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 A Dama de Gelo || Capítulo 16

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Yannikson
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A Dama de Gelo || Capítulo 16 Empty
MensagemAssunto: A Dama de Gelo || Capítulo 16   A Dama de Gelo || Capítulo 16 Empty06.08.13 21:06

No último capítulo de A Dama de Gelo: “E pude sentir seus lábios tocarem minhas bochechas, como ela fazia nas despedidas da clínica. Tão simpática, tão agradável. Apaguei a luz do corredor, perambulei pela casa até chegar ao quarto. Encostei a porta, deitei sobre o travesseiro gelado e me cobri. Não custou muito pra desmaiar na cama e só levantar ás 09h42min do dia seguinte...”.

As batidas na porta foram rudes e sequenciais. Três batidas me convenceram a levantar, colocar meu chinelo de pelo e sair do quarto. Quando abri a porta notei a luminosidade da casa e senti meus olhos serem levemente cegados pelo sol. Cara, há quanto tempo não tinha um sol destes?

Apesar disto o frio foi notório. Tudo bem que eu estava com o ar condicionado ligado em uma temperatura bem quente e confortável, mas também não era necessário o vento ultrapassar as frestas da grande porta dos fundos pra bater direto na minha cara. Se eu acreditasse no que minha mãe dizia certamente estaria todo torto em breve. As batidas na porta pararam.

Chegando à cozinha fui logo tratando de abrir a porta. Meus pés chutaram um envelope no chão e aí entendi que ninguém mais estaria por ali. A embalagem era branca com uma textura detalhada em linhas horizontais. Atrás estava escrito “JUAN DÍAZ”, com letras maiúsculas feitas com uma caneta de cor vermelha.

Fechei a porta, abri o envelope. E mais uma vez minha casa pareceu vazia, sombria e deprimente.
“Missa de 1 mês do falecimento de Henrique Lopes Garcia...”

Esfreguei os olhos, tirei os óculos quadrados e pequenos que eu usava. Não era possível o que eu estava lendo. Aquele era o convite de um mês da morte do meu filho, que sequer tinha nome definido, que sequer eu havia sido chamado para registrar. Não sabia como funcionava isto, mas pra ser feito um ‘evento’ assim, eu deveria ter assinado algum papel, o atestado de óbito, alguma coisa. Mas nada, não soube e nem sabia de nada!

Lavei o rosto, coloquei minha calça jeans preta e um suéter branco. Por cima joguei um casaco azul marinho velhinho que eu tinha, mas que esquentava pra Caramba. Ao mesmo tempo em que eu tinha pressa, pensava em como eu estava fisicamente, em como eu estava mentalmente. Iria até a casa de Izabel cobrar explicações e precisava estar no mínimo bem apresentável para vê-la depois de tudo o que aconteceu. Coloquei o relógio, meus tênis brancos e já ia me esquecendo dos óculos. Como eu poderia ler o envelope pelo menos 10 vezes no caminho pra me conformar do que estava acontecendo se estivesse sem aqueles olhos de vidro?

O tempo me provava que era possível dominar minha vida sem sequer pedir permissão. Momentos angustiantes eram frequentes e gelados, as conversas com Lisppet eternas e otimistas, os momentos de tranquilidade passavam voando e lembranças boas raramente davam as caras por aqui. Já ia fazer um mês desde a morte do meu filho e eu ainda não havia me adaptado a chama-lo de “Henrique”. Por que Iza fez tudo isto sozinha? Por que me ignorou tão friamente da NOSSA vida?

Apertei a campainha da casa dela uma única vez. A velha Lucía apareceu espantada.

- Juan? O que tu fazes por aqui?

- Cadê a Izabel? Que história é esta de Missa de 1 mês de falecimento?

- Quem te falou sobre isto?

E saí procurando por Izabel no piso inferior da casa dos seus pais, até esbarrar em Inácio, o irmão mais velho dela.

- Buenos dias cunhado, tranquilo?

- Tranquilo mesmo tá meu ovo esquerdo. Cadê a tua irmã?

- A Izabel saiu com o pai, está em fase de recuperação ainda. Aliás, tu não estavas internado no hospital desde que tentou se matar? – questionou ofegante.

Ele era irônico e da mesma altura que eu, porém mais forte. O que me surpreendia era o conhecimento dele destes acontecimentos da minha vida. Lucía confirmou ainda mais minha rápida tese de que eles sabiam de tudo.

- Inácio!!!!

- Não me importo se vocês sabem ou não o que aconteceu comigo. – menti. – Porque inventaram esta Missa, porque colocaram nome no meu filho sendo que nós ainda não tínhamos decidido nada até tudo aquilo acontecer!

- Foi tudo muito rápido Juan, sente-se!

- Que horas ela chega?

- A Iza não volta hoje. Recebemos a notícia de que tu havias tentado se matar, de que estava internado no hospital e fazendo terapias. Tivemos que providenciar tudo muito rápido, por isso entendo que tu estejas surpreso. Como ficou sabendo da Missa?

- Não era pra eu saber?

Lucía perdeu a paciência e xingou Inácio.

- Não acredito que tu mandou convite pra ele!

- Ele era o pai da criança, deveria saber.

- Te dissemos que não era pra ti se envolver nisto.

- Não gostava dele, avisei bem a Iza pra ela não se envolver com este lixo. O que aconteceu? Ele ignorou-a, comeu, gostou e depois largou-a a fora, dia após dia! Minha irmã perdeu o filho por causa deste filho da mãe que só usou ela!

- Acalme-se Inácio!

E dei um soco na cara dele. Aquela baixa senhora ruiva não foi suficiente para deter o primeiro e tão pouco o segundo soco. Vendo a cara de fúria de Inácio pensei no que eu estava fazendo. Ele tinha razão em me culpar, eu mesmo me culpo até hoje pelo que aconteceu. Minha reflexão me custou um murro certeiro na boca. E sangrou.

- Meu Deus do céu, parem com isto pelo amor de Deus!!!

Limpei a boca e saí de perto dele. Já havia entendido o necessário.

- Juan, fique para conversarmos!

- Como vocês foram capazes? – e enojado daquelas caras similares ao rosto de Izabel me retirei do local.

Eles deram um nome fictício para o meu filho, ignoraram o fato daquela criança morta ter tido um pai e ainda por cima teria uma missa em memória ao MEU garoto! Madrid parecia gigante para meus passos desnorteados. Por que tudo precisava vir assim à tona?

- Por que não podia ser mais fácil? – questionei a Lisppet no período da tarde.

- Calma Juan! – e me alcançou um chá. – Tu já ficaste assim antes, vai passar.

- Ontem eu te liguei, estava tudo bem.

- Acontece que não estava tudo completamente bem. Tem coisas que ás vezes escondemos embaixo do tapete, mas que uma hora devem ser varridas. Foi exatamente o que aconteceu.

- Eu preferia não saber. Empresta-me um de seus lenços?

E limpei o lábio superior cortado. Estava com os beiços levemente inchados... Aquela mula tinha a mão pesada!

- Espera, eu te ajudo! – E tocou suas mãos frias nas minhas e ficou de pé tocando nos meus lábios. Sua respiração era suave, seu cheiro preciso e seu olhar certeiro!

- Eles sabem que eu tentei me matar. Izabel deve me achar ainda mais fracassado!

- Tu te importas com ela, mostra que tens um bom coração. – e voltou a sentar-se na poltrona à minha frente.

“Tens um bom coração”, foi o que ela disse. Que merda estas palavras bonitas, estas demonstrações de afeto. Resisti a minha fúria interna e baixei a cabeça. Importava-me com Iza mesmo não estando mais com ela e isto de fato era estranho. Tanta coisa me deixava confuso e ao mesmo tempo temido. E lendo meus pensamentos ou interpretando minhas atitudes, a dama de gelo resolveu ser precisa.

- Tu precisas enfrentar teus medos Juan! Teve uma recuperação incrível desde nossa primeira conversa. Tu só conseguias ser negativo, se jogar lá em baixo... Percebes a diferença?

- Tuas falas calmas nem parecem a Lisppet de ontem.

- Fiquei calma depois que tu me ligou, acredita? A vida é assim. E talvez tu só precise desta conversa pra derrubar de frente este empecilho que tua mente transformou. Tu és uma boa pessoa, perdeu o filho e a mulher... mas a vida continua!

- Tu achas que eu deva ir à Missa?

- Não! Busca alguma coisa que te lembre a situação, se permita encontrar o que tens mais medo e em seguida derrube-o! Juan, tu vais conseguir.

- Se eu não soubesse de nada disso ao menos ainda estaria bem...

Ela riu.

- Já ouviu falar na Lei de Murphy?

- Eddie Murphy? – perguntei novamente, pois entendi que ela falava do cara do filme que fala com animais. Só o que faltava para minha manhã ser completamente destruída!

Lisppet me olhou com ternura, segurando o riso pela minha ignorância.

- Edward Murphy foi um capitão das forças aéreas americanas que comprovou consigo mesmo a seguinte tese: “Se alguma coisa pode dar errado, dará. E mais, dará errado da pior maneira, no pior momento e de modo que cause o maior dano possível.”!!!

Ela decorou esta frase e me pegou de jeito. Sua inteligência, sua delicadeza e sua fragilidade me deixava desnorteado, a ponto de sequer pensar mais nos meus problemas.

- Que otimista ele!

- Supondo que foi uma ironia, concordo contigo.

- Então, o que devo fazer?

- Ir à missa será horrível, todos vão te olhar estranho e tu vais se sentir sozinho. É teu filho que se foi, eu sei, mas não vale a pena se martirizar por conta disto. Tua vida é espetacular, não a jogue fora.

- Tudo bem.

- Promete? – neste instante ela comprovou de que ainda tinha medo de que eu tentasse me matar. Eu não ia, não se preocupe.

- Não sou de fazer promessas, desculpe. – e levantei do puff confortável.

- Onde tu vais?

- Vou ver meu filho. Preciso conversar com ele, contar que está tudo bem. Que eu não tenho culpa. Eu não tenho culpa não é mesmo?

- Claro que não! Tu fostes vítima desta história e as máscaras da família dela só caíram pra te mostrar o quão forte tu podes ser! – e não ouvi mais nada.

- Valeu!

E descendo as escadas ouvi A Dama de Gelo falar algo, mas só assenti com a cabeça. Era hora de parar de temer Juan Díaz, pelo menos uma vez na vida! Foda-se o passado, aquela minha atitude repentina era extremamente necessária.
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