Caroline:
Meu cérebro continuava uma bagunça, eu continuava chorando e correndo, enquanto me sentia a pessoa mais patética de todas. Caroline, cadê a garota forte, que não se importa e é treinada no quesito cafajestes, que não chora por qualquer filho da p u t a, hein, cadê? E será que Justin era qualquer um? Não, não é. Ele é pior, porque para os outros você não liga a mínima. Para deixar Justin no passado vai ser necessário um esforço que até então você não estava acostumada a fazer, MAS VAI ESTAR!!!! As pessoas me olhavam esquisito, minha respiração, ofegante por causa da corrida, entrava em conflito com as lágrimas, então decidi caminhar mais devagar, antes que tivesse um troço.
De repente um carro para ao meu lado.
– Caroline, preciso falar com você...
– NÃO! ME DEIXA SOZINHA! Melhor, esquece que eu existo!
– Por favor, Caroline, me dê dois minutos, depois eu vou embora.
– Michael, eu não quero saber!
– Eu tenho tentado te ligar há dias, você não atende. Eu só quero...
– Eu confiei em você, pode ser que Justin tenha razão e eu tenha dado abertura sem perceber, mas achei que estava sendo sua amiga, sempre fui assim com meus amigos. Eu sempre te contei como me sentia em relação a Justin. É óbvio que você seria a melhor pessoa para me fazer esquecer e me dar estabilidade, eu sei, já ouvi isso antes. E concordo. Agora quem disse que eu queria desse jeito? A estabilidade que eu queria estava concentrada em nossa amizade, em ter alguém para confiar e dividir os problemas dessa minha vida meio bagunçada, que iria fazer piada de mim e tornar o caos mais agradável. Agora eu estou sozinha, com o coração mais quebrado do que nunca e não tenho mais ninguém para me segurar forte até tudo passar. Soa egoísta?
– Por favor...
– Para mim não soa, pois se fosse o contrário e alguém quebrasse você eu iria estar pronta pra te consertar e dar colo e dividir um pote de sorvete enrolada no cobertor enquanto fazia carinho nos seus cachinhos e tramava planos para derrubar a tal vadia.
Michael sorriu. Eu ainda chorava, mas estava mais calma por finalmente colocar tudo para fora.
– Mas é tudo culpa minha. Eu fui a típica garota do interior que confiou em todo mundo e se deixou levar e só se f o d e u. Devia ter ficado ordenhando vacas.
– Carol, nós dois sabemos que você não ordenhava vacas...
– Mas merecia, para deixar de ser retardada.
Michael abriu a porta do carro.
– Entre, Carol, eu te levo pra casa.
– Eu não confio mais em você, Michael, não depois de tudo.
– Entendo. Se eu sair por cinco minutos você me espera aqui? Não me olhe com essa cara, vai ser um momento épico.
Michael olhava em meus olhos e parecia completamente doce e sincero, sei que depois de tudo não deveria nem pensar em seguir meus instintos, mas já tinha perdido tudo essa noite, então, que seja.
– Cinco minutos.
– Você não vai se arrepender.
E tão rápido quanto chegou, Michael desapareceu. Eu sentei no cordão enquanto jogava pedras na estrada.
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Justin:
How – Maroon 5
I have been searching for your touch (Eu estive procurando o seu toque)
Unlike any touch I've ever known (Diferente de qualquer toque que eu já conheci)
And I'd never thought about you much (E eu nunca pensei muito sobre você)
'Til I'm broken down and all alone (Até que eu estivesse quebrado e sozinho)
Talvez ligar o rádio não tenha sido a melhor opção, a música só piorava a situação e me fazia querer encontrar Caroline mais rápido do que já queria ou PRECISAVA antes. Tinha que pedir desculpas, segurá-la junto a mim até que ela parasse de me odiar e estivesse disposta a ouvir e me aceitar de volta. Não podia perdê-la. Aliás, não podia sequer lidar com a possibilidade de perder uma das melhores coisas que já tinha recebido. A culpa é minha, mas, na verdade, desde que ela apareceu tenho estado tão atordoado e perdido que sequer pensei muito sobre para onde esse relação ia (ou se era mesmo uma relação). Não achei que ela podia cansar de todas essas idas e vindas que para mim eram exaustivas, mas, ao mesmo tempo, avassaladoras, como amor tinha que ser. Talvez eu seja um estúpido de pensar que, mesmo no meio de toda essa bagunça, podia considerá-la minha.
Quando finalmente a encontro, um alívio passageiro toma conta de meu corpo. Passageiro, pois um carro conhecido, com um amigo conhecido está parado ao seu lado. Michael. É claro que o melhor amigo apaixonado teria chegado antes para salvar a donzela. Nesse momento minha consciência, com a voz de Trace, me repreende: “Não seja estúpido, vocês acabaram de se acertar e se existe um jeito de se redimir com Caroline pode ter certeza que não é bancando o palhaço ciumento!” Sendo assim, espero até que a conversa dos dois tenha acabado e Michael tenha partido. Caroline senta no cordão, enquanto toca pedras na estrada. Quando me viu, levantou e começou a caminhar.
– Little...
– Não ouse completar... Acelere o carro e suma daqui.
– Caroline, você precisa me ouvir...
– Ouvir? O c a r a l h o! Sabe do que eu preciso? Que você suma!
– Car...
– Sabe que desde que eu me mudei para NY essa é a primeira vez que eu de fato desejei nunca ter saído da minha droga de cidade?
Ela me olhava com olhos sinceros e eu me sentia um merda por fazê-la se arrepender de ter vindo para o lugar que mais a pertencia no mundo. Imagina se ela não tivesse vindo? Como eu estaria agora? Na mesma ‘felicidade’ clichê, enquanto tudo ia ‘bem’ e eu não me entusiasmava com nada há muito tempo? Com um de meus amigos e minha namorada me traindo? Caroline definitivamente tinha me virado do avesso em poucos dias. Abri a porta do carro.
– Justin, se afaste, eu vou gritar! Vou correr! Vou chutar o seu saco!!!
– Caroline, você pode fazer tudo isso, eu mereço, mas me ouça, nem que seja um pouquinho.
– Eu não quero ouvir nada, Justin! Não quero ver você fingir que se importa. Não quero ouvir suas desculpas. Muito menos suas explicações. Nada. Eu sou tão estúpida que sou capaz de acreditar... Fique tranquilo, você não me devia nada, me encare como uma daquelas loucas que faz uma cena gigante porque achava que o que caso bagunçado que vocês tinham era uma coisa única e espere os dois dias que faltam para o desfile acontecer e eu sumir da sua vida.
Caroline se preparava para recomeçar a caminhar, então segurei sua mão.
– Você realmente acha que eu posso fingir que nada aconteceu e que o que tivemos foi mais um caso bagunçado? Eu agi como um idiota, eu sei, nós chegaremos na parte das desculpas se você deixar, mas agora, você tem a mais remota ideia de que esses dias com você têm sido a melhor coisa que me acontece em anos? Você me acordou de um completo estado de apatia, me revirou, me mostrou coisas que eu nem lembrava mais... Essa nossa bagunça e você consomem cada minuto dos meus dias, eu durmo e acordo pensando em como vai ser o nosso próximo dia.
– E mesmo assim, no meio de tudo isso, você conseguiu achar tempo para outras coisas...
– Car...
– Por favor, Justin, pare.
E eu sabia que nada que dissesse faria com que ela fosse voltar atrás, pelo menos por enquanto. Mesmo assim, não custava tentar.
– Eu sei que nada vai mudar o que você pensa agora. Sei que também não é o momento para isso, mas você precisa saber. Eu te amo, Caroline.
Caroline virou-se para mim, elétrica, como se tivesse acabado de tomar um soco no estômago.
– Meu Deus, eu não posso.
E então saiu correndo mais uma vez. Não era nem de perto a reação que eu esperava. Eu tinha acabado de me abrir e ela fugia? Definitivamente não era o momento certo. Mas só de finalmente dizer em voz alta que a amava, me sentia menos confuso em relação a tudo isso. Era amor. Ponto. Ela estava cagando para isso. Eu? Só precisava ir para algum lugar longe de toda essa história. Enquanto ligava para Trace o carro de Michael voltava para a rua em que Caroline estava sentada antes de nossa conversa. Filho da p u t a!
“Trace?”
“E então? Já se acertaram? Podem me agradecer pelos sábios conselhos amanhã.”
“Eu disse que a amava. Ela disse que não podia. Michael está chegando para buscá-la.”
“E você precisa de seu melhor amigo para uma noitada de fossa?”
“Exatamente.”
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Michael:
Caroline estava magoada, destruída, cansada de tudo. Principalmente de mim. Eu, por mais que tivesse sentimentos muito mais fortes, iria ser o amigo que ela precisava nesse momento. Dirigia rápido, catando um cobertor, sorvete, mais alguns doces e lanternas. Essa noite (e provavelmente todas as outras) vou engolir meus sentimentos e me importar com os dela. Estar ali, para ajudá-la a juntar os pedaços.
Meu carro para na rua em que a deixei, mas esta está vazia. Onde será que essa garota se meteu? Decido dar a volta na quadra e então a encontro, encolhida em uma árvore, soluçando. Corro até ela e a envolvo em meus braços.
– O que houve, Caroline?
– Eu o odeio, Michael, odeio, odeio, odeio.
– Nós dois sabemos que isso não é verdade, querida.
– Não, não é. EU SOU UMA IDIOTAAAA! ELE DISSE QUE ME AMA, EU O AMO, MICHAEL.
– E você disse isso pra ele?
– Não pude. Ele sequer deve estar falando a verdade, mas a imbecil aqui já estava se deixando levar, MAS NÃO MAIS!!! Eu o odeio, Michael...
Pego nossas cobertas, os doces, o sorvete e coloco tudo na calçada. Caroline sorri, limpando as lágrimas e se cobre, abraçada a mim, contando toda a história, desde o princípio, para que eu possa ajudá-la a perceber em que ponto específico ela começou a errar. Embora já saiba de cor cada um dos dias, deixo-a falar. Acaricio seus ombros e rio de suas histórias que deveriam ser trágicas, mas que com as mudanças de humor e todas as ações impulsivas dela (como por exemplo mandar Justin se f o d e r em uma reunião na frente de todos os colegas, chutá-lo no primeiro dia que se conheceram, fazer pacto de silêncio e fingir que não o conhecia) se tornavam incríveis. Do tipo que renderiam um livro. Do tipo que eu queria ter. E nesse momento, enquanto ela ainda fala e o sol está quase nascendo, tenho certeza que Justin foi sincero, ele a ama. De verdade.
– Caroline, ele te ama.
– Ah não, Michael, você também não!!
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Caroline:
Michael ouvia todas as histórias de Justin, mais uma vez, como se fosse a primeira. Sorria como quando era meu amigo e conforto, enquanto fazia carinho em meus ombros e dividia a colher em um pote de sorvete. Estávamos os dois abafados na calçada e eu me sentia ao mesmo tempo despedaçada por tudo que tinha acontecido e grata por todo o esforço que ele estava fazendo para reconquistar nossa amizade. Justin tinha dito que me amava. DEUS, POR QUÊ????? Como se já não fosse difícil o suficiente esquecê-lo quando ele era apenas um babaca.
De repente, Michael me encara: “Caroline, ele te ama.” OI? NÃO, ELE NÃO ME AMA NÃO.
– Ah não, Michael, você também não!!
– Você pode fingir que não. Eu sou um amigo de bosta por dizer isso só agora, mas tenho quase certeza de que sim, ele te ama. Pode ser impulsivo, imaturo, correr pra primeira garota no primeiro sinal de crise, mas te ama.
COMO ASSIM ME AMA? Michael só pode estar me testando. Ou ter sido subornado. Era ingenuidade demais acreditar nisso. Mesmo assim, meu coração idiota acelera com a ideia e minhas lágrimas retornam. Respiro fundo. Não vou ser ingênua. Não mais.
!
