Justin:
Saí correndo atrás de Caroline, embora minha vontade era me bater até entender como tinha conseguido estragar tudo de forma tão rápida e estúpida. Realmente era uma incógnita como eu podia ser tão imbecil. Enquanto não a encontrava, sentia que minha respiração estava mais ofegante e o desespero que a possibilidade de perdê-la me causava era sufocante. Eu não iria me recuperar. Sim, sei o quanto isso é clichê, mas a única coisa em que consigo pensar é em como fazer para que ela me perdoe, considerando o quão teimosa e difícil ela costuma ser. Ok, dessa vez com razão. Estou definitivamente f o d i d o.
Então alguém me segura pelo braço.
– Trace está esperando por você pra começarmos a reunião.
– Michael...
– Não me olhe com essa cara, irmão, eu sou o mais afetado por tudo o que aconteceu graças a minha estúpida tentativa de forçar a barra com Caroline. Talvez tenha perdido-a para sempre. Não quero perder você também. Aliás, como vocês estão?
– Ótimos.
Estaca comovido com as palavras de Michael, sabia que os dois não tinham a menor chance e que estava sendo um péssimo amigo por não perdoá-lo. Eu iria perdoar, mas não hoje.
– Nós conversamos outra hora, Michael, já estamos atrasados.
Mesmo que meus pensamentos estivessem em outro lugar (ou pessoa) entramos na sala de reuniões. Lá estava ela, sentada em um canto, em silêncio com uma xícara gigante de chá, enquanto todos os outros conversavam. Era muito diferente do que costumava ser, mesmo assim, ela ainda parecia muito mais forte do que eu esperava que estivesse. Seu rosto sequer virou em minha direção.
– Bem, finalmente chegaram as mocinhas... Dando início à reunião gostaria de lhes apresentar Chuck, nosso decorador!
Chuck já havia trabalhado conosco algumas vezes. Era incrivelmente alto, mesmo assim usava saltos azuis, uma franja comprida e o cabelo descolorido. Geralmente costumava ser o rei do drama. Caroline seguia com os olhos grudados nele e eu queria que pelo menos por um minuto eles cruzassem com os meus e ela entendesse, naquela nossa conexão instantânea, que tudo não passou de um mal entendido. Voltei a olhar para Chuck, ele por sua vez me encarava.
– Então, Justin, o que você acha?
– Desculpe, sobre o que?
– Querido, com esses seus olhos azuis dessa vez que até perdôo, mas, a partir de agora, enquanto eu estiver falando todos os olhos e atenções em mim, certo?
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Caroline:
Estava evitando olhar para Justin pelo que parecia ser uma eternidade. Ele seguia me olhando com aqueles olhos tão tristes e distantes, como se importasse e eu só queria saber o por quê. Você não se importa, seu idiota. Chuck falava sem parar sobre o sentimento que queríamos passar com essa festa.
“Então, Justin, o que você acha?”
Justin parecia estar em outra dimensão, bem longe daqui. Antes que pudesse jogar minhas canetas, gravador e notebook nele, por ser tão falso, comecei a falar.
– O baile branco e preto por si só já parece algo clássico. Acho que devemos misturar isso com detalhes modernos, fazer com que todos os contrastes e pessoas sejam bem recebidos e sintam que tudo pode acontecer. Uma pista romântica, iluminada com pequenas luzes. Outra dance, escura, com neons. Quem quiser namorar tem um lugar calmo e tranquilo, quem quiser paquerar ou simplesmente dançar até esquecer de tudo, uma pista insana com ótimos DJs. Cabines de fotos também seriam super divertidas. E parece que eu falei demais e todos estão me encarando...
Meu rosto queimava lentamente enquanto a sala permanecia em silêncio. Chuck foi o primeiro a responder. Bateu palmas para mim e colou uma estrelinha em minha testa.
– Estou arrependido.
– Desculpe, Trace, acho que me empolguei.
– Calma, Caroline, meu arrependimento não é com você e sim com o salário que pagarei para Chuck sendo que a ideia é sua.
Justin continuava em silêncio. Idiota, deve ser muito difícil fingir que se importa. Uma lágrima escapa e a seco antes que alguém pudesse perceber. Hoje nós seremos fortes. Trace apontava para um grupo de pessoas.
– Você, você e você cuidarão da parte moderna, junto com Justin e Caroline. Os que sobraram, ficam comigo e Chuck, no glamour dos bailes de época. Tudo bem?
– Na verdade, não.
Todos me encararam, menos Justin que já sabia quais eram os motivos.
– Olha, Trace, por mim não tem problema algum.
ELE. SÓ. PODE. ESTAR. BRINCANDO!!!!! O fuzilei com os olhos, mas ele não parecia se importar.
– Caroline, você tem algum motivo para não querer trabalhar com Justin?
ALÉM DE ELE SER UM FILHO DA P U T A TRAIDOR QUE ACABOU DE CAGAR NOS MEUS SENTIMENTOS E EU QUERER ATROPELÁ-LO COM UM CAMINHÃO E DEPOIS AMARRAR OS PEDAÇOS EM UM TRILHO DE TREM? NÃO, TRACE. NENHUM MOTIVO.
– Na verdade, acho que não estamos aptos a fazer parte do mesmo grupo pois nossas ideias divergem em diversos aspectos, como a importância que damos a determinados detalhes e pessoas.
– Você acha, Caroline? Para mim vocês dois se completam.
Sabe o que me completa? Luvas de boxe!!!
– Sabe, Trace, não poderia concordar mais com você. Aliás, para mim, nós somos exatamente iguais.
OI? Respirei fundo para não fazer escândalo. Em que situação, em que mundo nós poderíamos ser considerados exatamente iguais???? Justin me olhava irônico, com os olhos em chamas. Eu tinha perdido alguma coisa? Como que de culpado que sentia muito ele tinha passado para atacante que achava que nós dois éramos exatamente iguais?
– Algum dos dois quer explicar?
– Não existe o que explicar, Trace. Todos aqui queremos a mesma coisa, que o desfile E a festa sejam um sucesso. Para isso, Justin e eu não podemos trabalhar juntos, o que tocamos rapidamente desmorona, é uma coisa que vem com a gente, que não podemos mudar. E a causa é exatamente o que eu disse antes, queremos coisas diferentes demais.
– Contrastes, Caroline, como você mesma disse.
– Nem sempre eles funcionam, Chuck.
Segurava meu gravador tão forte que poderia parti-lo em 14 pedaços diferentes. Na verdade, estava me segurando. Justin me olhava incrédulo. Eu sabia que a maior parte das pessoas na sala sabia que não estávamos falando de trabalho. Era provável que eu estivesse me abrindo demais, mas f oda-se.
– Sendo assim em seu lugar colocamos...
– Onde está Michele? Ela parece bastante prestativa. E tenho certeza que vai fazer um ótimo papel me substituindo no time Justin, embora para ele não faça muita diferença em quem ocupe o lugar de quem.
Justin estava pronto para levantar.
– E assim Caroline fica livre para acompanhar Michael. E ainda pode colocar a culpa em mim.
– NÃO VENHA COLOCAR A CULPA EM MICHAEL OU SE FAZER DE COITADINHO.
MERDA! Antes que pudesse perceber, já havia gritado e levantado da cadeira. COMO NÓS TÍNHAMOS CHEGADO A MICHAEL? Justin só podia estar brincando!!!! Principalmente depois de tudo que ele aprontou ainda quer colocar a culpa EM MIM?
– Desculpem. Bem, a prova que faltava de porque não podemos fazer isso está aí.
– E é aí que você se engana, Caroline, nós somos tão iguais que chega a ser assustador. Você pode até não perceber, mas nunca passou pela sua cabeça o quão egoísta estava sendo de deixar que ele se apaixonasse só porque estava perdida e precisava de alguém? Ninguém entra se a porta estiver fechada.
AH AGORA EU SOU CULPADA POR MICHAEL TER ME AGARRADO EM PRAÇA PÚBLICA? EU VOU ARRANCAR A CABEÇA DE JUSTIN! E tudo isso na frente da empresa inteira! Ele estava de pé na outra extremidade da mesa, me encarando, seus olhos brilhavam e pareciam maiores do que eu me lembrava. Os meus queimavam. Ninguém ousava falar.
– Claro. A culpa é minha. De tudo. Principalmente do seu problema de não conseguir manter as mãos longes de qualquer mulher. EU FUI EGOÍSTA? Você só pode estar brincando. ME FAÇA UM FAVOR E VÁ SE FODER.
– Você quer me acompanhar, Little L.?
Contei até cinco, ignorando todas as tendências assassinas e comecei a guardar minhas coisas.
– Desculpem por isso. De verdade. Eu não consigo mais ficar aqui, mas se precisarem de qualquer coisa me chamem e eu providencio de casa. Qualquer mudança me mandem por e-mail para que eu coloque nas anotações. Mais uma vez, desculpem. Chuck, foi um prazer.
Fechei a porta e ao entrar no elevador meu corpo parecia pesar uma tonelada, enquanto as luzes dos andares piscavam e eu estava sentada em um cantinho, encolhida, não acreditava em como tudo tinha desandado tão rápido. Como ele podia ter jogado Michael na minha cara se sabia desde o início como eu me sentia em relação a tudo isso? Era um imbecil!!! Muito mais do que eu podia imaginar.
Ao sair do prédio as lágrimas finalmente puderam se libertar, toda a raiva, a decepção, a sensação de se sentir uma completa e perfeita idiota se misturavam e a única coisa que eu podia fazer era correr. E corria, o mais rápido que conseguisse, como se meus problemas pudessem ser deixados naquele prédio.
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Justin:
Caroline tinha acabado de fechar a porta. Todos continuavam estátuas, sem saber como reagir. Eu seguia segurando as duas pontas da mesa, como se meu corpo queimasse. O que tinha acabado de falar? Como podia ter perdido o controle? ‘Preciso recuperá-la’. Isso, Justin, perder o controle, culpá-la por coisas que nem são culpa dela e não assumir os seus próprios erros são, sem dúvidas, o caminho que você devia seguir. No fundo devo ter pensado que quando ela perdesse o controle, iria me bater, me beijar e tudo voltaria a ser como antes.
Aparentemente eu estava errado.
– Bem, a reunião de hoje está encerrada. Os grupos seguem iguais, exceto por Caroline que troca de grupo com Chuck. Estão dispensados para trabalharem em seus grupos. Menos Justin e Michael, que vêm comigo.
Entramos no escritório de Trace, ele fechou a porta e parecia sério.
– Alguém poderia me explicar que p o r r a foi essa?
– Trace, eu peço desculpas pros funcionários depois.
– EU ESTOU CAGANDO PROS FUNCIONÁRIOS!! Adrenalina é sempre bom pra fazer eles serem criativos. Quero saber o que está acontecendo entre você e Caroline, Caroline e Michael, você e Michele. EU PASSO TODOS OS DIAS COM VOCÊS E NINGUÉM ME CONTA NADA?
– Sinceramente, não estou com paciência para falar disso agora.
– Você prefere falar sobre como foi um idiota com Caroline, expondo os problemas de vocês na frente de todo mundo e colocando a culpa nela por um possível rolo com Michele? Michele, Justin, de novo?
Bem, se esses eram os dois tópicos que nós poderíamos conversar, de repente era melhor explicar o que tinha acontecido e assim, de repente, eu mesmo conseguiria entender como chegamos até aqui. Michael contava suas partes, Trace apenas ouvia.
– Então quer dizer que você correu atrás de Michele porque Michael beijou Caroline à força? Coitada da Caroline, está cercada de idiotas.
Nós dois o encaramos.
– Não me façam essa cara! Nós três sabemos que existem momentos e momentos, pessoas e pessoas. Às vezes nós queremos coisa de uma noite só e somos os maiores babacas de todos, não ligamos, sumimos, passamos a garota para outros amigos... Mas Caroline não é isso para nenhum dos dois, então por qual razão os dois agiram feito completos filhos da p u t a? Michael, você pode até estar apaixonado, mas, para ela, era o melhor amigo, para quem ela chorava porque o cara babaca de quem ela gosta só faz besteiras e a obriga a sair de madrugada para salvá-lo bêbado brigando com motoqueiros. Agora, Justin... Todo mundo nesse prédio sabe que você é completamente louco por essa garota e que ela é louca por você, a ponto de aguentar todo o drama envolvendo Jess, todas as cagadas que você fez desde que se conheceram e abrir mão de qualquer tempo par estar com você ENTÃO POR QUE MICHELE C AC E T E?
– Porque achei...
– Que ela estava com Michael, eu já entendi. E é claro que você tinha que pular no colo da primeira garota que aparecesse, não é mesmo?
– Até parece que você é diferente...
– Não sou, mas, se fosse você, deixaria que ela me batesse, me amarrasse, me chamasse de cachorro e até colocasse uma coleira em mim, ao invés de tentar virar o jogo contra ela, VOCÊ NÃO PENSA?
– Mas...
– EU NÃO QUERO SABER DE MAS, JUSTIN!! Você, aliás, vocês dois erraram. E feio. Caroline foi duplamente traída e eu estou cagando se ela não é sua namorada e estava beijando o papa na Torre Eiffel, ou se ela deu sinais que só Michael entendeu como sinais, vocês dois devem desculpas a ela. E um ao outro, porque eu não aguento mais essa ceninha de garotos de 10 anos que não vão a tal lugar se o outro estiver. Eu não mereço passar por isso e, acima de tudo, ela não merece. Agora, estou odiando esse meu tom de voz sério, então vão resolver a p o r r a dos seus problemas como adultos, ou os dois vão acabar perdendo Caroline para sempre. Se é que já não perderam.
Trace estava com uma das mãos na cintura, eu e Michel estávamos de cabeça baixa e essa cena de mãe dando bronca seria cômica se não fosse tão séria. Michael e eu nos abraçamos e nos desculpamos, depois entramos em nossos carros e fomos procurá-la. Podia ser que a tivéssemos perdido, podia ser que eu nem merecesse tê-la de volta, mas não podia deixar de tentar.
