- Citação :
“Se sou uma pessoa má, você não gosta de mim... Bem, eu acho que vou fazer do meu próprio jeito. Isso é um circulo, um ciclo vicioso (...) Onde está seu martelo? Seu júri? Qual é o meu delito dessa vez? Você não é um juiz, mas se vai me julgar, bem, sentencie-me a outra vida”.
Inocente.
- Bom trabalho, Valdez.
Ao que parece, o mundo da lei era acostumado a chamar o outro – que não era próximo seu – pelo sobrenome. Maldito costume vindo da faculdade. Mas, por um lado, eu ate gostava. Dava mais formalidade.
- Quando não?
Foi uma resposta arrogante, assim como todas que eu dava após ganhar qualquer causa, e algum advogado vir me cumprimentar. Possivelmente, todos eles me achavam arrogante.
- Muito obrigado, Srta. Catarina. Eu não tenho nem formas de lhe agradecer.
- Não me agradeça, sorria pelo fato da sorte estar ao seu lado, e o seu pai ser amigo de infância da minha mãe, foi apenas por isso que lhe defendi. Apenas.
É, possivelmente meus clientes também me achavam um pouco arrogante.
- Boa tarde, dona Catarina.
- Boa tarde, Patrícia.
- O Felipe lhe espera em sua sala.
Ela me deu um sorriso de canto de boca enquanto corria para fazer o meu café rotineiro.
- Ao que devo a honra, Lipe?
- Preciso de um motivo para ver a minha melhor amiga?
- De verdade, não. – sorri, cumprimentando-o com um leve abraço e depois lhe ofereci um cigarro, obviamente negado – Se importa?
- Sim, e muito. Sabe que odeio esse seu habito.
- Ok, tudo bem. – revirei os olhos, guardando o maço dentro da primeira gaveta.
- Encontrei a Patrícia muito sorridente assim que cheguei, a senhorita tem algo a ver com isso?
- Nem meu pai fala assim comigo, Felipe. E se ir para a cama comigo novamente a faz feliz, sim, tenho muito a ver.
- Eu não entendo porque você fica com ela. – ele encostou-se na cadeira – Na verdade, não entendo nem porque fica com mulheres, para falar a verdade. Você não era assim, isso começou do nada.
- Isso é preconceito, Felipe? – arqueei uma sobrancelha.
- É claro que não. Só não entendo. – ele aproximou-se um pouco, me encarando.
- Simplesmente enjoei de homens. – dei com os ombros – Mulheres são mais... Reais. E menos traiçoeiras.
- Então acha que nunca voltará a ficar com homens?
Ri um tanto baixo.
- Se algum dia me ouvir dizer que estou interessada em algum homem, pode me internar.
- Hm. – uniu as sobrancelhas – Mas, ainda assim, não sei porque você fica com ela.
- Por não ter coisas melhores pra fazer. – dei os ombros – Sem contar que ela faz coisas melhores do que apenas servir cafezinhos e atender as minhas ligações.
- Você é terrível.
Ele mal terminou de pronunciar a ultima palavra, até ouvirmos batidas na porta.
- Entre.
- Com licença. – ela deu passos lentos, graças à saia curta e eu acompanhei suas pernas com o olhar – Hm, para a senhora, com açúcar. – ela colocou a xícara em minha frente – e para o senhor, apenas adoçante. – entregou ao Felipe.
- Errado! – sorri, trocando as xícaras – Não se espante se for demitida em breve. – pisquei, vendo o olhar assustado dela, e logo em seguida as pernas bambas se guiarem pra fora da minha sala.
- Patrícia! – ele foi rápido, impedindo que ela saísse da sala. – Não se preocupe, você acertou. – ele sorriu, trocando novamente as xícaras e por um momento pensei ouvir um suspiro de alivio da parte dela, antes de pedir novamente para se retirar da sala. – Você deveria parar de ser assim.
Olhou-me com certa repreensão e eu sorri.
- Ah, por favor, não existe nada melhor do que o olhar amedrontado deles ao acharem que estão com a corda no pescoço. – dei um gole no café – E pare de agir como se fosse o meu pai!
- Alguém tem que agir como ele! É disso que você precisa, do seu pai, pra te ensinar valores.
- Meu pai não tem valores. – pisquei, dando outro gole no café e ele suspirou, levemente vencido.
- Talvez você não o tenha considerado um bom pai, e aprendeu os poucos valores dele, por isso que é assim.
- Não coloque a culpa no velho. Eu nasci assim mesmo. – comentei e ele não se aguentou pelo meu comentário, dando um leve sorriso, esquecendo completamente a bronca que estava me dando – Mas para que falar dos meus valores mesmo? Com tantas coisas melhores... Vamos falar de coisas melhores.
- Tipo?
- Hm, tipo a sua namorada. – dei um sorriso safado para ele, que logo fechou a cara. – Estou brincando, senhor ciúmes. A Angélica pode até ter uma queda por mim, mas você a baba demais para ela te deixar.
- Catarina!
- Você é péssimo com brincadeiras, sabia? Por favor, ela é minha prima, quase uma irmã para mim, só quero saber como ela está.
- Está muito bem, obrigado.
- Só isso?
- O que mais você quer saber?
- Hm, qual era a cor da calcinha dela hoje pela manhã?
Ele se levantou bruscamente da cadeira, quase derramando o café que estava em suas mãos.
- Você hoje está passando todos os limites. – me respondeu rude.
- E você hoje está muito estressado. Vamos, chega de dar uma de machão, senta ai e pare também com essa cena. Você sabe muito bem que tirando a minha mãe, não há outra mulher do mundo que eu respeite tanto quanto a Angélica. – respondi rude da mesma maneira.
Ele hesitou, porém me obedeceu. Sentou novamente e arrumou a xícara, mas dessa vez ficou calado. Suspirei, revirando os olhos.
- Você está esperando que eu peça desculpas, certo?
- Correto. A senhora seria capaz de um ato tão humano?
- Desculpe, Felipe. Quer que eu te beije os pés agora?
- Não, não precisa. Ouvir um “desculpa” da boca de Catarina Valdez já é demais, principalmente para um cara tão simples como eu.
- Você está mesmo insuportável hoje, sabia?
- Claro.
Foi a minha vez de ficar em silencio. Angélica e Felipe se amavam tanto, que tinha dias que eu achava que a TPM dela penetrava ele, tornando-o igualmente insuportável.
- Se você não se importa, Catarina, passei aqui só para ver como você está. Agora preciso ir, tenho uma paciente em 20 minutos, e digamos que adolescentes não gostam de esperar.
- Não é que elas odeiem esperar, Lipe, elas apenas gostam de ver o psicólogo mais gato da face da terra. – brinquei, e ele finalmente deu uma risada, levantando logo em seguida.
- Sempre desconfiei disso.
- Eu sempre tive certeza, a Angélica deveria tomar cuidado com essas meninas de 15 anos.