Já havia passado das onze horas da noite, meus pais continuavam a discutir suas diferentes opiniões sobre a vida, minha mãe Alice é uma antiga religiosa que defende suas crenças acima de tudo, meu pai Paul é um homem apaixonado pela ciência, ele trabalha em um centro de pesquisa durante o dia e a noite dá algumas palestras em diversas empresas. E exatamente naquela noite, as coisas ultrapassaram os piores limites.
Escondi meus ouvidos em baixo do travesseiro, e mesmo assim me dava medo do jeito que eles se enfrentavam na cozinha, e nenhum deles era capaz de dar o braço a torcer, orgulho é uma coisa típica da nossa família, porém quem sofria as consequências era eu, única filha, mal acabara de completar meus cinco anos, e claro aquilo pra mim seria o fim do mundo, as meninas da minha rua me apelidaram de ' Rafaela a estranha ' pois meus pais eram esquisitos e eu não conseguia fazer amizade com facilidade.
Quando os dois foram dormir, a barulheira cessou , peguei minha bicicleta, ainda com rodinhas laterais, juntei minha boneca favorita, meu ursinho da sorte, coloquei na minha pequena mochila e decidi fugir de casa. Em silêncio sai pela porta da frente, a fechei com cuidado para que não me ouvissem. Pedalei dois quarteirões, a noite era fria de mais, o sereno logo encobriu meu capuz e meu nariz estava uma pedra de gelo. De repente sem perceber derrapei em pedregulho , e acabei caindo , resumindo acabei com a calça rasgada no joelho, o sangue quente escorrendo pela minha canela, e os olhos cheios de lágrimas. Como eu poderia ser tão desastrada? Logo decidi ir empurrando minha bicicleta, assim eu me apoiava sobre ela já que eu não conseguiria pedalar, logo vi que mais pra frente teria uma casinha abandonada, quem sabe poderia ser um abrigo por esta noite. Chegando mais perto reparei que era um velho celeiro que algum dia fizera parte de uma grande fazenda, mas no momento estava aos pedaços , como eu não conseguia mais andar , pois meus joelhos ardiam como se estivessem pegando fogo , decidi me sentar ali do lado de fora mesmo e aproveitar um pedaço que restou do telhado formando uma pequena varanda. Foi o momento mais agradável até ai, quando sentei o gramado estava úmido, agarrei bem forte meus pertences, e esperei que amanhecesse logo. Porém não esperava encontrar mais nada por ali...
- Onde ele está Grace? - A voz masculina ecoou lá de dentro do celeiro, rápido me virei e comecei a espiar pelas frestas da madeira podre - Me diga agora!
- Eu nunca direi isso, não à você! - Ela parecia muito com mamãe, era magra, estatura baixa, um rosto tão pálido, mas ela falava tudo tão calmamente, ele era alto, não magro , nem gordo pelo que pude enxergar, e ao contrário dela, ele estava muito nervoso.
- Como ousa ?
- Deixe que ele viva a vida dele, você já destruiu a mim, deixe que ele faça essa escolha.
- Eu sei o que é melhor! Ele virá comigo! COMIGO! ,entendeu querida?
-Não vou deixar, você não pode....
- Como é? - Ele riu ironicamente alto, claro debochando dela - Você não irá deixar? Pode dar exemplos de como você poderia ser capaz de fazer isso? Grace ... Grace , o que fazer com uma mulher tão teimosa? Logo mais logo menos ele vai saber do que é capaz, e dessa forma vou rastreá-lo. Tão difícil. Mas... você poderia facilitar as coisas.
- Deixe , se ele quiser ele virá atrás de nós, deixe ele fazer essa escolha.
- Ninguém tem escolhas - ele estalou os dedos e rapidamente ela caiu no chão agonizando. - Então Grace, estou fazendo o que nunca fiz por ninguém, eu estou deixando que você faça uma escolha , isso da à você o direito de ser alguém melhor que os outros.
- Desculpe Jen - Ela choramingou , não pude deixar ele machuca-la , mas eu era pequenina, como poderia fazer isso mudar? Corri para a porta a empurrei, os dois pararam a discussão para me olhar , só pude dizer...
-Desculpa. - ... E me sentir apavorada, como eu pude ser capaz disso?
- Me diga garotinha qual seu nome? - O homem era mais alto e mais assustador de perto, e parecia ser muito forte.
- É , meu nome é , Raphaela, se... senhor. - Recuei um passo para trás.
- Não tenha medo, só me ajude a encontrar um menininho, você vem comigo? - Ele estendeu a mão, e a mulher nomeada Grace, sussurrou do chão ''fuja'' , então sai correndo , até chegar na minha bicicleta , juntar minhas coisas dentro da mochila de novo, e dei uma última espiada pela fresta de madeira , a mulher estava sozinha caída no chão aparentemente morta, e de repente o celeiro se incendiou , muito rápido. Só pude pensar '' Meu Deus'', pedalei o mais rápido que consegui, mesmo com meus machucados cheguei logo em casa e deitei em minha cama, e jurei nunca comentar nada do que vira. Ninguém conseguiria acreditar em mim.
Doze anos depois...
Em breve:
Capítulo 1 - A emboscada
'' - Você é um idiota Derick! , como pôde? - Eu gritava sem saber se minha voz sairia
- Me desculpa, eu não sabia que você viria , você detesta festas da escola...''
... Querido diário, nunca pensei que perderia tudo na minha vida em um piscar de olhos, e foi assim, em algumas horas as pessoas que eu mais amava desapareceram da minha vida sem ao menos se despedirem, eu estou perdida... .