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 A SANTA E O BRUXO || PRÓLOGO

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Idade : 48
Cidade : Várzea Da Palma, Minas Gerais, Brazil

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MensagemAssunto: A SANTA E O BRUXO || PRÓLOGO   A SANTA E O BRUXO || PRÓLOGO Empty22.04.13 14:55

A Barra do Rio das Velhas teve uma desagradável surpresa naquela manhã quente de 1768, quando o menino Juquinha ia pescar nas margens do entrocamento, e que para isso acordou bem cedo. Ele gostava de ficar ali na margem dos rios Velhas e São Francisco, bem perto da inacabada igreja de Pedras, denominada Igreja do Bom Jesus de Matozinhos. Dando a volta na Igreja ele teve uma visão dantesca, tal como nunca se havia visto naquelas paragens, por se tratar de um lugar calmo, a despeito dos índios e dos cangaceiros, que vez por outra perturbam a paz dos moradores. Ao lado da igreja, havia um cemitério, construído pelos Jesuítas antes de eles deixarem aquelas terras. Um homem e uma mulher haviam sido amarrados a duas árvores. Estrangulados. Mortos . O homem, não havia quem realmente pudesse chorar a sua morte, visto tratar-se de um estrangeiro, que estava em Barra fazendo sabe-se-lá-o-que. Mas a moça, uma donzela. Mais do que isso: a donzela mais querida, mais bonita, mais amada de Barra do Rio das Velhas. Os corpos amarrados bem fortemente, esponjavam as carnes para fora e estrangulavam seus pescoços, o que com certeza teria sido a causa das mortes. Eles foram também esfaqueados, e havia muito sangue no chão.
A criança, ao ver a cena, primeiro teve ânsias de vômito e vomitou até não agüentar mais. E depois saiu correndo, chamando dona Conceça, ou Conceição – pois este era seu verdadeiro nome – por ser mãe da donzela morta. Seu pai, Malheiros, morrera um ano antes, com uma tristeza tão profunda, que lhe consumiu as energias. Igualmente, foi com Jesuíno, o velho, que também morreu de tristeza, por um motivo tão misterioso, que um ano depois, ainda intriga toda a pequena comunidade.

JUQUINHA - Dona Conceça! Vem ver, dona Conceça. Aconteceu uma “disgraceira”!

Dona Conceça largou a roupa que ajudava a negra Lindóia estender no varal, e saiu correndo para ver de que se tratava. Ela levou o menino pAra cozinha e queria lhe dar um gole d’água, pAra que ele pudesse se recuperar, mas aflito como estava, não quis saber do mimo.

JUQUINHA - Vamo, dona Conceça! Lá na igreja…!
CONCEÇA - O quê que aconteceu na igreja, “minino”?
JUQUINHA - Mariana… e o Bruxo!
CONCEÇA - O que?

Nesse instante, Leôncio, o jagunço da casa, já se armou com a sua garrucha e colocou um facão na cintura.

LEÔNCIO –Se aquele desgraçado fez mal para menina, eu mato!
JUQUINHA – É pior do que isso, seu Leôncio.
CONCEÇA – Ô, minha Nossa Senhora! O que pode ser pior do que isso, meu filho?

O menino respirou fundo antes de puxar Conceça pelo braço.
Já dentro da Igreja, diante da visão terrível, Conceça gritou com todas as forças dos seus pulmões, e caiu desmaiada.
Leôncio chamou seus comandados, todos já montados em seus cavalos, e armados até os dentes.
LEÔNCIO –Vasculhem toda a região. Qualquer um suspeito, ocês tragam para cá, que nós vamos tirar isso a limpo. –Depois respirou fundo. –Eu vou descobrir quem fez isso com minha menina.

CINCO ANOS ANTES

Tempestade em alto mar. A escuna seguia para a França, mas estava sendo seguida por piratas, que já estavam alcançando. O capitão já conseguia ver o navio de bandeira com caveira e ossos se aproximar. Eles não queriam ouro, nem tabaco. Queriam a preciosa carga que eles transportavam. Uma carga pequena mas de imenso valor. O próprio Capitão Pallermo não teve coragem de olhar dentro do Baú. Era um baú entalhado em ouro, com rosas em alto relevo, e no alto da tampa, uma cruz, tento também uma rosa ao meio. Um símbolo muito conhecido na França. Rosacruz. Pallermo ganhou muito dinheiro para levar o objeto à França, mas já estava começando a se arrepender por isso. Avisado por um mensageiro, que piratas queriam o baú, ele partiu antes do combinado, tendo que deixar para trás muitos homens da tripulação, que haviam seguido para o interior, prometendo estar no cais em cinco dias. Metade da tripulação.
Pallermo ouviu o estrondo do canhão, juntamente com os trovões que ribombavam assustadoramente. A chuva era tão densa que atrapalhava a visão, e isso era o pior, pois eles somente viam uma tênue luz vindo do navio pirata, que provavelmente se originava na cabina do capitão. Provavelmente um lampião. As ondas balançavam a escuna e a impressão que se tinha é que ela ia virar a qualquer minuto.

PALLERMO – Eu fiz um compromisso de proteger esse baú, e eu vou proteger. Imediato, você toma conta do navio, eu vou pegar um bote, e sairei dele pelo outro lado para ganhar tempo.
IMEDIATO – Mas capitão, a tempestade vai matá-lo.
PALLERMO – Se a tempestade não me matar, os piratas o farão. Vamos, assuma o timão.

O capitão baixou o bote e desceu a ele segurando o pequeno e pesado baú. E foi remando com todas as suas forças que ele conseguiu se afastar do navio. Ele viu com tristeza a alguns quilômetros, o navio que lhe serviu de morada por vinte anos, ir a pique em poucos minutos. Provavelmente os piratas acharam que o baú afundara junto com ele. Mas agora, Pallermo estava à deriva, sem direção, sem nenhum instrumento de navegação, e não sabia para onde ir. Era preciso que a chuva acabasse, para que ele pudesse se orientar pelas estrelas. E foi que em dois dias à deriva, ele conseguiu ver a margem do que parecia ser uma ilha.

PALLERMO – Graças a Deus! Estou salvo!

TRÊS ANOS DEPOIS

Eram dois amigos que todos os dias percorriam aquelas terras, levando seu gado para uma pastagem perto da região de Porteiras. Habitavam a assim chamada Barra do Rio das Velhas. Um pequeno povoado, ainda em fase inicial, formado, segundo alguns pela bandeira de Fernão Dias, nos dias da exploração do ouro. Fazia uns poucos anos que a Bandeira deixou o local, mas o que a lenda reza é que em algum lugar ainda há muito ouro, e que o próprio Fernão Dias Paes Leme teria sido enterrado por ali.. Os portugueses pegaram todo ouro dessas terras, e tudo o que se tenta conseguir aqui, não passa de ilusão.
De volta aos dois amigos, eram sócios em um considerável rebanho, e todos os dias, iam e voltavam, levando seus bois para uma pastagem mais verde perto das Porteiras, e iam conversando sobre os mais diversos assuntos. Um deles, Jesuíno Teobaldo, era um homem feliz, pois apesar de não ter tido educação, conseguiu através dos seus bois, mandar seu filho para estudar no Rio de Janeiro, e agora, não é que o danado foi parar lá “pras oropa”? O único medo de Jesuíno, é que dizem que lá na França estavam tendo umas idéias atravessas e que um monte de jovem sem o que fazer, queriam depor o rei. Bem, o filho de Jesuíno, o Jesuininho, não era nenhum revolucionário, mas idealista como era, bem podia se meter em confusão.
Jesuíno era neto de holandês. Era alto e tinha o cabelo meio acobreado, mais para o vermelho do que para o amarelo. Tinha um pouco de sarda no rosto, disfarçada pelo queimado do sol.
O outro, João Malheiros. Seu bisavô era português. Malheiros usou o pouco ouro que seu bisavô deixou para seu avô, que deixou para seu pai, que deixou para ele, para comprar uma pequena propriedade na Barra do Rio das Velhas. O problema ali eram os índios. Cariris, que vieram do Nordeste. Esses índios, muito ferozes, foram combatidos pelos bandeirantes quando estiveram aqui, mas sobraram muitos, e eles formaram pequenas aldeias aqui e ali, e constantemente estavam em guerra com os fazendeiros da região. A Barra era uma vila próspera, mas os moradores viviam temendo que os índios um dia viessem a invadir e matar todo mundo. Outro problema eram os cangaceiros. Estes vieram do sul da Bahia, atraídos pelo ouro e pela prosperidade dos fazendeiros. Nunca se sabe de onde pode surgir um cangaceiro. Eles se projetam inesperadamente na estrada, e quando o viajante nota, já está cercado, e se ao se mover, leva uma bala certeira na cabeça. E olha: eles são bons nisso.
Jesuíno e Malheiros, seguiam todos os dias por aquelas paragens, e enquanto andavam por um trajeto que levava pelo menos umas duas horas, eles gostavam de contar vantagens sobre seus filhos: em como Jesuinho era um brilhante rapaz, e em como a Santinha era uma maravilha de moça. Ela estava prometida em casamento a ele, desde a mais tenra idade. Os pais eram amigos inseparáveis desde a infância. Ambos nasceram na vila, quando era apenas um lugarejo de algumas casinhas aqui e ali, formadas pelos tropeiros e pelos barqueiros que paravam no porto para descansar.. Mariana Malheiros era a Santinha. Tinha apenas 15 anos e já era uma menina tão bela, que os demais fazendeiros viviam cercando Malheiros de favores, para que ele permitisse que a sua filha se casasse com os respectivos filhos. Mas Malheiros queria mesmo que Mariana se casasse era com Jesuininho. Este estava estudando na Europa. Ia ser doutor. O primeiro advogado da família, desde os desbravadores que vieram da Holanda.
Jesuíno e Malheiros iam pela estrada, fazendo planos para o casamento dos seus filhos, até chegarem ao local onde o gado ia pastar. Ficavam ali o dia todo, e ao entardecer, antes da penumbra, recolhiam todo o gado, e retornavam pelo estradão empoeirado. Mas aquele dia foi atípico. O cavalo de Jesuíno se assustou com uma jararaca e começou a pular violentamente. Sem pode se controlar, Jesuíno pulou, para evitar uma queda descontrolada. E ao projetar-se no chão caiu com o rosto perto de uma coisa curiosa.

MALHEIROS - Ocê tá bem, Jesuíno?
JESUÍNO - Tô bão. Se preocupe não. Foi só um susto.
MALHEIROS - Temos que matar a cobra, porque se ela fugiu ferida, ela vai voltar e esperar a gente passar aqui de novo.
JESUÍNO Bobage. Espere um pouco, tem um negócio aqui.
MALHEIROS - O que é?
JESUÍNO - Apea pra ocê ver…

Era um cabo de espada. O final do cabo tinha a forma de um leão. E apesar de estar enterrada, parece, há bastante tempo, ela reluzia. Não estava oxidado. Era feito de prata.

JESUÍNO - Parece ser uma espada, Malhêro, e pelo o cabo, é de prata. Deve valer uns bão réis.

Malheiros pegou uma pequena pá que sempre trazia consigo e começou a cavar freneticamente ao redor da espada, mas havia muito mais que uma espada. O buraco foi ficando mais fundo, mais largo e mais comprido. A espada estava em cima de outra coisa. Um baú. Um baú revestido ouro com entalhes de rosas em alto relevo. Sobre a tampa, o entalhe era familiar. Uma rosa sobre uma cruz. Ainda com a pá, Malheiros começou a golpear a tranca para abrir o misterioso objeto, e depois de certo esforço, o cadeado se arrebentou. O que estava lá dentro, causou a ambos um terror indescritível, e marcou o primeiro dia da inimizade que durou até a morte de ambos.

Fim do prólogo
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