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 Pecado Divino || Capítulo 2 Despertar da Solidão

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Alencar Tognon
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MensagemAssunto: Pecado Divino || Capítulo 2 Despertar da Solidão   Pecado Divino || Capítulo 2  Despertar da Solidão Empty17.10.13 14:52


Capítulo 2
Despertar da Solidão


 
 
Marlow.
“As pessoas julgam, pois não sabem o que é procurar refúgio, proteção e consolo nos braços de algum estranho”.
 
 
 
“Alô?”
Graças a Deus, você atendeu!
                                    - Aqui é Marlow, uma hora de prazer que marca uma vida toda. Onde posso te encontrar, delícia?
Aquilo era mecânico, Marlow atendia aos telefonemas e soltava essa mesma frase sem ao menos ouvir a voz de retorno. Aliás, quem poderia telefonar para aquele número se não fosse uma mulher procurando uma diversão extra na calada da noite?
Porém aquela noite e aquele telefonema inusitado lhe trouxe uma grande surpresa. Alguma coisa não caminhava bem do outro lado da linha e ele pode perceber logo no primeiro segundo da chamada.
                                    - Por favor, você tem que me ajudar! – Falava uma voz amarga e desesperada do outro lado da linha.
Era uma voz masculina! Marlow pouquíssimas vezes atendia telefonemas cujos eram feitos por homens, sempre que acontecia, ele recusava. Apesar de tudo, Marlow era uma pessoa que seguia os princípios religiosos, pois para ele já cometia pecado imperdoável demais vendendo seu próprio corpo, e, deitar-se com uma pessoa do mesmo sexo seria algo mais condenável do que as práticas de sua profissão. No fundo mesmo, Marlow sentia nojo.
Sem reação, Marlow decidiu permanecer mudo e continuar ouvindo. Era cedo para tomar suas conclusões, mas estava quase convicto de que se tratava de um depravado que procurava serviços fora do convencional. Ou seja, provavelmente se tratava de um sadomasoquista ou alguém com fetiches parecidos.
                        - Me responda, por favor! Venha até aqui no seminário.
Seminário!? Quer dizer que se tratava de um futuro padre!? Malditos sejam!
                        - Eu sei que você sofre tanto como eu... – Continuava a falar David, que há essa altura já entrava em um desespero crônico muito elevado, sua pressão estava caindo, caindo e caindo.
Sofrer? Palavra certeira de um Sadomasoquismo. A experiência de Marlow não o fazia ouvir e nem sequer entender que se tratava de um caso diferente. Seu cérebro capitava apenas palavras-chaves que lhe serviam de comprovação de uma tese.
                        - Eu sou um seminarista! Não estou fazendo um trote! – Exclamava David que acreditava que Marlow não respondia por que acreditava ser um trote.
“Por favor, eu te imploro, me ajude!”
A cabeça de Marlow fervilhava. Vários pensamentos e lembranças percorreram. Dramático. Um passado um pouco distante lhe veio à tona, e as poucas vezes que isso acontecia era como se uma faca lhe cravasse o peito.
E assim, considerando o que ouviu suficiente, foi levando lentamente o telefone ao gancho, ouvindo de longe as últimas palavras em sussurro daquela pessoa: “Eu e você podemos nos ajudar!”
Fim da ligação.
 
 
 
David.
“Amar os outros é a única salvação individual que conheço: ninguém estará perdido se der amor e às vezes receber amor em troca.” Clarice Lispector.
 
 
Ligação cortada.
David parecia que ia morrer, enxergava em sua frente apenas uma nuvem negra. Uma pressão muito forte invadia sua cabeça, uma dor insuportável, assim se rende ao desespero do sofrimento e vai ao encontro do chão. Sua cabeça bate bruscamente no térreo e isso o fez ficar desacordado por alguns minutos.
Quem acreditaria em um garoto seminarista? Quem nesse mundo acreditaria em tamanha crueldade vinda da “divindade”?
Uma lágrima escorre pelo rosto de David, já não lhe restava forças para levantar e tentar algo diferente, depois de ser desprezado pelo tal que nem sequer ouviu suas palavras, só mesmo um milagre poderia lhe salvar... Ou melhor, só mesmo um milagre poderia levar Marlow até ele.
 
 
 
Marlow.
“Estes com quem vivemos, amamos e devemos conhecer, são os que nos iludem.”  Norman Maclean
 
 
Malditos sejam esses padres e todos da mesma laia!
Exclama alto após desligar o telefone bruscamente. Esse povo é tudo farinha do mesmo saco!
Aquele era um back certeiro, apenas para Marlow. Qualquer garoto que programa em seu lugar sairia com uma pessoa do mesmo sexo por dinheiro, mesmo que não gostasse. Mas, o caso de Marlow era um pouco mais complicado. Devido àquela noite.
Aquela noite.
Não, não, não! Marlow não podia lembrar. Sempre que lembrava sacudia sua cabeça sem parar na tentativa de esquecer definitivamente aquele acontecimento que marcou o resto de sua vida. Naquela noite.
Malditos sejam! Malditos!
Marlow começa a bater sua cabeça freneticamente ao chão. Aquilo era frequente acontecer sempre que se lembrava daqueles acontecimentos tão monstruosos do momento que marcara o resto de sua vida. Enquanto sua cabeça ia contra o chão duro, suas lembranças percorriam por sua mente como se fosse um verdadeiro filme de terror.
De nada adiantava, Marlow começa a percorrer por todo aquele chão sujo em busca de seu consolo, o mesmo que muitas pessoas dessa mesma época encontravam: as drogas. Com uma garrafa de conhaque e cigarros em mãos, começou a se embriagar, começando assim, uma crise existencial.
Uma ligação de um futuro Padre...
“Você e eu podemos nos ajudar...”.
Aquela última frase não saia de sua cabeça. O que será que ele quis dizer com isso? Agora estava em confronto com seus próprios princípios. O presente lhe mandava ir e acreditar na voz do telefone, porém o Passado lhe impedia temendo o que poderia acontecer no Futuro.
 
O Futuro é uma questão de escolha.
Marlow com seu rosto enérgico, soprando uma última burricada de fumaça, joga a bituca de cigarro ao alto, encara aquela face no espelho passando suas mãos em seus longos cabelos hidratadas, tentando arrumar o máximo que podia.
Encarando o reflexo de sua própria imagem, disse a si mesmo:
                        - Eu sempre acreditei na gentileza de estranhos.
Sim, este era o princípio de Marlow. Através de sua experiência, pode vivenciar que as figuras mais conhecidas eram as responsáveis por lhe causar mais dor. A Salvação pode estar nos estranhos. Esse era seu lema, tanto profissional como espiritual, e foi assim que decidiu ir até o seminário, desafiando seu passado misterioso, e acreditar, pelo uma vez, na voz que partia dentro de si.
Os instintos lhe mandavam, e ele obedecia.
 
 
MARIA DAS DORES.
Maria das Dores fecha sua mala e cai no banco dos passageiros do ônibus, aflita. Há dois dias estava viajando com um homem desconhecido que prometia algo muito importante para sua vida.
Ele por sua vez, estava tranquilo lendo os últimos acontecimentos do dia retratados em um jornal. Maria das Dores espia pelo canto do olho aquelas folhas enorme com várias letras que nem sequer conhecia uma delas. Como deseja saber ler. Lamenta-a, ainda observando curiosa, o homem a seu lado que parecia bem atento com um noticiário capa do jornal.
                   - Posso sabe o que tu tanto lê aí nessas folhas? – Pergunta Maria das Dores com a voz alta e seu sotaque nordestino que chamou atenção de todos os presentes no ônibus.
O homem que é interrompido esconde rapidamente em suas costas aquelas folhas que trazia uma reportagem sobre tráfico de crianças do nordeste. Phelipe Camargo tinha ciência do analfabetismo da mulher ao lado, mas mesmo assim decidiu se precaver.
Phelipe Camargo era um recém-formado jornalista com sede de ascensão. Ambicioso, se intrigou desde sua época de faculdade no tráfico de crianças que acontecia no nordeste – principalmente meninas, que eram levadas por pessoas bem intencionados aparentemente, com uma proposta de proporcionar um futuro brilhante aquelas crianças inocentemente levadas, e assim nunca mais se terem notícias.
Aquela mulher ao lado era uma das mães, que possivelmente fora vítima desse tráfico. Porém ainda com a convicção de que seus filhos estão na Capital São Paulo estudando Direito ou Medicina, Phelipe preferiu não comentar o real motivo de estar levando ela consigo para suas investigações. Falar a ela a possibilidade de seus filhos pequenos terem sido traficados para fins sexuais, uma vez que ela estava convicta da ida deles para São Paulo para um futuro brilhante, poderia levar toda sua investigação por água a baixo. Então preferiu continuar alimentando a sede dela de ver seus filhos bem construídos e formados.
                       - Estou lendo uma reportagem sobre médicos e advogados de São Paulo, provavelmente Eliseu e Amélinha estão entre eles.
Maria das Dores estava radiante. Pobrezinha, quando ela descobrir a verdade.
                                - Jura sinhô... Ai Minha Santa Glórinha, nem posso imaginar meus filhos ‘doutor’.
Phelipe preferiu continuar calado ao invés de continuar falando mentiras para aquela pobre nordestina. Por uma lado havia um mínimo de chance de que aquilo poderia ser verdadeiro, mas as evidências cada vez mais mostravam outra coisa. Era quase que certeza que dois, dos onze filhos de Maria das Dores tinham sido traficados há mais de dez anos por um grupo escondido que age para esses fins. E Phelipe tinha a certeza de que iria desvendar tudo isso, fazer uma imensa reportagem, e colocar nas principais capas de todas as revistas e jornais do Brasil, quem dirá internacionalmente.
Era seu objetivo, e nada poderia barrar, nem mesmo as mudanças de rumos de sua investigação. Agora com a reportagem que acabara de ler, os indícios levam que os filhos de Maria das Dores estivessem em outro lugar e não em São Paulo. Provavelmente no Sul do país.
 
 
 
David.
Deitado, David observava as imagens minuciosamente desenhadas no teto daquela sala. Como eram perfeitas. A religião católica transbordava de luxo e beleza, e aquilo era um atrativo e tanto para várias pessoas.
Sem noção de hora, David acreditou que estava no momento de retornar para seu posto e dar o parecer que tudo estaria bem na hora em que os padres e o bispo retornarem para o seminário. As esperanças de David teriam sido todas despedaçadas, e aquilo foi o estopim da certeza que teria que aguentar durante todos os anos de sua vida a farsa que era a igreja católica, pelo menos ali em sua cidade.
Com esforço, sacrificou-se ao levantar, cada movimento fazia sangrar mais e mais suas mãos e pés. Até que aquele barulho lhe fez perder todo o sentido e retornar ao chão. Era um barulho alto que quebrou o silêncio daquela noite. Seria ele?
 
Marlow fechou os olhos bruscamente após lançar aquele pedregulho sobre a janela de vidro situada no alto. Aquele era o único possível acesso para adentrar no seminário, que parecia ligeiramente abandonado aquela noite.
Será que foi trote?
O alto escalão de elegância em arquitetura gótica que pesava sobre aquele seminário não irradiava nem sequer uma luz de dentro. Não teria ninguém, mas algo muito forte dentro do coração de Marlow o fazia persistir e enfrentar seu orgulho correndo o grande risco de adentrar um lugar que servia como moradia à pessoas que lhe causaram tanta dor.
As atitudes de Marlow pareciam inconscientes, e ao mesmo tempo conscientes, uma porque em sã consciência, jamais se atreveria ir à busca de um suposto programa com uma pessoa do mesmo sexo, ainda mais com um futuro padre! Porém, aquelas palavras gravaram em sua mente e não pararam de latejar em sua memória, no fundo Marlow tinha a esperança de conforto, e arriscar não lhe custaria nada.
Marlow pôs-se a pular sobre as paredes laterais tentando alcançar impulso para que suas mãos alcançar a lacuna da janela situada bem no alto, a tal do final do corredor principal do local. Por mais que suas mãos cortassem com o pouco de vidro que restou nas laterais do pequeno quadrante da janela, Marlow ousou mais uma vez, mais uma e mais uma, até que... Finalmente!
Com bastante dificuldade, utilizando o maior impulso de força que restava no corpo, se jogou como uma pedra atacada de mau gosto por aquela janela. Talvez se continuasse minuciosamente para não sofrer nenhuma lesão sofreria mais com os cortes dos vidros que estavam envoltos de todo aquele quadrante. Suas costas, barriga, braços e coxas todas cortadas, mas a dor que sentiu parecia nem doer. Alias, nada mais lhe doía, a não ser as mágoas envoltas de seu coração.
Se David antes estava assustado com os barulhos da janela, agora pareceu mais que estava no polo-norte com o frio que sentiu por dentro. Parecia mais que teria engolido um saco de gelo recém-tirado do 0° grau. Óh céus, Pronto, se for bandido já estou estuprado e morto! Pensou David que sempre pensava na pior hipótese como de costume humano. Aquele barulho de um corpo humano que mais pareceu um prédio desmoronando não fez em nenhum momento pensar que era o suposto que acabou de ligar há alguns longos minutos atrás.
Enquanto isso, no chão, Marlow resmungava para si mesmo. Como posso ter tanto azar!? Ao pular da janela caiu sobre uma mesinha que continha vasos de flores das quais foram em direção a suas costas, além dos vidros que rolaram junto dele.
Marlow levantou a cabeça, e apesar do escuro que rodeava por todo aquele lugar, pode reparar uma coisa: Pulso direito cortado, do qual sangrava periodicamente. Desgraça! Em anos de profissão, Marlow jamais passou por uma situação daquelas, embora algumas mulheres pediam para ele realizar algumas fantasias mais bizarras, como pular seu muro, fantasiar-se de bombeiro, fingir de Tarzan, entre outros, e aquilo, além de ter uma grande probabilidade de ser um trote, estava sofrendo de verdade. Ora bolas eu não sou um sadomasoquista!
Marlow estava quase convicto de que aquilo tinha sido um trote, e voltaria para casa sem receber um tostão sequer, porém em meio toda aquela escuridão, uma pequena luz vinha da fresta embaixo da segunda porta da lateral direita do corredor. Teria alguém lá?
Marlow foi se arrastando, por cansaço e outra por precaução, vai que um perigoso padre apareça e faça novamente... Bom, é melhor esquecer, Marlow ainda tinha consigo algo dentro de si que o fizesse persistir naquela loucura toda.
Arrastou-se com dificuldade até chegar a frente à porta, onde pode espiar pelo vácuo abaixo a luz que se originara de uma lareira com poucas chamas, aquilo era o sinal que precisava para ter a certeza de que a ligação que recebera antes tinha partido daquele lugar, pois um objeto que conseguiu enxergar com a pouca visão era um telefone dos mais modernos que existia na época.
E agora? Entrou ou não entro?
Marlow tentou pela maçaneta e a porta estava trancada. Será mesmo que tenho que arrombar essa porta? Marlow por um instante recordou-se de um fetiche que Marilu – sua principal cliente - pediu há algum tempo atrás em seu quarto, Marlow com todas essas experiências, arrombar a porta virou de praxe. Cada coisa que faço pra receber o meu pouco dinheiro.
Com o ombro endurecido e virado de lado, voltou-se contra a porta com rispidez, uma duas, e pela terceira vez estava dentro daquele local. Sua primeira visão o fez dilatar as pupilas. Aquilo cheirava tristeza, e a percepção que pode ter o levou a concepção de que julgara errado... Muito errado.
 
Ai Jesus, me abençoe, quem será?
David a essa altura já tinha imaginado que o Bispo Francisco mandara um assassino de aluguel assassinar o pobre David e fazer tudo parecer um assalto, deixando nenhum vestígio de homicídio. Sim, na hora do pânico, as piores cenas de filmes de terror nos ronda, e com David não eram diferentes, pelo contrário era muito mais latente do que de qualquer ser humano.
Óh meu Deus, a porta começou a ser arrombada. Adeus Vida, Adeus Mundo!...
E do meio da escuridão, uma Luz. Aqueles olhos... Aquela pessoa.
A sensação que David sentiu por dentro era inexplicável. Era como se um resgate aparecesse após dias perdido em uma ilha deserta. Aquela figura em sua frente era do jeitinho que imaginava.
Aqueles olhos me pediam socorro, e juntos poderíamos nos salvar.
Eu sinto.
Impressionado e incrédulo, David com seus olhos brilhando de emoção, disse como se uma figura divina estivesse em sua frente.
                                   - Você veio.
Marlow demora em raciocinar toda aquela cena que vira. Nunca imaginou que alguém poderia passar por uma situação daquelas, talvez similar com a de sua vivência.
Mas, não, as pessoas sempre acham que os outros nunca passam pelo que você passou. Aquilo só pode ser um fetiche dos mais bizarros que já vivenciou com as mulheres insanas que o contratava. Enfim, Marlow não podia voltar atrás.
Ajoelhou tem que rezar.
                        - Olá, vamos começar, então...
Fala Marlow desabotoando o zíper do short que usava rapidamente ficando a mostra sua cueca vermelha bastante chamativa. Só não continuou devido a fala e a feição apresentada pela figura amarrada no chão em sua frente.
 
David quase não acreditou quando Marlow adentrou aquela porta como um super-herói, proporcionando a hipótese de ele lhe salvar. Mas em ocasião alguma imaginaria um comportamento daqueles.
Como assim!? Ele esta tirando a roupa em minha frente!
            ‘           - Pare, por favor... Não te chamei aqui para isso.
Aquilo serviu como uma desilusão. David enfim caiu em si e percebeu toda a situação que arrumou no desespero ao ligar para o rapaz. É evidente que ele iria achar que era um depravado sadomasoquista. É lógico.
Na verdade, David não tinha ideia de como funcionava o comércio do sexo, ainda mais se tratando de pessoas do sexo masculino. As revistas e nem os livros lhe deram o suporte para isso, portanto, pode perceber que Marlow havia entendido outra coisa totalmente diferente que ele pedia ao telefone.
                        - Como você não me chamou pra isso? Você por acaso não sabe o que é um garoto de programa? – Pergunta Marlow ríspido como uma primeira vez que recebeu um ‘não’ de um possível cliente.
                        - Eu te liguei aqui, por outro motivo. – Falou David com suas palavras doces e compreensivas do homem triste e amargurado que existia por dentro de todos aqueles músculos e beleza bastante atrofiada.
                        - Já sei. Você quer uma dancinha sensual antes... – Marlow tentou retornar ao seu posto profissional iniciando uma dança infalível que todas suasclientes amavam.
David não se importando com os poucos segundos do ritmo meio desordenado de Marlow, continuou:
                        - Eu te liguei porque eu sei o quanto você sofre, eu sei o quanto você queria viver de outra maneira, eu te liguei porque te entendo.
Marlow após ter ouvido a última palavra de David, parou rapidamente sua dança e o encarou incrédulo.
                        - O que você está dizendo? Você é louco!? – A cada fala Marlow ficava mais alterado. Todas essas turbulências que estavam acontecendo o deixou transtornado.
                        - Eu pensei que você tivesse me entendido no telefone.
                        - Você só pode estar de brincadeira comigo... Eu sou gostoso, olhe – Marlow passa a mão em seu abdômen levantando a camiseta um pouco rasgada insinuando-se como fazia diversas vezes no seu dia a dia. – Não é possível que você me ligasse pra BATER UM PAPO, isso é fora do comum. Você me deseja, confesse!
David nunca imaginou que ouviria aquelas palavras. Eu sequer pensei em algo sexual. Eu quero sua ajuda. David Jamais vivenciou uma situação de potencial sexual, aliás, nunca sentiu vontade – talvez esse fosse o único item que condizia com sua futura formação de Padre no celibato.
                        - Eu Sei que você tem muito mais a oferecer, Marlow. – Já com os olhos lagrimejando David pronuncia suas palavras com veemência – Como você se sente? Um objeto? Um instrumento descartável? Eu sei que você tem muito mais a oferecer do que simples horas de prazer e sexo!
As palavras de David entravam nos ouvidos de Marlow como se fossem batidas de martelos que refletia em seu peito. Aqui era verdade, a profundidade dos sentimentos deles era real, Marlow sentia.
Mas isso não pode ser verdade. Ele não pode ter me ligado para falar isso!?
                        - Eu não acredito em você. Vocês são tudo farinha do mesmo saco, mesmo. – Fala Marlow indignado já vestindo a camisa e o short para ir embora o mais rápido possível.
                        - Por que você diz isso? Você já sofreu na mão da divindade, não é? Não fala por que ninguém acreditaria na palavra de prostituto, é isso?
Marlow estava quase saindo porta a fora, quando ouve as palavras de David que foram certeiras. Será que ele tem bola de cristal? David praticamente descobrira o que mais lhe atormentava na alma.
Marlow ficou parado por alguns instantes de costas, e virou-se para David já emocionado.
                        - Você existe? – Aquela pergunta saiu, embora Marlow de fato não quisesse. Deixou se levar pela emoção de alguém que jamais imaginaria o entender um dia.
                        - Nós existimos, e juntos poderíamos fazer a diferença. Fazer justiça. Você precisa me ajudar. – David pronuncia estendendo as mãos amarradas suplicando ajuda.
Marlow não fala nada. Permanece reflexivo. Os pulsos estendidos em sua direção com pingos de sangue escorrendo pelas cordas e formando pequenos círculos no piso, o fez refletir ainda mais. Havia uma ligação entre os dois. O pulso de Marlow também sangrava graças aos vidros da janela que quebrou para adentrar no seminário, e aquilo o levou mais além.
Aquele símbolo mostrou a Marlow o quanto os dois sangravam por dentro, aquela tinta vermelha que saia de seus pulsos não significava absolutamente nada, por que logo cicatrizaria, mas as chagas encontradas internamente só belas palavras como aquelas pronunciadas por aquele garoto poderia ser amenizadas.
 
David, então com dificuldade se arrasta para ficar mais próximo de Marlow.
Marlow prontamente vai até ele sem dizer mais uma palavra sequer. Tenta desamarrar as cordas, mas não adiantou, um barulho alto nos portões o fizeram estremecer. Era o anuncio da volta do Bispo Francisco, Padres e seminaristas.
                        - Ai meu Deus eles chegaram!
Marlow sem dizer nada, levanta-se bruscamente tentando ir embora o mais rápido possível. David com dificuldade o puxa com os poucos movimentos das mãos, trazendo pelo impulso seus braços perto do dele. Desta forma, como se estivesse escrito em alguma história fantástica, o local de seu pulso cortado une-se com o de David.
Foi como se um pacto de sangue ocorresse naquele momento.
                        - Promete que voltará...
Marlow nem pode responder, a única coisa que fez foi olhar fixamente para os olhos do menino adivinho. Aquilo já fora resposta o bastante para David.
Marlow pula a janela rapidamente deixando mais cacos ao chão no corredor. Ninguém poderia vê-lo... Não eles!
David neste momento tinha uma certeza. Ele vai voltar. Agora os sangues um do outro percorrem por suas veias. Aquele laço que acabara de formar poderia não significar nada no momento, mas aquilo marcaria o resto de suas vidas.
 
Porém... Havia obstáculos para os dois se verem novamente. Bispo Francisco estava posicionado na lateral do terreno do seminário que dava acesso à floresta escura esperando ansiosamente pela figura invasora do seminário.
Assim, Marlow e Francisco estavam frente a frente. Para Marlow: um verdadeiro filme de terror.
                  - Pensei que você nunca mais teria a coragem de retornar à um seminário outra vez, querido Marlow...
 
 

 
CONTINUA/
“Sem necessidade de rezar, sem necessidade de falar, agora estou no fundo [...] 
Os braços do oceano estão me carregando. Toda essa devoção e 
o peso do paraíso de um pecador como eu estão avançando sobre mim.”
Florence and the Machine – Never Let me Go.
 
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