Leandro é um jovem de classe média alta, mas diferente, do tipo que trabalha incansavelmente para erguer os negócios da família. Maduro aos recém completados 20 anos, é sócio proprietário de seu pai numa empresa de produção de materiais plásticos que leva o sobrenome da família: Monte Verde. Por conta dessa sociedade, seu sonho é se formar em Engenharia Mecânica para transformar a empresa em uma verdadeira potência. À noite, ajuda na administração do restaurante italiano de sua mãe, situado em uma famosa avenida da Zona Leste de São Paulo. De jeito pacato, carinhoso, atencioso, sincero, divertido e educado, tem aparência que atrai de imediato a qualquer garota – moreno claro, olhos castanhos e puxados, sorriso largo e 70kg bem distribuídos em 1,80m de um corpo esbelto e forte -, mesmo que seja difícil para elas interessá-lo e mantê-lo verdadeiramente interessado, assim como apaixonado. Não levou a sério nenhum dos poucos relacionamentos que viveu. No dia a dia, ocorre um olhar aqui, um sorriso ali, um bilhete, nada sério. Pelo menos por enquanto, na lógica dele.
Após mais um longo dia de muito trabalho, conforme a rotina estabelecida há dois anos, Leandro chegou a casa, tomou seu banho e foi navegar na Internet, no horário de costume, para responder aos tópicos da comunidade Manual do Jovem, um espaço destinado como tira dúvidas aos adolescentes sobre assuntos como família, estudos, relacionamentos e sexo. Como membro ativo da comunidade, conversava com outros jovens, também membros, fora do ambiente da rede social, por meio de outras redes, o que lhe rendia boas amizades.
Nesse momento de sua vida, pensa ele, nenhuma amizade pode ser melhor do que a de Nathália, também pertencente à comunidade e muito admirada pelos jovens em virtude dos sábios conselhos que dá e de sua participação freqüente. A popularidade, inteligência, educação e simpatia da moça chamaram logo a atenção de Leandro. Ela é simplesmente incrível! Tanto que precisa saber se é real. Dias antes, havia pesquisado tudo sobre ela no perfil social desbloqueado, no qual aparece sua idade, residência, formação, estilo de vida, preferências e, o mais importante: o estado civil. Sim, além de ser uma linda morena clara de 18 anos, olhos verdes, rosto angelical e corpo estilo “violão”, ter um futuro promissor – estar preparada para prestar o vestibular para as melhores universidades do Estado de São Paulo – e trabalhar por conta própria como professora de reforço, Nathália também é solteira. Decidiu-se por investir, conhecê-la melhor. Então a adicionou no chat. Assim que a viu online, iniciou uma conversa:
- Como te disse, é um enorme prazer te conhecer! Você tem mesmo um carisma incrível! Conquista tanta gente! J - digitou Leandro em animada conversa virtual com a popular companheira de comunidade.
- Para mim também foi maravilhoso te conhecer. Eu faço o que posso. Sinto que esses jovens precisam tanto da gente, sabe? De nós, que também somos jovens. Eles não têm apoio nem companhia.
- Isso é verdade. Pelas suas postagens parece que você já foi adolescente e hoje é uma adulta, de tão bem resolvida. Isso me impressiona! – continuou Leandro, ainda mais entusiasmado.
- Parece que não, mas eu já passei por muitas coisas e também nunca tive apoio. Não tenho muitos amigos nem intimidade com minha família. Fui aprendendo as coisas do mundo por conta própria! – riu.
- Não tem muitos amigos? Quem tem,então? E nós, o que somos?
- Não tenho amigos que moram aqui perto. A maioria são vocês, os virtuais.
- Como pode uma menina tão linda não ter namorado? Não tem homem onde você mora? – replicou Leandro, atrevido.
- Posso dizer que tem, mas nenhum me interessa. São todos uns bobos. Falei demais sobre mim. Agora, quero saber mais sobre você! O que faz, do que gosta, enfim. Você é muito interessante!
O coração de Nathália estava aos pulos, assim como o de Leandro. Não foi preciso muita conversa para que descobrissem a incrível a sintonia entre os dois. De temperamentos parecidos, quase idênticos, um complementava a fala do outro, de modo assuntos não faltaram, o que os levou a conversar todos os dias após o retorno de Leandro do trabalho, sob chuva ou sol.
Mal completou três meses que se conheciam e já estavam apaixonados, sem ao menos terem se visto pessoalmente por alguma vez. A garota era tratada como namorada e tinha certeza de que Leandro seria o namorado perfeito, também porque nunca havia conhecido um rapaz por tanto tempo. Por ser uma garota muito meiga e séria, os rapazes que topavam conhecê-la permaneciam em sua vida por no máximo 2 meses, entediados com sua postura fixa de “boa moça”, que sempre via expectativa de compromisso, até mesmo em um namorico de fim de semana.
“Encontrei o meu amor. É certo que, esse sim, será meu namorado. Ele é perfeito e nós nascemos um para o outro”. Assim pensando, decidiu-se por finalmente conhecê-lo. Queria marcar um jantar em sua própria casa. Sabia que não era o adequado para um primeiro encontro com um internauta, mas confiava nele e seus pais haviam concordado. Sabia também que morava bem distante de sua casa – ela morava em Pinheiros e ele em Itaquera-, mas ele tinha carro e era certo que não se importava com a distância, porque o interesse por ela era tudo.
Como de costume, esperou a noite chegar e se conectou para fazer o convite.
- Boa noite, meu amor! – disse, com enorme satisfação.
O cumprimento soou como um tiro no coração de Leandro. Estava angustiado, mas não podia falar. Teria que inventar uma desculpa.
- E agora? - Pensou ele e, em seguida, disparou rapidamente -, Boa noite!
- Tudo bom? Preciso falar algo importante para você.
- Tudo ótimo, e você? Pois diga. – rebateu de forma seca.
- Melhor agora! Tem certeza de que está bem? Você está estranho comigo, não está carinhoso como sempre. Estou preocupada, aconteceu algo?
- Nada amor. Nada com o que se preocupar. Estou muito cansado, o meu dia foi pra lá de agitado aqui na empresa do meu pai. Os artigos plásticos estão a todas, estamos com muitos pedidos atrasados para entregar. Nem saí para almoçar e acabei fazendo hora extra.
- Bom por um lado e ruim por outro. Fico contente por vocês, vocês merecem! Afinal, faz mais de 5 anos que a empresa existe.
- Obrigado! É verdade, merecemos o reconhecimento. Mas o que tem para me dizer?
- Decidi marcar um jantar em minha casa mesmo para nos conhecermos! – exultou. O que você acha de ser no próximo final de semana? Estarei livre para fazer para você umas delícias que eu aprendi!
- Caramba, você já planejou tudo? E para o próximo final de semana? –rebateu, atônito. Desculpe-me, mas não sei se poderei. Você não me consultou.
- Calma, amor. Fiquei tão feliz que meus pais nos apoiam. Pensei que ficaria também. Você diz isso por conta da empresa? Ah, faça um esforço, por favor! Por mim!
- Olhe amor, infelizmente nem tudo pode sair como nós acabamos por pretender em um impulso. Depois nós conversaremos melhor a respeito, ok? Vou tomar um banho, jantar e dormir. Por hoje chega, preciso descansar. Beijos!
- Tudo bem amor. Olha...
Ia falar que não foi impulso, apenas uma ideia, que queria discutir com ele para saber sua opinião e executar o pretendido, mas Leandro nem lhe deu tempo. Despediu-se o mais breve que pode.
Nathália ficou insegura, sem saber o que pensar, tentando entender em quê tinha errado. Era a primeira vez que Leandro se dirigia a ela daquela forma. Nem nos dias em que se sentira mais estressado lhe havia tratado com tanta rispidez. Tamanha fragilidade, passou mesmo a duvidar das palavras carinhosas lançadas em conversas anteriores. Mesmo assim, por um tempo fingiu que nada acontecera, repetindo para si mesma que estava exagerando e que ele tivera problemas na empresa. Apegara-se ao rapaz e queria muito conhecê-lo. Mesmo confusa, esperou até o dia seguinte para falar com ele. Queria acreditar que estaria melhor e que tinha sido verdadeiro com ela.
