MARAVILHOSO’.
– ISSO SÓ PODE SER BRINCADEIRA. COMO VOCÊ PODE PENSAR EM ME DIZER ESSAS COISAS? ENQUANTO EU ACHAVA QUE ÉRAMOS AMIGOS, VOCÊ SÓ QUERIA TIRAR TUDO QUE EU TINHA, SEU MERDA! PEGUE TUDO QUE É SEU E DÊ O FORA DA MINHA EMPRESA, AGORA! E NUNCA, NUNCA, N U N C A MAIS PENSE EM CHEGAR PERTO DE MIM, MUITO MENOS DE CAROLINE. PRINCIPALMENTE DE CAROLINE, PORQUE AÍ SIM, EU VOU SER O EX AMIGO FILHO DA P U T A RICO QUE VAI TE COLOCAR EM PROBLEMAS QUE VOCÊ NÃO VAI CONSEGUIR SAIR.
– AÍ VOCÊ VAI SER... VOCÊ SEMPRE FOI. MR. SUPERIOR, CONTROLANDO TODOS AO SEU REDOR, MAS UMA PESSOA VOCÊ NÃO PODE CONTROLAR... JESS ERA MINHA, POR TODO ESSE TEMPO, PELAS SUAS COSTAS. ALIÁS, JÁ VENDEU SUA CASA? EU TENHO TANTAS MEMÓRIAS E MARCAS LÁ QUE TALVEZ COMPRE-A DE VOCÊ. VOCÊ PODE ME FAZER COMPANHIA POR LÁ, CAROLIN...
Antes que ele pudesse completar meu nome, Justin tinha avançado em sua direção. Os dois estavam brigando, Justin tinha perdido o controle e se alguém não chegasse para separá-los era provável que George ficasse bastante machucado. Enquanto eu gritava pedido ajuda e tentava fazer Justin voltas à consciência, repassava a briga em minha cabeça. Jess tinha traído Justin. Por meses, ou anos. Com um dos ‘melhores amigos’ dele. Como duas pessoas podiam ser tão baixas? Ele não merecia. George estava sangrando muito. Justin não ia parar. Corri até a sala de Trace, ele era o único capaz de fazê-los parar.
